Quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2012
Ilustres Vimaranenses (1) - Martins Sarmento...
 
 
 

 

 

 

 

 

 

Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento, arqueólogo e escritor, nasceu em Guimarães, no dia 9 de Março de 1833.

Estudou latim no Colégio da Lapa (no Porto) e, com apenas quinze anos, foi para Coimbra onde veio a concluir o bacharelato em Direito, tinha então 20 anos.

Das obras literárias que escreveu, salientam-se Os Lusitanos (1880), Ora Marítima (1880) e Os Argonautas (1887).

Em 1854, como Velho Nicolino que também foi, escreveu o Pregão desse ano (ver aqui).

Martins Sarmento foi o responsável pelo estudo de vários castros e citânias do Norte de Portugal, sendo o seu estudo mais relevante aquele que efectuou sobre a citânia de Briteiros e o castro de Sabroso.

Francisco Martins Sarmento tinha o sonho de fazer a descrição arqueológica de toda a região de Entre Douro e Minho, mas esse foi, no entanto, um projecto que nunca conseguiu concretizar, muito embora tenha deixado um vasto espólio constituído por milhares de páginas de notas manuscritas, onde estão registados os materiais recolhidos nas suas inúmeras expedições.

Foi igualmente importante a sua actividade como fotógrafo, iniciada em 1868. Pioneiro da fotografia de carácter científico, deixou centenas de negativos em vidro, na sua maior parte e como não podia deixar de ser, sobre arqueologia.

Em 1882, um grupo de vimaranenses ilustres, em homenagem ao sábio arqueólogo, criou a Sociedade Martins Sarmento, que estabeleceu como seu principal propósito o fomento da instrução popular, desenvolvendo desde logo uma importante acção de dinamização cultural.

Alberto Sampaio, outro ilustre vimaranense, descrevia assim o seu amigo…

Alto, magro, de cabelos pretos retintos, a tez morena, o passo apressado, destacava-se em qualquer grupo, à primeira vista. Fisiologicamente um nervoso, falando por meias palavras, rápido e breve no discurso, como um homem que não pode desperdiçar o tempo, às vezes custava a perceber. A sua conversação usual, tocando aqui e ali a fugir, entrecortada de ditos alegres ou picantes, se carecia de atracção enlevadora, transbordava de típica graça portuguesa

Quando, em 1875, Martins Sarmento iniciou o estudo da Citânia de Briteiros, o universo dos castros era uma incógnita e a arqueologia portuguesa dava os seus primeiros passos.

O povo é que muitas vezes não conseguia compreender a importância do seu trabalho e, na sua simplicidade, dizia (comentário registado no seu diário)…

Em vez de gastar tanto dinheiro a tombar pedras e a revolver montes, maior proveito tiraria o Sr. Sarmento se legasse o que aqui desperdiça para que lhe fossem rezadas missas pela sua alma, quando morrer

Martins Sarmento foi um dos pioneiros na utilização da fotografia como novo método de registo dos achados arqueológicos, substituindo assim o desenho.

As fotografias que tirou estiveram na origem da arqueologia científica em Portugal.

Aliás, a divulgação da Citânia de Briteiros está intimamente associada à fotografia. Na verdade, será através de dois álbuns fotográficos, que o arqueólogo vimaranense vai divulgar os resultados das suas pesquisas.

Correspondeu-se o sábio vimaranense com muitas das figuras mais ilustres do seu tempo, e o seu nome figura hoje em muitos tratados de arqueologia clássica.

Escrevia Alberto Sampaio a esse respeito…

Homens distintos e vulgares, especialistas superiores  ou simples amadores de arqueologia e folclore, recebia-os com urbanidade e agrado. Raro seria o forasteiro qualificado que viesse a Guimarães e o não procurasse

É exactamente na sequência desta relação privilegiada com os seus pares que, em 1887, se realiza em Guimarães a primeira reunião científica de arqueologia, em Portugal.

Antes de morrer, em 1899, legou à Sociedade Martins Sarmento os milhares de livros da sua biblioteca, bem como todo o seu espólio científico, constituído em grande parte por peças arqueológicas.

Alberto Sampaio, que assistiu à sua morte, descreve assim os últimos momentos de Martins Sarmento

Regressando de Briteiros em 19 de Junho de 1899 quase saiu da carruagem para a cama. Cortado de dores que o imobilizavam numa única posição, sem palavras de lamentação ou de amargura, viu a doença aumentar dia a dia com a impassibilidade estóica dos fortes, até que em 9 de Agosto sucumbiu à hora e meia da tarde. Mas pouco antes, quando a morte se debruçava sobre a fronte a dar-lhe o beijo da eterna paz, estendendo o braço emagrecido sobre a dobra do lençol, e dispondo a mão, como se tivesse uma pena, fazia o jeito de escrever, de quem escrevia freneticamente. Que pensamentos que tanto quis e não pôde exprimir lhe revolveriam o cérebro agonizante? E assim acabou, agitado num turbilhão de ideias, sem conhecer a velhice intelectual, quem passara um quarto de século a procurar raios de luz, que iluminassem as trevas do passado

 

Fernão Rinada

 

(caricatura publicada nos blogues Memórias de Araduca e Humorgrafe)

 

Fontes de pesquisa:

Francisco de Gouveia Martins Sarmento. Em Arqueo.org.

Francisco Martins Sarmento, Esboço da sua Vida e Obra científica. Mário Cardozo.

Francisco Martins Sarmento. Em Infopédia.

Escola Secundária Martins Sarmento. História e Patrono.

O pregão de 1854, pelo nicolino Francisco Martins Sarmento, em Memórias de Araduca.

Fotografia de Martins Sarmento



publicado por Miguel Salazar às 00:00
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12 comentários:
De anónimo a 31 de Janeiro de 2012 às 18:53
Parabéns pela iniciativa.
A CEC 2012 faz-se disto mesmo. Da iniciativa de cada um de nós em tornar mais rico o presente do coletivo.

Tu fazes parte!


De Miguel Salazar a 31 de Janeiro de 2012 às 20:12
E eu faço mesmo questão de fazer parte.
De resto, estou completamente de acordo consigo, meu caro.
Aquilo que eu acho que nós estamos a ter de verdadeiramente diferente, em relação a outras CEC's, é o envolvimento da população.
Veja-se o caso do "mi casa es tu casa". E outros, já programados, se lhe seguirão...


De Matilde Vinagreiro a 1 de Fevereiro de 2012 às 12:20
Eu também faço questão de fazer parte.
A interacção humana é o que dá sentido à vida e às coisas. Os vimaranenses são optimos na entrega que fazem ao que acontece na sua cidade. Todos querem fazer parte, ora assistindo a eventos ora provocando-os.
Ainda bem que surgiu mais um, que tanto diz às gentes da terra.


De Miguel Salazar a 1 de Fevereiro de 2012 às 12:29
Esta entrega dos vimaranenses à CEC é de facto motivo de grande orgulho para todos nós.
É-o particularmente para os que vivem fora da cidade, como é o meu caso...


De António Amaro das Neves a 1 de Fevereiro de 2012 às 21:33
"Roubei"...


De Miguel Salazar a 1 de Fevereiro de 2012 às 21:46
É uma honra ser "roubado" por si, António...


De Paulo Cesar a 2 de Fevereiro de 2012 às 00:10
Espectacular


De Miguel Salazar a 2 de Fevereiro de 2012 às 11:09
Muito obrigado, Paulo...


De Jaime Marques a 8 de Fevereiro de 2012 às 00:43
Parabens. Ficamos à espera de mais..


De Miguel Salazar a 8 de Fevereiro de 2012 às 14:47
Obrigado, Jaime.
O próximo ilustre sai à meia-noite da próxima sexta-feira.
Espero que também goste...


De Lara a 22 de Novembro de 2016 às 20:10
Está fixe um grande abraço e este texto está lindamen-te aplicado às crianças e aos adeptos


De Miguel Salazar a 27 de Novembro de 2016 às 21:43
Obrigado, Lara...


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