Nos anos 90, a RTP1 transmitiu uma série da TVGlobo, que na altura tinha um enorme sucesso no Brasil. Chamava-se "Você decide" e consistia numa série em que cada história se desenvolvia até um determinado ponto da trama em que o espectador tinha de optar por um de dois finais possíveis, através de uma votação telefónica. A história tinha o seu desfecho de acordo com a vontade do público.
A história que de seguida vos contarei, é também um pouco assim...
Conta o povo que, naquele tempo, El-Rei Dom Afonso Henriques se tinha visto obrigado a antecipar o regresso de mais uma Cruzada contra os infieis. El-Rei encontrava agora a sua mui amada cidade de Guimarães, entregue a um bando de mercadores. Tinha ouvido rumores disso mesmo, pelo que decidira voltar sem ser anunciado. Debaixo de um grosso manto e a coberto de um capuz que lhe ocultava a identidade, El-Rei percorria as ruas da sua cidade-Natal, constatando que na realidade ela estava bem diferente daquela que tinha deixado, anos antes, nas mãos do bom do Regente.
Incógnito, Dom Afonso Henriques abeirou-se então de um velho e perguntou-lhe:
"Amigo, quem governa a cidade, agora qu'El-Rei combate os infieis lá longe?..."
E o velho respondeu-lhe:
"Infieis lá longe, dizeis vós... e infieis aqui tão perto, digo eu... Quem agora aqui manda, é aquele que ali vedes...", disse, apontando para o cimo das escadas da Igreja de São Miguel do Castelo. "É um vira-casacas! Há uns anos atrás, apresentou-se ao povo como sendo Milo, um homem da plebe, um homem simples que fazia juras de amor à cidade, e promessas de a transformar na cidade mais forte e mais próspera de todo o Reino. Belas eram as suas palavras, que conseguiram iludir o povo e fizeram com que fosse aclamado Regente, durante a ausência d'El-Rei. Mas os anos foram passando, e Milo foi mostrando o que realmente era. Converteu-se aos mouros, e até mudou o seu nome para al-Mílio Çilba, mas o povo prefere chamar-lhe al-Míldio, talvez por lhe fazer lembrar a praga em que ele e os seus amigos se tornaram. Este vira-casacas infiel, agora é muito amigo do Grão-Vizir Uç al-Bador, do enclave marroquino do Lado-de-lá-da-Morreira, e do Xeique Khadafi, Mercador de Rodas de Carroça, das terras mouras de Beira-Tejo. Passou a comprar as fardas das nossas tropas, a outro marroquino do enclave - um tal de Khal Uç Gharb al-Hal. O que ele queria mesmo era ir fazendo os seus negócios, tal como os outros vendilhões que entretanto chamou para junto de si, como o marroquino Baçk uç-Antûs, o "contabilista" que agora se chama Luç Yanûb al-Thar e aquele outro jovem que era conhecido por "Paulo Sortudo", mas que depois de se ter convertido aos mouros também mudou de nome - agora é o Khamil i Onârio. Passou mesmo a ser o seu homem de mão. Olhe, amigo, é esta corja de infieis que nos governa."
"E o povo não se revolta?", perguntou-lhe El-Rei, surpreendido.
"O povo? A maior parte não quer ver a realidade. Continuam iludidos com as migalhas que al-Míldio e Khamil lhes dá de vez em quando. Se os ânimos se levantam, organizam pr'aí umas festas e umas romarias para os distrair. Se alguém diz que o Milo vai nu, tratam logo de os ameaçar com os seus verdugos, ou de simplesmente os condenar em julgamentos sumários em praça pública. É verdade. A maior parte do povo continua resignada e cabisbaixa, iludida que está de que mais do que lhe é dado não poderá ter... Com algumas migalhas vai al-Míldio comprando a sua paz, e conseguindo mais tempo para continuar a fazer os seus negócios de venda de cabanas e casebres. Tempo para os seus negócios e para continuar a mendigar os favores do Grão-Vizir do enclave marroquino e principalmente do Xeique de Beira-Tejo. Está a ver, amigo, até fizeram do nosso Sagrado Templo o seu próprio escritório..."
Dom Afonso Henriques não queria acreditar que o povo se pudesse ter resignado daquela maneira. Não o seu Povo. E perguntou:
"E então os outros? Os que conseguem ver a realidade?"
"Esses vêem, mas não fazem nada", disse o velho, encolhendo os ombros. "Estão sempre à espera que seja o vizinho do lado a fazer alguma coisa. Falam muito, mas não fazem nada. Se calhar estão à espera do regresso d'El-Rei para que Sua Senhoria nos livre desta seita de infieis..."
Se esta história fosse um dos episódios do "Você decide", seria nesta altura que a imagem da TV congelaria, com um grande plano d'El-Rei Dom Afonso Henriques. Surgiria então o inefável António Sala que, depois de fazer um breve resumo do que se tinha visto até então, anunciaria os dois finais possíveis. Seria mais ou menos assim...
"Se escolher o final A, será o povo a decidir sobre o seu próprio futuro, enquanto que se escolher o final B, o povo demitir-se-á dessa decisão, deixando para outros a definição do seu destino."
O inefável Sala apontaria então directamente para o espectador, de indicador em riste, com aquele não menos inefável sorriso e com um (pouco menos do que ridículo) piscar de olho, diria com a sua voz nasalada "Você decide!".
Pois muito bem, é exactamente aqui o momento em que nos encontramos hoje - o momento em que temos de decidir.
E quero eu acreditar que os vitorianos não deixarão para outros a decisão sobre o seu futuro, pelo que estou certo de que a escolha irá recair sobre o final A.
Porque a alternativa a este desfecho, é a versão trágica desta história que nenhum vitoriano há-de querer conhecer.
Deixar para outros a decisão sobre o nosso futuro, nunca poderá ser a melhor opção.
Está assim nas nossas mãos aquilo que queremos para o Vitória.
Porque, em Guimarães, "Somos NÓS quem decide!"...
José Rialto
(conheça o desfecho desta história em Vendilhões do Templo - o desenlace final)
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