Dom Afonso Henriques não foi o único Rei vimaranense.
No início do século XVII, o intrépido Salvador Ribeiro de Sousa foi aclamado Rei no longínquo Reino do Pegu (actual Myanmar).
A história é contada por António Amaro das Neves em 4 apaixonantes páginas, e teve honras de capa na edição de Junho de 2015 da revista Mais Guimarães...
A caricatura de Salvador Ribeiro de Sousa é obviamente uma criação livre, uma vez que não existe qualquer registo das suas verdadeiras feições.
No entanto, a sua caracterização respeita escrupulosamente a descrição feita pelo Padre Manuel de Abreu Mouzinho.
No pouco espaço livre que restou para a minha imaginação, procurei simbolizar o enquadramento histórico da figura deste herói vimaranense.
A coloração das plumas do seu morrião e o brocado da casaca e dos calções, simbolizam as cores de Leão e Castela, a quem nessa altura estávamos subjugados.
Mas é no interior da sua casaca que reside a verdadeira essência do povo português: enquanto a face exterior representa o domínio estrangeiro, a interior pretende simbolizar a indomabilidade do nosso Povo, através do brasão da Realeza portuguesa, bordado a vermelho, como é característico dos bordados de Guimarães.
Ao pescoço, a Comenda da Ordem de Cristo que mais tarde viria a receber.
E no seu braço esquerdo, um “escudo fino” com a mesma decoração do escudo do Guimarães das “duas caras”, escultura que encima a antiga Casa da Câmara e que domina a Praça da Oliveira.
Neste baixo-relevo está assim representada mais uma vez a nossa ânsia pela restauração da independência, em que as raízes de uma oliveira (outro símbolo vimaranense) dominam e derrotam o leão espanhol.
Miguel Salazar
O outro rei de Guimarães
A história extraordinária do vimaranense Salvador Ribeiro de Sousa
Hoje quase esquecido, Salvador Ribeiro de Sousa é uma das figuras mais extraordinárias da epopeia dos portugueses na Ásia. Nasceu em Guimarães e foi rei na Birmânia. Para a história ficou conhecido como Massinga, o rei do Pegu.
Quase tudo o que sabemos sobre Salvador Ribeiro de Sousa é o que nos conta o padre Manuel de Abreu Mouzinho: veio ao mundo no lugar de Quintães, do antigo Couto de Ronfe, no termo de Guimarães. Era filho de Frutuoso Gonçalves de Sousa, sendo “de limpo e nobre sangue”. Provavelmente por não ser o primogénito, seguiu o destino de muitos filhos segundos da nobreza do seu tempo: em Março de 1587 fez-se ao mar e partiu para a Índia, em busca de riqueza e glória. Com ele embarcaram dois dos seus irmãos, que nas paragens do Índico em vez da fortuna que procuravam, encontraram a sepultura. Como tantos outros, morreram “gloriosamente em serviço de Deus e de El-Rei”.
Ao longo dos treze anos que se seguiram à sua partida de Lisboa, Salvador levou uma vida aventurosa, envolvendo-se em expedições militares em que se destacou pela bravura de soldado e pela prudência de capitão. No Ceilão chegou a capitão duma companhia. Aí permaneceu seis anos, até ao dia em que decidiu que era tempo de regressar a Portugal, para demandar do rei a retribuição que lhe era devida pelos seus serviços e pelos dos seus desafortunados irmãos. A viagem para Goa, onde iria embarcar para Lisboa, foi interrompida pelo mau tempo, que forçou o barco em que seguia a fundear no porto de Sirião, na foz do rio Pegu. Corria o mês de Junho de 1600 e a terra a que aportava vivia tempos conturbados. Havia poucos dias que, após longos anos de guerras sangrentas, o cruel rei do Pegu se rendera ao seu vizinho de Tangut, ficando o seu reino exposto à cobiça dos príncipes reinantes nas terras vizinhas, entre os quais se destacava o rei de Arracão, que por esses dias estava em Sirião, à frente de uma armada composta por uma centena de baixéis.
Foi em Sirião que Salvador Ribeiro conheceu Filipe de Brito de Nicote, mercador de Lisboa que há duas décadas tentava a fortuna na Ásia, e que então andava no séquito do rei de Arracão, exercendo o ofício de changá (vedor da fazenda). Discorrendo ambos sobre “o miserável estado a que estava reduzida esta monarquia tão opulenta”, e percebendo Salvador que seria vantajoso para a presença portuguesa na Ásia o estabelecimento duma feitoria naquelas paragens, obteve licença do rei de Arracão para edificar uma casa de mercador em Sirião. Todavia, em vez de uma casa, Salvador começou a erguer secretamente uma fortaleza.
O rei de Arracão não demorou a perceber que Salvador Ribeiro não era mercador, mas sim capitão de guerra, e que o que estava a ser construído não era a casa de comércio que tinha autorizado. Logo se arrependeu do consentimento que dera de boa fé, decidindo livrar-se da ameaça que via erguer-se em terras do reino que acabava de fazer seu. Juntou uma numerosa armada, que fez descer o rio, convencido de que lhe seria fácil desbaratar os portugueses. Porém, Salvador Ribeiro, tendo notícia do que se preparava, saiu ao encontro dos atacantes, subindo o rio com “três batéis velhos de umas naus de mercadores, que ali tinham ficado, e com trinta soldados portugueses que tinha, providos de escopetas, alcanzias de pólvora e lanças de fogo (porque não tinha artilharia)”. Ao maior número e à maior força do inimigo, respondeu o capitão vimaranense com as vantagens da surpresa e da ciência militar, atacando onde não era esperado. Assim que chegou à vista da armada do rei de Arracão, “investiu com tal braveza e esforço, que por mais que os inimigos se procuraram defender, como foram apanhados de repente, e as balas e alcanzias começaram a chover com morte de muitos dos inimigos, obrigou-os a porem-se em infame fugida, lançando-se uns à água, outros saltando em terra, e os que se achavam mais apartados, pondo a esperança de sua salvação na força dos remos, tornaram com diferente velocidade por onde tinham vindo”.
Corriam os primeiros dias do ano de 1601 quando o nome de Salvador Ribeiro de Sousa começou a ser pronunciado com respeito e temor pelos príncipes das terras vizinhas. Porém, não tardaria até que os portugueses de Sirião voltassem a estar sob o fogo inimigo. O banhá (título atribuído no Pegu à principal autoridade, a seguir ao rei) Lao assentou arraial junto à fortaleza, à frente de um exército composto por mais de seis mil homens, com o propósito de a destruir e de eliminar os que a defendiam. Porém, o perigo aguçava a argúcia e o destemor de Salvador Ribeiro. No silêncio da noite, investiu no acampamento dos sitiantes, “entrando com grande silêncio pelas barracas, achando os inimigos sepultados no sono e descuidados, não parou até chegar à do banhá Lao, ao qual, conhecendo-o pelo aparato e insígnias, levou nos braços com tanta força e esforço, que em pouco espaço o privou da vida”. Os portugueses chegaram fogo às tendas dos sitiantes que, tomados pela confusão e pelo pânico, dispersaram na maior desordem.
Mas as provações de Salvador Ribeiro de Sousa ainda estavam longe de terminadas. Logo em seguida, foi atacado pelo muito poderoso banhá Dalá, que jurara vingar a morte do banhá Lao, de quem era sogro. Durante mais de meio ano, a fortaleza portuguesa de Sirião ficou sob cerco, sujeita a terríveis assaltos. Por todo aquele tempo, Salvador Ribeiro enfrentou as maiores adversidades, os combates desiguais, a fome, o desânimo e a insubordinação e deserção dos seus soldados, de que apenas sobrariam dezoito para enfrentar um formidável exército. A tudo resistiu, até ao dia em que, com o socorro de algumas naus de mercadores que aportaram em Sirião, conseguiu romper o cerco inimigo. Daqueles dias lhe ficou uma cicatriz de uma ferida que lhe rasgou a face desde a orelha esquerda até à boca. Bem maiores foram as perdas infligidas ao inimigo.
Entretanto, correndo a notícia de que o rei do Pegu tinha sido morto às mãos do seu cunhado, o rei de Tangut, os banhás e xemins (capitães) daquelas terras, reconhecendo que o sentido de justiça e a rectidão de Salvador Ribeiro de Sousa igualavam a bravura com que alcançara as suas assombrosas vitórias, decidiram proclamá-lo rei. Com a aprovação do rei de Tangut, o português foi aclamado rei Massinga do Pegu, entregando-lhe a lâmina de ouro que simbolizava o poder real. Assim se cumpria uma antiga profecia, há muitos anos inscrita pelos sacerdotes nos livros sagrados, segundo a qual o senhorio daquele reino, depois de muitas provações, seria entregue a “homens estrangeiros de rostos e dentes alvos, e cabelo cortado”. E foi assim que Salvador Ribeiro de Sousa, vimaranense de Ronfe, se fez rei na Birmânia e foi adorado quase como uma divindade pelos seus súbditos, que lhe chamavam Quiay Massinga, que significa “deus da terra”.
Mas, se os naturais reconheceram o mérito de Salvador Ribeiro nas vitórias e nos sucessos dos portugueses naquelas paragens da Ásia, o mesmo não fizeram os seus. Enquanto Salvador Ribeiro trazia, a duras penas, o reino do Pegu para os domínios portugueses, Filipe de Brito e Nicote insinuara-se junto vice-rei da Índia portuguesa, Aires de Saldanha, de quem recebeu honras de capitão e uma sobrinha para desposar, para além de carta de patente de Capitão-mor e Conquistador de Pegu, para cuja conquista em nada contribuíra.
À ingratidão, Salvador Ribeiro de Sousa responderia, contra a vontade dos seus soldados e dos peguanos, com “um dos mais subidos toques de lealdade e grandeza de ânimo, que tem sucedido em muitos séculos”, afirmando-se vassalo do rei de Portugal, pelo que “com ânimo sossegado e obediente entregava a quem seu vice-rei lhe mandava, ainda que contra razão, e justiça”, sujeitando-se a “honrar com o sangue, que ele derramara, a Filipe de Brito, que seguro, e regulado, estava dali mais de duzentas léguas sem entrar em Pegu todo o tempo da guerra, e agora que estava um paz, vir gozar do proveito, e honra alheia”.
Entregue o reino do Pegu a Nicote, Salvador Ribeiro decidiu que era tempo de terminar a viagem que iniciara três anos antes, e que a inclemência do tempo interrompera, fazendo- o aportar em Sirião. Mas o vimaranense ainda teria novo ensejo para demonstrar a sua lealdade à coroa portuguesa e aos que o um dia o aclamaram rei. Enquanto aguardava a partida para a Índia, recebeu a notícia de que um tal Banca Capitão reunira grande número de homens e se entrincheirara na cidade de Pegu, impedindo que as mercadorias chegassem a Sirião. Vendo que Filipe de Brito nada fazia, “quis Salvador Ribeiro compor aquele motim e apagar aquelas faíscas”, embarcando com uma força de duzentos portugueses e alguns ximins, ao encontro dos amotinados. E, “como aquela gente era de pouca importância, e seu Capitão com os demais trazia sempre representado na memória o nome de Massinga Rei, foi tal o temor, que entrou neles, que com facilidade desamparam a Cidade, não a tão pouca custa sua, que os nossos deixassem de levar alguns navios carregados de cabeças de inimigos em sinal do que tinham trabalhado”.
Por uma última vez, “entrou como costumava Salvador Ribeiro vitorioso na fortaleza”.
Algum tempo depois, em Março de 1603, Salvador Ribeiro partiu rumo a Portugal, “deixando aquele Reino, em que Deus o levantara ao alto da humana felicidade, regado com seu sangue, possuído de outro, com ânimo mais generoso do que se pode encarecer, em Março de mil e seiscentos e três anos deu as velas ao vento de largas esperanças, que de ordinário se desfazem naquilo de que se sustentam”.
Do mais da vida deste herói vimaranense pouco sabemos de certo, a não ser que, no ano de 1608, foi inscrito no Livro de Matrícula dos Cavaleiros da Ordem de Cristo. Alguns autores dizem que se recolheu à terra que o viu nascer, onde teria terminado os seus dias mergulhado na mais triste pobreza. No entanto, é muito provável que tenha vivido os seus últimos anos em Alenquer, numa situação económica que andaria longe da pobreza. Terá contribuído com um avultado donativo para o restauro do oratório do pequeno convento de franciscano de Santa Catarina daquela vila, em cuja capela seriam depositados os seus restos mortais. Numa das paredes das ruínas da Casa do Capítulo daquele recolhimento, ainda subsiste uma lápide onde se lê:
Salvador Ribeiro de Sousa, Comendador de Cristo,
natural de Guimarães, a que os naturais do reino de Pegu
elegeram por seu rei.
Quanto a Nicote, que tinha tanto de ambição como Salvador Ribeiro acumulava de bravura e de desprendimento acabaria os seus dias em 1613, pendurado na forca de Sirião. E, suprema ironia, a sua cabeça lá ficou, espetada num pau num dos adarves da fortaleza que Salvador Ribeiro de Sousa erguera e que ele não soubera conservar.
Nota: os fragmentos deste texto colocados entre aspas são citações do ““Breve discurso em que se conta a conquista do reino de Pegu”, de Manuel de Abreu Mouzinho.
António Amaro das Neves
NOTAS ADICIONAIS
O Pegu
Pegu, a que os locais chamam Bago, é o nome de um rio e de um antigo reino da Birmânia, actual Myanmar. No início do século XVII, Sirião, hoje Thanlyin, a povoação onde o vimaranense Salvador Ribeiro de Sousa fez erguer a sua fortaleza, era o mais importante entreposto comercial do Sul da Birmânia, situando-se na confluência do rio Pegu com um dos braços do delta do rio Irauádi.
Salvador Ribeiro de Sousa na literatura
O breve reinado de Salvador Ribeiro de Sousa no Pegu, os seus feitos militares e a sua lealdade transformaram-no num herói quase lendário, cuja história preencheu muitas páginas de escritores portugueses.
O primeiro autor a tratar desta figura foi escrito por Manuel de Abreu Mouzinho, em castelhano, com o título “Breve discurso en que se cuenta la conquista del reyno de Pegu en la India de Oriente, hecha por los Portuguezes desde el año de mil y seiscientos hasta el de 603, siendo capitan Salvador Ribero de Soza, natural de Guimarães, a quien los naturales de Pegu elegieron por su Rey”, publicada em Lisboa em 1617. A tradução em língua portuguesa, obra de autor desconhecido, aparecia no final da “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, a partir da edição de 1711. Esta obra é a fonte de quase tudo o que se escreveu sobre Salvador Ribeiro de Sousa, havendo diversos argumentos que depõem a favor da sua credibilidade: o autor foi, durante quase uma década, Ouvidor das Apelações, em Goa, escreveu sobre acontecimentos que haviam sucedido poucos anos antes da publicação da obra e, muito provavelmente, conheceu Salvador Ribeiro.
Ainda no século XVII, Manuel de Faria e Sousa, no 3.º Volume da sua “Ásia Portuguesa” (publicado a título póstumo em 1675), dá uma perspectiva diferente da de Mouzinho, sustentando que o título de Rei de Pegu não foi dado a Salvador Ribeiro, mas sim a Nicote. No entanto, não temos razões para dar, nesta matéria, mais credibilidade a Faria e Sousa do que ao padre Mouzinho, uma vez que escreve muito mais tarde, invocando “informações de pessoas de crédito”, que não identifica.
António Diniz da Cruz e Silva, o Elpino Nonacriense da Arcádia de Lisboa, dedicou a Salvador Ribeiro uma das suas Odes Pindáricas, publicada pela primeira vez em 1801, dois anos após a sua morte.
Inácio Pizarro de M. Sarmento, no seu “O Romanceiro Português, ou colecção dos romances de História Portuguesa”, editado em 1845, dedicou um romance ao Massinga.
António Francisco Barata, incluiu um poema dedicado a Salvador Ribeiro de Sousa, no seu Cancioneiro Português, publicado em 1866.
No capítulo XII no seu romance “O senhor do Paço de Ninães”, publicado pela primeira vez em 1867, Camilo Castelo Branco refere-se à figura de Salvador Ribeiro, pela qual não nutria grande simpatia. Numa nota de rodapé, afirma que “o maior obséquio que podemos fazer às cinzas de Salvador Ribeiro é não as remexer”, por o seu título de Massinga se fundar “na covardíssima degolação do rei daquele reino”.
Embora não se conheça qualquer descendência do nosso Massinga, o protagonista da peça de teatro O Rajah de Bounsuló, de Licínio F. C. de Carvalho, editada em livro em 1854, é filho de Salvador Ribeiro de Sousa. É ele Dom Vasco, aliás Dom Jaime, aliás, o rajá que dá título à obra.
Salvador Ribeiro de Sousa
Como sucede com tantas outras figuras da nossa história, a começar pelo rei fundador, não conhecemos nenhum retrato do Massinga vimaranense. No entanto, o padre Mouzinho descreve-o com suficiente detalhe: “vestido de gala à espanhola e posto sobre o colete de Anta peito espaldar, deitado à ilharga um largo, e outro alfange com as guarnições de ouro maciço, pendurado por uma liga de tafetá cor de ouro, no braço direito outra liga verde, insígnia de esperança, a qual movida do vento parecia uma formosa asa, na cabeça resplandecente morrião ornado com vistosas plumas, embraçado um escudo de fino aço com outra espada larga, que tomara ao pajem, casaca e calções de brocado, meias e ligas amarelas, e sapatos brancos; e como era mancebo, a barba de cor castanha, o rosto corado e bem proporcionado corpo, levou atrás de si os olhos dos próprios Soldados e inimigos”.
A esta descrição, Mouzinho acrescenta uma cicatriz no rosto desde a orelha esquerda até a boca, que lhe ficou do episódio do cerco do banhá Dalá à fortaleza de Sirião.
As ruas do Rei do Pegu
A toponímia vimaranense regista a memória do vimaranense que chegou a rei em terras da Birmânia em duas artérias, uma na freguesia onde nasceu, Ronfe, a rua Salvador Ribeiro de Sousa (Rei do Pegu), outra na cidade de Guimarães, a rua Rei do Pegu. Esta última é aquela por onde se entra no parque das Hortas, indo da rua Dr. José Sampaio. No entanto, se se perguntar a um vimaranense onde fica a rua com tal nome, é possível que a resposta aponte em direcção bem diferente.
Tanto quanto se sabe, já no século XIX teria havido uma sugestão para introduzir Salvador Ribeiro de Sousa na toponímia da cidade de Guimarães. No entanto, só muito mais tarde se consumaria essa consagração. Em sessão da Câmara Municipal realizada no dia 17 de Abril de 1950, o vereador Manuel Alves de Oliveira viu aprovada por unanimidade uma proposta para que se registassem na toponímia vimaranense alguns “nomes dignos de perpetuação” (S. Gonçalo, Salvador Ribeiro de Sousa, os Navarros de Andrade, o Conde de Arnoso, Guilherme de Castilho) e para que se desse ao caminho que termina no portão do cemitério da Atouguia o nome de rua da Saudade. Na justificação dessa proposta, pode ler-se:
“Outro nome “de alma lavada, coração nobre, peito esforçado e braço valente”
Na frase de Vilhena Barbosa – é o de Salvador Ribeiro de Sousa, que tendo partido para a Índia, na armada que saiu do Tejo em Março de mil quinhentos e oitenta e sete foi, por seus feitos arrojados, aclamado pelo gentio, Rei do Pegu. Este “herói de assinaladas vitórias, o símbolo de abnegação e o exemplo vivo do mais vivo amor da Pátria” como escreveu o nosso Padre António Caldas, no volume primeiro do “Guimarães” -, obedecendo às ordens de Aires Saldanha, então Vice-Rei da Índia, desceu com heróica abnegação do trono “a que o elevara o seu valor e a vontade de um povo, com dignidade verdadeiramente soberana”, para acabar seus dias em Alenquer, onde ficou sepultado no extinto convento de Santa Catarina.”
E assim Guimarães passou a ter uma “rua de Salvador Ribeiro de Sousa, Rei do Pegu”, situada entre a rua Francisco Agra e a actual Alameda Alfredo Pimenta e dando acesso à antiga ponte de Santa Luzia. Mas não por muito tempo: essa designação cairia depois do 25 de Abril, passando aquela rua a ostentar a sua designação actual (rua dos Bombeiros Voluntários). Porém, o apagamento do nome do Massinga da toponímia vimaranense esteve na origem de uma polémica que se prolongou pelos anos fora, até ao dia em que a Câmara Municipal aproveitou a requalificação da zona das Hortas para reparar uma injustiça, baptizando uma das novas artérias com o nome que estava em falta. Ficou a chamar-se, simplesmente, rua Rei do Pegu.
(caricatura publicada no blogue Memórias de Araduca)
Rodrigo Navarro de Andrade nasceu em Guimarães, a 2 de Julho de 1765.
Rodrigo fazia parte de uma família tradicional vimaranense - os Navarro de Andrade. Segundo o Padre António Caldas, os Navarro de Andrade eram uma “ilustre família, que contava no seu grémio sete doutores de capelo!”. Quatro deles foram militares condecorados durante a Guerra Peninsular, contra Napoleão Bonaparte. Um desses heróis foi Rodrigo. Oficial de Caçadores, sofreu ferimentos em vários combates e foi condecorado com a Cruz de Ouro da Guerra Peninsular. É descrito pelo Padre António Caldas como um dos vimaranenses Notáveis em Armas. Passou à reserva como Tenente-Coronel, na Convenção de Évora-Monte (1834).
O seu irmão Vicente (Barão de Inhomirim), foi médico do Rei Dom Pedro I e, mais tarde, Professor da Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.
Rodrigo Navarro de Andrade foi Governador do Castelo de Vila do Conde. Mais tarde viria a ser o Enviado-Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Império do Brasil na Corte de Viena de Áustria, Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, Senhor do Castelo de Raabs an der Thaya (Áustria), Comendador da Ordem de Santo Estevão (Itália), Cavaleiro da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro (Itália), e ainda Comendador e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi o 1º Barão de Vila Seca.
Rodrigo Navarro de Andrade morreu em Viena, a 22 de Fevereiro de 1839.
A cidade de Guimarães deu o nome desta família ao largo de onde saem três artérias - a Rua de Santo António , a Rua de Gil Vicente e a Avenida General Humberto Delgado (mais comummente conhecida por "Palheiros").
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
As Gravuras de O Tempo Tão Suspirado - Rodrigo Navarro de Andrade
Dona Teresa nasceu em Leão, em 1080.
Filha ilegítima do Rei Afonso VI de Leão e Castela, e de Ximena Moniz, uma nobre castelhana, Dona Teresa era meia-irmã de Dona Urraca, herdeira do trono Leonês.
Em 1093, quando contava apenas 13 anos, a sua mão foi dada em casamento a um cavaleiro franco – Henrique de Borgonha. De Afonso VI recebeu, como dote de casamento, o Condado Portucalense.
Com a morte do Conde Dom Henrique, em 1112, Dona Teresa passou a governar o Condado na condição de Raínha, tendo sido reconhecida como tal por Dona Urraca de Leão e Castela, e até pelo próprio Papa. Em 1117 já assinava "Ego regina Taresia de Portugal regis Ildefonssis filia".
Em 1121 foi atacada por sua meia-irmã, conseguindo salvar o Condado Portucalense com a assinatura do Tratado de Lanhoso. Mas este ataque pôs em evidência a fragilidade do seu exército, motivo que a obrigou a procurar uma aliança estratégica, que Dona Teresa foi encontrar numa família poderosa da Galiza – os Trava.
Mera opção estratégica militar? Simples necessidade de satisfazer os seus devaneios amorosos com Fernão Peres de Trava? Ou a conjugação de ambas?
A verdade é que nunca se saberá qual terá sido ao certo o motivo que a levou a procurar abrigo debaixo da protecção da nobreza galega (simbolicamente representada na caricatura através do cálice do colar e do azul e dourado das cores da Galiza, no lenço e na capa: a Coroa apoiada num lenço galego e a Condessa sob a protecção da capa da Galiza).
Fosse qual fosse a sua verdadeira motivação, o facto é que essa aliança acabaria por lhe vir a ser fatal, pois os nobres do Condado jamais haveriam de lhe perdoar tal afronta.
A ambição desmedida do Infante Dom Afonso Henriques, entretanto armado Cavaleiro, e o descontentamento da nobreza, rapidamente se materializaram num movimento de revolta.
A 24 de Junho de 1128, travou-se a Batalha de São Mamede, onde Dom Afonso Henriques venceu Dona Teresa e Fernão Peres de Trava. Era a Primeira Tarde Portuguesa, como mais recentemente lhe veio a chamar o pintor Acácio Lino.
Depois da derrota, Dona Teresa foi confinada ao Castelo de Lanhoso, onde se acredita tenha vindo a morrer, a 11 de Novembro de 1130.
Na altura em que teve de escolher entre a vassalagem ao Reino de Leão e Castela, e a aliança ao Reino da Galiza, Dona Teresa terá seguramente optado pelo lado que melhor servia os interesses do Condado Portucalense. Mas nos 7 anos que se seguiram, Dona Teresa haveria de se perder nas suas opções estratégicas, provavelmente com o discernimento turvado pela paixão. Dona Teresa deixou de ser uma solução, para se transformar num problema que apenas se viria a resolver no Campo de batalha, em São Mamede...
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
Fotografia de estátua de Dona Teresa (em Ponte de Lima)
No passado dia 5 de Julho, comemorou-se o 10º Aniversário da secção de Pólo Aquático do Vitória Sport Clube.
Esta comemoração ocorreu nas Piscinas Municipais (Scorpio Parque Aquático), e foi precedida de um torneio de Pólo Aquático e de um jantar ao ar livre.
O Pólo Aquático do VitóriaSC, que se encontra em franco desenvolvimento, já conquistou o direito de se manter entre os melhores de Portugal e, de há uns anos a esta parte, tem vindo a projectar atletas dos seus mais diversos escalões etários nas respectivas selecções nacionais. O expoente máximo destes sucessos é o caso do atleta Hélder Freitas que tem sido uma presença contínua nas convocatórias da principal selecção Portuguesa de Pólo Aquático.
Neste contexto, o ÁLB'oon aproveita para dar os mais sinceros parabéns a todos aqueles que directa ou indirectamente estão associados a todos os êxitos desportivos desta secção.
O cartoon aqui publicado foi desenhado propositadamente para assinalar esta data, a convite do Jorge Sequeira, e foi oferecido à secção a fim de ser utilizado na comercialização de uma edição comemorativa de camisolas.
A secção retribuiu a minha oferta com uma camisola (a que tenho nas mãos) autografada pelos atletas do Pólo Aquático, gesto extremamente simpático que muito me apraz aqui registar.
Durante esta sessão comemorativa, foram também entregues os prémios da Secção, relativos ao ano de 2013.
Coube-me a mim a honra de entregar o Prémio Carreira ao antigo guarda-redes e Capitão da equipa, Pedro Ribeiro...
José Maria Fernandes Marques nasceu em Guimarães, no dia 25 de Novembro de 1939.
O orgulho de ser vimaranense levou-o a adoptar o nome artístico de "José de Guimarães".
Formou-se em Engenharia, na Academia Militar.
Estudou pintura e desenho com Teresa de Sousa e Gil Teixeira Lopes, e frequentou o curso de gravura da SCGP.
Viajou pela Europa, e em 1967 o Exército colocou-o em Angola.
Durante os 7 anos que viveu em Angola, José de Guimarães estudou etnografia e arte negra.
José de Guimarães sofreu uma grande influência dos discursos e das práticas estéticas dos anos 60, como a Pop Art.
Marcado pela arte vernácula africana, mas potenciando-a numa dimensão simultaneamente erudita e ocidental, o artista adoptou uma subtil aliança entre o humor e o drama da vida humana, desdramatizando progressivamente as suas composições para assumir, nos "motivos-séries" (Reis, Os Amantes, O Pintor e o Modelo, O Circo, Os Desportos ou Paisagens Portuguesas) a matriz cultural da pintura europeia.
Após a sua passagem por Antuérpia (em 1976), a sua obra ganhou visibilidade internacional com a série de trabalhos em que homenageou Rubens (D’Après Rubens).
Em 1978, elaborou o Alfabeto de Símbolos, que estiveram na base de muitos dos seus trabalhos seguintes.
A obra de José de Guimarães inspirou-se na tendência essencialista do espiritualismo oriental, passando a incluir estereótipos formais de outras civilizações, como a Azteca e a Japonesa, cruzando-os sempre com o contexto artístico ocidental, desde a arte primitiva ao modernismo de Pablo Picasso.
Nos anos 90, José de Guimarães viu reconhecido finalmente o seu trabalho entre nós, após as retrospectivas da Casa de Serralves (Porto) e da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa).
A partir desta altura, recebeu uma série de convites para intervir em espaços públicos, em Portugal e no estrangeiro, que culminou na exposição apresentada em 2004, na Cordoaria Nacional (Lisboa).
A partir de 1960, participou em exposições individuais e colectivas, em Portugal, Espanha, França, Bélgica e Itália.
Foi o autor da escultura "Adamastor" (1999), encomendada para celebrar o Festival dos Oceanos, no Parque das Nações.
Foi distinguido duas vezes com a medalha de bronze do Prémio Europeu de Pintura da cidade de Ostende (1978 e 1980), com o Prémio da Fundação Calouste Gulbenkian (1984) e com o 1º Prémio da 9ª Bienal de Artes Plásticas de Barcelona (1986).
José de Guimarães recebeu a medalha de Mérito Artístico da Cidade de Guimarães (1989) e foi condecorado pelo Presidente da República com a Ordem do Infante D.Henrique (1990).
Em 1994, o canal cultural de televisão ARTE, realizou um documentário da sua obra – “Je vis cette vie magnifique dans mon atelier”.
Realizou a sua primeira exposição individual, em Guimarães, na Galeria do Convívio, em 1964.
Depois de expor em todo o país (Lisboa, Porto, Coimbra, Amadora, Almansil e Açores), José de Guimarães levou o nome da sua cidade até Espanha ( La Rioja, Madrid e Barcelona), França (Paris e Rouen), Itália (Milão e Veneza), Bélgica (Antuérpia, Bruxelas, Ghent e Kruishoutem), Holanda (Amesterdão), Alemanha (Estugarda e Manheim), Suíça (Grenchen, Zurique e Basileia), Áustria (Salzburgo), Suécia (Estocolmo), Brasil (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo), Estados Unidos (Los Angeles e Chicago) e Japão (Tóquio).
As suas obras integram o espólio de todos os principais Museus de Arte Contemporânea em Portugal, e o de inúmeros museus e colecções públicas dos quatro cantos do Mundo, como são os casos de Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Angola, Israel, Macau, Coreia do Sul e Japão.
A partir do passado dia 24 de Junho, o seu nome fica fisicamente gravado na cidade, com a inauguração do Centro Internacional das Artes José de Guimarães...
Fernão Rinada
Fontes de Pesquisa
Biografia no sítio do Instituto Camões Portugal
Dom Afonso Henriques terá sido, muito provavelmente, o mais ilustre de todos os ilustres vimaranenses e, quiçá, de todos os portugueses.
Não fora ele, e a determinação que teve durante toda a sua vida, e hoje estaríamos reduzidos a uma mera província espanhola, provavelmente mais pobre e atrasada do que a própria Andaluzia.
Contra tudo e contra todos, mesmo contra os do seu próprio sangue, Afonso Henriques haveria de lograr os seus intentos.
E o seu pensamento era só um - conseguir a independência do Reino de Leão.
Na sua cabeça, uma miríade de imagens onde proliferavam as de castelos e escudos, mas principalmente a imagem do território que haveria de conquistar pelo fio da espada.
Não obstante todos estes pensamentos, era a fundação de uma nova nacionalidade, a verdadeira menina dos seus olhos.
Por isso, e para isso, nunca Afonso Henriques enjeitou uma batalha durante toda a sua vida, ainda que todas as circunstâncias pudessem estar contra si.
Nunca Afonso Henriques virou a cara à luta.
Não virou quando teve de enfrentar os cinco reis mouros na batalha de Ourique, nem mesmo quando Geraldo Sem Pavor o convenceu a enfrentar uma batalha impossível – a da conquista de Badajoz.
É esta coragem e esta tenacidade que ainda hoje conseguimos encontrar nas gentes de Guimarães, orgulhosas das suas tradições e do seu passado, nunca descurando contudo a construção do seu futuro.
Conquistamos o direito de ser, durante 1 ano, uma das duas Capitais Europeias da Cultura, desiderato apenas alcançado antes, por Lisboa e Porto.
Contra todas as circunstâncias e probabilidades, contra tudo e contra todos, Guimarães, como outrora Afonso Henriques, conseguiu vencer uma batalha em que tão poucos acreditavam.
E é aqui que se encontra a prova de que foi a Guimarães e aos vimaranenses que Afonso Henriques deixou o seu legado.
Enquanto outros se entretêm a discutir o local onde nasceu, os vimaranenses demonstram diariamente serem eles os verdadeiros herdeiros do espírito guerreiro e conquistador d’El-Rei D.Afonso Henriques.
Mas não foi apenas isso que a cidade conseguiu.
Querendo ir sempre mais além, os vimaranenses fazem agora questão de mostrar aos Velhos do Restelo, aos cépticos e aos invejosos, que não foi por mero acaso que conquistamos esse direito.
Conquistamo-lo porque acima de tudo o merecemos.
A verdade é que, com um orçamento infinitamente mais pequeno do que o das outras CEC portuguesas, já estamos a dar uma verdadeira lição sobre o modo como deve ser vivida uma Capital Europeia da Cultura. Não pela força do dinheiro, mas antes pela força e pelo entusiasmo de quem quer participar activamente nesta manifestação cultural.
Guimarães não se limita a assistir. Guimarães faz questão de participar.
Fosse El-Rei ainda vivo, e estaria com toda a certeza orgulhoso do seu povo - o povo de Guimarães...
José Rialto
(caricatura publicada no blogue Humorgrafe)
Fontes de pesquisa:
Fotografia de estátua de Dom Afonso Henriques (em Guimarães)
Raul Germano Brandão nasceu no Porto, a 12 Março 1867.
Com 24 anos de idade, entrou para a Escola do Exército, dando início a uma carreira militar, aparentemente mais imposta do que propriamente desejada.
Nas suas Memórias, Raul Brandão escreveu...
“Na Escola do Exército ensinavam, no meu tempo, coisas inúteis que me deram mais trabalho a esquecer que a aprender”
Na realidade, a carreira militar não se adequava à sua natureza pacífica e contemplativa, mas a vontade do pai e o desejo de sua mãe de o ver garbosamente uniformizado, prevaleceram.
No registo das provas que prestou em 1893, no Regimento de Infantaria nº 6 (no Porto), figuram as seguintes elucidativas classificações...
“Tiro: atirador de 2ª classe; ginástica: medíocre; esgrima: medíocre”
A verdade é que foi graças ao serviço militar que conheceu a sua futura mulher quando, em 1896, Raul Brandão foi colocado no Regimento de Infantaria nº 20, em Guimarães.
A sua paixão por Maria Angelina foi de tal maneira arrebatadora que no ano seguinte já estava casado.
Durante a sua vida, manteve duas carreiras paralelas – a de militar e a de jornalista –, mas foi como escritor que o seu nome ficou conhecido para a posteridade.
A sua carreira militar levou-o a Lisboa, até que em 1912, com 45 anos de idade, se reformou no posto de Major, dando início à fase mais profícua da sua actividade literária.
Foi na Casa do Alto, em Nespereira (Guimarães), que Raul Brandão conseguiu a inspiração necessária para escrever a maior parte da sua obra.
Em 1917, escreveu aquela que é considerada a sua obra-prima – "Húmus" –, dedicada ao seu amigo Columbano Bordallo Pinheiro.
Em 1923, escreveu “Os Pescadores”, que deveria ser o primeiro de quatro volumes de uma série a que pretendia dar o nome de "A História Humilde do Povo Português". Os outros três volumes, porém ("Os Lavradores", "Os Pastores", "Os Operários"), nunca chegaram a ser escritos.
Em 1926, escreveu “As ilhas desconhecidas”, obra que na altura deu uma enorme visibilidade ao arquipélago dos Açores.
Raul Brandão faleceu em 1930, com 63 anos de idade.
Em homenagem a este escritor, a Biblioteca Municipal de Guimarães tem o seu nome…
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Esta auto-caricatura refere-se ao ano de 1996, e à missão que cumpri em Angola, ao serviço das Nações Unidas.
Tratou-se de uma missão de três meses, como oficial médico da CLog6 (Companhia de Logística nº6), no âmbito da UNAVEM III (United Nations for Angola Verification Mission).
A CLog6 tinha a sua base na cidade do Huambo, com destacamentos em Viana (nos arredores de Luanda) e no Lobito.
Durante os dois meses que estivemos na Zona Militar dos Açores (ZMA), integrados no destacamento do Centro de Classificação e Selecção do Porto (CCSP), houve necessidade de fazer algumas inspecções domiciárias a mancebos que, por apresentarem limitações várias, estavam incapacitados de se deslocar aos centros onde decorriam as respectivas inspecções (Ponta Delgada e Angra do Heroísmo).
Em meados de Maio, uma pequena equipa constituída pelo Tenente-Coronel PQ Festas Esteves (Comandante do Destacamento), por mim próprio (Tenente Médico) e pelo Tenente Albuquerque, deslocou-se às ilhas do Faial e do Pico, com a missão de fazer algumas dessas inspecções domiciliárias.
À equipa, juntou-se mais tarde o Major Leite.
Ao fim da tarde do dia 13 de Maio, subimos ao ponto mais alto de Portugal - o Pico. Ultrapassamos o espesso manto de nuvens que nos acompanhou durante a maior parte da subida, e pudemos assim ver o primeiro cenário deslumbrante - um "chão de nuvens" que antes só tinha visto no pico do Arieiro, na Madeira.
Às três horas de subida, alcançamos o topo, mesmo a tempo de ver um pôr-do-sol absolutamente inesquecível, e de brindarmos com champagne Moët & Chandon, expressamente comprado para esse efeito.
A noite que passamos no topo do Pico terá sido com certeza a minha pior experiência em termos de rigor do clima. Imagine-se o que foi passar uma noite, ao relento e ao vento, 2351 metros acima do nível do mar, no meio do Oceano Atlântico, num dia de Maio, enfiados num buraco no meio de um solo rochoso e agressivo. Foi indescritível. Nunca na minha vida tive tanto frio como naquela noite. O frio era tanto, tremíamos tanto, que metade do champagne se perdeu no meio daquelas rochas vulcânicas.
Mas essa noite reservou-nos muito mais do que apenas sofrimento. Proporcionou-nos outras memórias que jamais esqueceremos.
A noite era escura, e podíamos ver os pontos luminosos da cidade da Horta, no Faial, ou da vila das Velas, mesmo ao nosso lado na ilha de São Jorge.
Vimos um céu tão estrelado como eu nunca imaginei que ele pudesse ser.
E vimos o sol nascer, projectando a sombra do Pico ao longo do mar, mesmo à nossa frente.
Foi, de facto, uma experiência inesquecível, de sofrimento sim, mas principalmente de cenários absolutamente deslumbrantes.
Por isso, a subida ao Pico, foi uma das piores e uma das melhores experiências que tive até hoje...
O Major Leite integra a equipa destacada pelo Centro de Classificação e Selecção do Porto (CCSP), para a inspecção de mancebos no Arquipélago dos Açores...
... existe neste Arquipélago alguém mais bonito do que eu?
O Tenente Francisco Albuquerque, oriundo da arma de Cavalaria (Polícia do Exército), faz parte integrante do Destacamento de Classificação e Selecção do Porto (CSSP) para a inspecção de mancebos da Zona Militar dos Açores (ZMA)...
O Tenente Médico Paraquedista Rui Cordeiro, entrou comigo nos Serviços de Saúde do Exército, em 1995.
Colocado no CTAT, em Tancos, encontra-se a fazer o internato da especialidade de Cardiologia...
O Capitão Comando Manuel Antunes, é um observador militar da UNAVEM III, e está colocado na cidade do Huambo...
O Capitão Francisco Duarte, era o 2º Comandante da CLog6. Oriundo da arma de Infantaria, era também um benfiquista ferrenho.
Na sua caricatura, está representado o mapa de Angola, e os elementos que fazem parte do escudo da Companhia: o molhe de cereais, que simboliza a logística, e as seis rodas que simbolizam, por um lado o número da Companhia e, por outro a sua função de transporte...
O Major Martins da Fonte, também conhecido pelo "Leão do Bailundo", é oficial da GNR e Observador da ONU no processo de desarmamento e acantonamento das forças da UNITA, no âmbito da UNAVEM III.
Pertence ao Team Site do Bailundo.
O Maj Martins da Fonte foi Comandante da GNR de Guimarães...
O Capitão Paulo Veloso era o Oficial de Operações e Informações da CLog6. Era também o meu companheiro de tenda, no acampamento da Companhia, no Huambo...
O Major de Infantaria Manuel Caroço Prelhaz, é o Comandante da Companhia de Logística nº6 (CLog6), força integrante da UNAVEM III, sediada na cidade do Huambo...
O Capitão da GNR, Paulo Pinheiro, está colocado em Vila Nova (perto do Huambo), como observador da ONU, na missão UNAVEM III...
Esta foi a caricatura que desenhei para o meu Livro de Curso.
O seu significado está obviamente relacionado com a minha origem vimaranense. Numa postura semelhante à de Dom Afonso Henriques, empunhando o pincel e a paleta com as cores da faculdade que me formou (o Instituto de Ciências Biomédicas "Abel Salazar", no Porto). O curso de Medicina está ainda simbolizado pela serpente enrolada no pincel, pela bata e pelos livros que me sustentam...
A progressão das Forças Aliadas no terreno iraquiano era esmagador mas, apesar de tudo, Saddam Hussein continuava a apregoar aos sete ventos o sucesso da sua estratégia e a vitória do seu exército...
(cartoon publicado no jornal Toural)
Caricatura do Tenente Sampaio Silva, que foi o meu instrutor da Especialidade de Atirador de Infantaria do Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra.
Este desenho foi feito no caderno de apontamentos que sempre nos acompanhava. Como é evidente, o meu não servia só... para apontamentos...
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