Sábado, 8 de Janeiro de 2011
O malabarista e o artista do costume...

 

Paulo Cunha irradiava felicidade, fazendo malabarismos com um emblema do Benfica, mantendo-o a girar continuamente na ponta do seu dedo indicador, como se de uma bola de basquetebol se tratasse. O momento justificava a felicidade, pois o Vitória tinha eliminado o Benfica, da Taça de Portugal, no seu próprio reduto. Este momento de puro deleite, foi então bruscamente interrompido pelo estrondo da porta do pavilhão que se fechava violentamente atrás do vulto que agora corria na sua direcção. Era Emílio Macedo que seguramente fugia de alguém. Esbaforido e apavorado, escondeu-se atrás de Paulo Cunha.

 

Paulo CunhaEntão, Presidente? Parece que viu o diabo.

Emílio Macedo – É pá, são estes gajos. Estão furiosos. Querem, portanto, obrigar-me a falar. A queixar-me das arbitragens, dos presidentes adversários, de tudo e mais alguma coisa – disse o Presidente do Vitória, ainda a tremer.

PC – E não têm razão?

EM – Ter, efectivamente até têm, mas o problema não é esse. O problema é que eu não posso, percebes? Eu tenho portanto um negócio para gerir…

PC – Não percebi!...

Foi nesta altura que Milo se apercebeu que a camisola que o Paulo trazia vestida era do Vitória. Não o reconhecendo como atleta do clube, e pensando tratar-se de mais um sócio em fúria, a sua voz que voltava a ficar trémula já quase nem se ouvia…

EM – Mas, ó senhor associado, eu já disse aos senhores que não posso falar…

PC – Calma, Presidente. Sou eu, o Paulo Cunha. Sou jogador do Vitória de…

Desconfiado, Milo disse…

EM – Jogador? Mas eu conheço todos os jogadores de futebol, e tu não…

PC – Pois, mas eu sou do basquetebol…

EM – Do basquetebol? – perguntou ainda desconfiadoAh pois, já nem me lembrava, mas nós efectivamente também temos uma equipa de basquetebol. Portanto tu então deves ser mais um gajo daquela tropa do Fernando Sá que efectivamente tem a mania de me lixar a vida, sempre a ganhar ao Benfica…

PC – É verdade! Somos um espectáculo, não somos?

EM – Espectáculo? – Milo estava agora visivelmente irritado – Portanto, vocês dão-me é efectivamente cabo do negócio. Eu tenho portanto um negócio para gerir, sabes? E os clientes do meu hotel não és tu, nem o Fernando Sá, e muito menos os sócios do Vitória. Eu já fêz muita coisa na vida, e a vida ensinou-me que para que nós tênhamos sucesso, temos de efectivamente dar-nos bem com toda a gente, e aguentar calados mesmo que sêjamos bojardados, nós ou o Vitória. E depois, portanto, ainda temos os protocóis, e o Vitória é um clube no qual sempre soube respeitar portanto esses protocóis…

PC – Não estou a perceber. Mas então o senhor não se dói pelo Vitória? O seu lema, nas últimas eleições, não era “Sentimos Vitória”?

EM – Claro!... E efectivamente, sentimos mesmo… mas em silêncio. Em pura reflexão. Numa atitude, portanto, muito Chen…

PC – Não é Chen, Presidente. É Zen. Chen é o circo…

EM – Eu dou-te o circo. Não sou eu que efectivamente ando para aqui armado, portanto, em malabarista…

Só nesta altura é que Milo reparou que aquilo que rodava em cima do dedo de Paulo Cunha não era uma bola…

EM – Ouve lá, mas o que é que é isso? perguntou, com a voz novamente trémula.

PC – São despojos de guerra. Conquistei este emblema no pavilhão da Luz, ao eliminar o Benfica da Taça de Portugal – completou, orgulhoso.

EM – O quê??? Outra vez??? É pá, é o que eu digo: vocês passam a vida efectivamente a lixar-me a vida. E agora? O que é que vou dizer ao meu amigo Luís Filipe? Logo agora que estávamos tão bem. Tínhamos ficado portanto tão amigos desde que lhe fiquei com aquele emplastro do Jorge Ribeiro. Até já me deixava tratá-lo por tu…

O lamento de Milo foi nesta altura interrompido pelo toque do seu telemóvel. Era Luís Filipe Vieira, que vociferava irritadíssimo…

Luís Filipe Vieira – Ó Hercílio, vocês andam a brincar comigo? Hum, hum?...

EM – O meu nome é Emílio, senhor Vieira. Mas os amigos tratam-me por Milo…

LFV – Eu quero lá saber disso! O que eu quero saber é que pouca vergonha é esta, Hercílio? Então vocês vêm aqui eliminar-nos da Taça? Hum, hum?  Tu estás a brincar com esta grande instituição nacional que é o Benfica? Hum, hum? É assim que tu respeitas os protocolos? Hum, hum?

EM – Pois foi, senhor Vieira. Lamentavelmente aconteceu, mas eu já estou a tratar de apurar responsabilidades. O pior vão ser os sócios…

LFV – Eu quero lá saber de ti ou dos teus sócios. Eu quero-te é a ti, aqui, amanhã de manhã à porta do meu escritório…

EM – Mas…

LFV – Às nove em ponto, sem falta! Vais ter de me compensar disto dalguma maneira, e eu até já estive a pensar que tenho para aqui o Balboa e o Zoro encalhados, e o Jesus também já me disse que não desgosta do Nilson e do Bruno Teles…

 

José Rialto

 

(cartoon publicado no Depois Falamos)



publicado por Miguel Salazar às 19:00
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3 comentários:
De anónimo a 10 de Janeiro de 2011 às 17:48
A diirecção só serve para o que corre mal?
E o que corre bem?
Não é a direcção que paga as contas?


De Miguel Salazar a 11 de Janeiro de 2011 às 12:28
Não percebi, meu caro.
O que é que pretende dizer? Que eu só critico negativamente a Direcção?
Se for isso, não tem razão, porque já elogiei algum do seu trabalho.
Infelizmente não é muito habitual, mas não será com toda a certeza por falta de boa vontade da minha parte...


De Miguel Salazar a 10 de Janeiro de 2012 às 16:26
É curioso rever a argumentação deste anónimo, há 1 ano atrás.
"Não é a direcção que paga as contas?", perguntava ele...
Hoje em dia, meu caro, já nem isso fazem...


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