Quarta-feira, 5 de Outubro de 2011
Vendilhões do Templo - o enredo...

 

Nos anos 90, a RTP1 transmitiu uma série da TVGlobo, que na altura tinha um enorme sucesso no Brasil. Chamava-se "Você decide" e consistia numa série em que cada história se desenvolvia até um determinado ponto da trama em que o espectador tinha de optar por um de dois finais possíveis, através de uma votação telefónica. A história tinha o seu desfecho de acordo com a vontade do público.

A história que de seguida vos contarei, é também um pouco assim...

 

Conta o povo que, naquele tempo, El-Rei Dom Afonso Henriques se tinha visto obrigado a antecipar o regresso de mais uma Cruzada contra os infieis. El-Rei encontrava agora a sua mui amada cidade de Guimarães, entregue a um bando de mercadores. Tinha ouvido rumores disso mesmo, pelo que decidira voltar sem ser anunciado. Debaixo de um grosso manto e a coberto de um capuz que lhe ocultava a identidade, El-Rei percorria as ruas da sua cidade-Natal, constatando que na realidade ela estava bem diferente daquela que tinha deixado, anos antes, nas mãos do bom do Regente.


Incógnito, Dom Afonso Henriques abeirou-se então de um velho e perguntou-lhe:

"Amigo, quem governa a cidade, agora qu'El-Rei combate os infieis lá longe?..."

E o velho respondeu-lhe:

"Infieis lá longe, dizeis vós... e infieis aqui tão perto, digo eu... Quem agora aqui manda, é aquele que ali vedes...", disse, apontando para o cimo das escadas da Igreja de São Miguel do Castelo. "É um vira-casacas! Há uns anos atrás, apresentou-se ao povo como sendo Milo, um homem da plebe, um homem simples que fazia juras de amor à cidade, e promessas de a transformar na cidade mais forte e mais próspera de todo o Reino. Belas eram as suas palavras, que conseguiram iludir o povo e fizeram com que fosse aclamado Regente, durante a ausência d'El-Rei. Mas os anos foram passando, e Milo foi mostrando o que realmente era. Converteu-se aos mouros, e até mudou o seu nome para al-Mílio Çilba, mas o povo prefere chamar-lhe al-Míldio, talvez por lhe fazer lembrar a praga em que ele e os seus amigos se tornaram. Este vira-casacas infiel, agora é muito amigo do Grão-Vizir Uç al-Bador, do enclave marroquino do Lado-de-lá-da-Morreira, e do Xeique Khadafi, Mercador de Rodas de Carroça, das terras mouras de Beira-Tejo. Passou a comprar as fardas das nossas tropas, a outro marroquino do enclave - um tal de Khal Uç Gharb al-Hal. O que ele queria mesmo era ir fazendo os seus negócios, tal como os outros vendilhões que entretanto chamou para junto de si, como o marroquino Baçk uç-Antûs, o "contabilista" que agora se chama Luç Yanûb al-Thar e aquele outro jovem que era conhecido por "Paulo Sortudo", mas que depois de se ter convertido aos mouros também mudou de nome - agora é o Khamil i Onârio. Passou mesmo a ser o seu homem de mão. Olhe, amigo, é esta corja de infieis que nos governa."

"E o povo não se revolta?", perguntou-lhe El-Rei, surpreendido.

"O povo? A maior parte não quer ver a realidade. Continuam iludidos com as migalhas que al-Míldio e Khamil lhes dá de vez em quando. Se os ânimos se levantam, organizam pr'aí umas festas e umas romarias para os distrair. Se alguém diz que o Milo vai nu, tratam logo de os ameaçar com os seus verdugos, ou de simplesmente os condenar em julgamentos sumários em praça pública. É verdade. A maior parte do povo continua resignada e cabisbaixa, iludida que está de que mais do que lhe é dado não poderá ter... Com algumas migalhas vai al-Míldio comprando a sua paz, e conseguindo mais tempo para continuar a fazer os seus negócios de venda de cabanas e casebres. Tempo para os seus negócios e para continuar a mendigar os favores do Grão-Vizir do enclave marroquino e principalmente do Xeique de Beira-Tejo. Está a ver, amigo, até fizeram do nosso Sagrado Templo o seu próprio escritório..."

Dom Afonso Henriques não queria acreditar que o povo se pudesse ter resignado daquela maneira. Não o seu Povo. E perguntou:

"E então os outros? Os que conseguem ver a realidade?"

"Esses vêem, mas não fazem nada", disse o velho, encolhendo os ombros. "Estão sempre à espera que seja o vizinho do lado a fazer alguma coisa. Falam muito, mas não fazem nada. Se calhar estão à espera do regresso d'El-Rei para que Sua Senhoria nos livre desta seita de infieis..."

 

Se esta história fosse um dos episódios do "Você decide", seria nesta altura que a imagem da TV congelaria, com um grande plano d'El-Rei Dom Afonso Henriques. Surgiria então o inefável António Sala que, depois de fazer um breve resumo do que se tinha visto até então, anunciaria os dois finais possíveis. Seria mais ou menos assim...

"Se escolher o final A, será o povo a decidir sobre o seu próprio futuro, enquanto que se escolher o final B, o povo demitir-se-á dessa decisão, deixando para outros a definição do seu destino."

O inefável Sala apontaria então directamente para o espectador, de indicador em riste, com aquele não menos inefável sorriso e com um (pouco menos do que ridículo) piscar de olho, diria com a sua voz nasalada "Você decide!".

 

Pois muito bem, é exactamente aqui o momento em que nos encontramos hoje - o momento em que temos de decidir.

E quero eu acreditar que os vitorianos não deixarão para outros a decisão sobre o seu futuro, pelo que estou certo de que a escolha irá recair sobre o final A.

Porque a alternativa a este desfecho, é a versão trágica desta história que nenhum vitoriano há-de querer conhecer.

Deixar para outros a decisão sobre o nosso futuro, nunca poderá ser a melhor opção.

Está assim nas nossas mãos aquilo que queremos para o Vitória.

Porque, em Guimarães, "Somos NÓS quem decide!"...

 

José Rialto

 

(conheça o desfecho desta história em Vendilhões do Templo - o desenlace final)

 



publicado por Miguel Salazar às 20:50
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12 comentários:
De amigo a 6 de Outubro de 2011 às 00:43
Caro Miguel Salazar
Deitar abaixo a direcção do clube num momento desportivamente tão mau, é relativamente fácil.

Difícil é quem o fizer ter capacidade de criar uma alternativa.

Porque deitar abaixo apenas para criar o vazio seria uma acção mais própria dos nossos inimigos.
Qualquer acção responsável de demissão desta direcção só tem lealdade vitoriana se em simultâneo (repito, em simultâneo), apresentar uma alternativa.

Não queira, caro MS, meter também a sua pazada no enterro do clube


De Miguel Salazar a 6 de Outubro de 2011 às 01:23
Em primeiro lugar, meu caro "amigo", convocar uma AGE não é destituir uma Direcção.
Aquilo que se está a tentar fazer é dar uma oportunidade para se discutir a possibilidade de se destituir a Direcção, o que é bem diferente.
No final, aquilo que irá prevalecer não será a minha vontade nem a sua, mas antes a vontade da maioria dos vitorianos que responsavelmente estiverem nessa AGE.

Em segundo lugar, eu não sou irresponsável, e portanto a minha atitude tem obviamente subjacente o conhecimento (confirmado por quem de direito) de que existirá pelo menos uma alternativa à actual Direcção.

Em terceiro lugar, quem tem metido inúmeras pazadas no enterro do nosso clube, tem sido a própria Direcção, e não eu ou quem quer convocar uma AGE.

E por último, meu caro, eu pelo menos mostro a minha cara e digo o meu nome.
Eu não me escondo atrás de pseudónimos...


De anónimo a 6 de Outubro de 2011 às 17:46
Caro MS, não jogue com as palavras.
A AG é para destituir a direcção e ponto final.
A discussão está a ser feita antes. A convocatória será, no caso de se efectivar, inequívoca.

E digo-lhe desde já, que no clima de intimidação que se desenha, nem será difícil conseguir essa destituição.

Só pergunto: que democracia é esta?
No final espero que assuma a sua cota-parte de responsabilidade


De Miguel Salazar a 6 de Outubro de 2011 às 20:43
Eu não jogo com as palavras.
Claro que a AGE é para destituir a Direcção, mas quem decide não são os 120 que assinam a petição.
A decisão de destituí-la realmente ou não, será uma decisão que irá estar nas mãos da maioria dos vitorianos, pelo menos daqueles que considerarem importante deslocar-se a essa assembleia.
Se considera que a destituição da Direcção apenas depende de se conseguir ou não convocar a AGE, então só poderá querer dizer que também está convencido de que a maioria dos vitorianos estão mesmo descontentes com o desempenho da Direcção, e de tal maneira descontentes que não terão quaisquer dúvidas em a destituir se tiverem essa oportunidade.
Mas se assim é, então não restarão quaisquer dúvidas: cumpra-se a democracia e a vontade dos vitorianos.
Ou estará o senhor convencido de que a maioria dos vitorianos são uma cambada de inconscientes e que os detentores da verdade são apenas aqueles que concordam consigo?
De tal maneira inconscientes que não se lhes pode dar a oportunidade de se pronunciarem sobre a realidade actual do Vitória.
Não menospreze a consciência dos vitorianos e o seu sentido crítico, meu caro.
Quanto à democracia... em democracia, as pessoas são realmente responsabilizadas pelos seus actos, meu caro, e a Direcção do Vitória terá de responder pelos seus.
De resto, se a Direcção estivesse de consciência tranquila, não teria nada a temer.
O problema é que eles bem sabem que são culpados daquilo que são acusados.
Talvez por isso se estejam a mostrar tão nervosos...

Portanto, meu caro e para concluir, a responsabilidade da situação actual não pode nem deve ser imputada a quem quer fazer alguma coisa em defesa do nosso clube, mas sim a quem nos levou até esta situação e, no limite, a quem, ao nada fazer, pactuou com ela...


De António Moreira a 6 de Outubro de 2011 às 11:23
O poder de escolha deve ser sempre a primeira arma da democracia.
Podemos escolher destituir ou não esta direcção.
Podemos escolher quem depois irá dirigir os destinos do clube.
O que não podemos é continuar a olhar para o lado e fazer de conta.
Esta direcção já demonstrou o PODER de ESCOLHA que utilizam e poucas são as vezes que Não erraram.
O poder de escolha dos últimos 5 anos, transformou um clube que tinha tudo para se erguer das penumbras da Liga de Honra a um colosso Europeu, infelizmente passamos de esse sonho a um clube em que subsiste o marasmo e o contentamento por chegar vivo ao final do dia.

Tal como Miguel Salazar, também eu desejo firmemente que os sócios possam exercer o Poder de Escolha, mesmo que o meu Sonho sofra um revés e que veja que a maioria dos sócios estão satisfeitos com a actual situação.


De Miguel Salazar a 6 de Outubro de 2011 às 16:53
Nem mais, António.
A decisão dos vitorianos é soberana e eu saberei respeitá-la, como respeitei quando esta Direcção foi reeleita. Não porque concordasse com essa perspectiva, que não era a minha, mas apenas porque democraticamente tem mesmo de ser assim, porque é essa a essência da democracia.
Agora, o que eu não posso é continuar de braços cruzados e a assobiar para o lado, quando a Direcção persiste nos mesmos erros, atropelando e deixando atropelar os interesses e o bom nome do nosso clube...

Para terminar, apenas um pormenor muito curioso: porque será que apenas alguns dão a cara juntamente com a sua opinião, enquanto outros se limitam a fazê-lo anonimamente?
Haverá aqui algum padrão de comportamento, ou será apenas uma infeliz coincidência?...


De anónimo a 6 de Outubro de 2011 às 17:42
eu sou dos que gostava que o Vitória fosse um colosso europeu.

Mas achar que esta direcção tem a obrigação de tornar o Vitória num colosso europeu, é levar a discussão para o limiar da fantasia


De Miguel Salazar a 6 de Outubro de 2011 às 20:55
Claro que a Direcção não tem essa obrigação, mas por certo concordará que o Vitória reúne condições ímpares para se aproximar dos 3 estarolas e, quem sabe, para se imiscuir no seu seio.
Poderemos não conseguir ser um colosso europeu, mas se outros, com muito menos potencialidades do que nós, até conseguem chegar à final da Liga Europa, porque razão não o haveremos de o conseguir nós?
Por minha culpa não será certamente...


De Marek Miroslav Saganowski a 11 de Outubro de 2011 às 21:06
Esta Direcção não tem a obrigação de fazer do Vitória um colosso europeu!

O que tem é a obrigação de colocar o Vitória num patamar a que sempre nós estivemos habituados!

Nos tempos do outro senhor, já tinha havido uns valentes murros na mesa e uns puxões de orelhas!!!

Mas quem nasceu para dez...


De Miguel Salazar a 11 de Outubro de 2011 às 21:20
Dez ?????
Só se for numa escala de 0 a 100... ou a 200...


De Jorge Nuno Folhadela a 20 de Outubro de 2011 às 10:13
Mais um excelente cartoon, mais um excelente texto. A qualidade é tão elevada que quando vi o "passarão milo" nem me apercebi desta novela. Muito bom mesmo.
Pelos vistos os paladinos da justiça vitoriana, da democracia vitoriana, da verdade desportiva vitoriana estão todos acagaçados com a famosa AG. De que têm medo??? Que escondem eles??? Porque estão tão atrapalhados??? Bem, a mim ensinaram-me que quem não deve não teme...hum hum cheira-me a esturro...muito esturro.
Abraço

ps. o anonimato é uma faculdade que assiste a quem assim o desejar mas, bonito bonito, é assumir sem receios as nossas próprias opiniões. Já agora e para não existirem dúvidas de alguma espécie o meu nº de sócio é o 2312...bem baixinho quando comparado com alguma da tropa que gere o nosso clube...tenho as quotas em dia e vou ao futebol...tal como muitos que conheço sou e serei uma cara conhecida nas bancadas, quer fora de casa quer no nosso estádio.


De Miguel Salazar a 20 de Outubro de 2011 às 21:41
Se apenas considerássemos o surrealismo das contas que agora apresentaram, eu diria que aqui há gato escondido com o rabo de fora.
Se considerarmos a ansiedade demonstrada pela Direcção, então eu diria antes que é um cavalo.
Mas se for verdade 10% daquilo que consta serem as movimentações que estão a ser feitas nos bastidores, tendo em vista a "preparação" da AG, então, meus caro JNF, o animal escondido não poderá ser mais pequeno do que um mamute...


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