Pedro Emanuel Pereira nasceu em Guimarães, no ano de 1990.
Iniciou a sua formação em piano com apenas 5 anos, em Vila Nova de Famalicão. Prosseguiu os seus estudos em Braga, e concluiu-os já em Guimarães, na Academia de Música Valentim Moreira de Sá (hoje Conservatório de Guimarães).
Tinha apenas 15 anos quando conquistou a International Piano Competition “City of San Sebastian”, apesar de ter competido no escalão etário acima do seu (até aos 24).
Aos 16 anos, fez a sua estreia na Casa da Música, no Porto.
Em 2014 conquistou o 1º prémio e o prémio Hvorostovsky no “Piano Voce” International Competition (em Moscovo), e em 2017 o “Santa Cecília” International Competition (no Porto).
Ao todo, Pedro Emanuel Pereira já venceu mais de 2 dezenas de competições internacionais de piano.
Graduou-se com distinção nas Academias de Moscovo e Amesterdão.
Os seus estudos em Moscovo incidiram sobre a obra de Prokofiev e Rachmaninov.
Ao longo de todo o seu trajecto formativo, Pedro teve aulas com Marian Pivka, e foi discípulo de Vera Gornostaeva (em Moscovo) e Naum Grubert (em Amesterdão).
Hoje, é um dos mais virtuosos pianistas da sua geração.
Durante a sua estadia na Rússia, fez mais de 200 concertos (a solo, com orquestra e com grupos de música de câmara).
Participou em festivais por todo o Mundo (Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Dinamarca, Eslováquia, Ucrânia, Índia, Tailândia e Estados Unidos), para além claro dos 3 países onde fez a sua formação.
Desde 2018, é Assistente do Professor Naum Grubert, no Conservatório de Amesterdão.
Mas Pedro Emanuel Pereira é também um talentoso compositor.
Depois do sucesso que foi o seu primeiro CD (“Russian Journey”), este ilustre músico vimaranense acaba de lançar outro, com o título “Sons da Minha Terra”...
Miguel Salazar
José Alberto Cibrão Afonso Reis nasce em Guimarães, a 27 de Dezembro de 1961.
Em 1983 faz o seu primeiro espectáculo ao vivo, em Marco de Canaveses, onde interpreta "Nesta tarde sem fim" (poema de Fernando Pessoa). No entanto, só inicia a sua carreira profissional em 1986, ao assinar contrato com a EMI Valentim de Carvalho.
Em 1987 lança o seus primeiros singles - "Amo-te" (Disco de Prata) e "Setembro".
Em 1988, "Sonhando" é o seu primeiro Disco de Ouro.
Em 1989, o disco "Abraça-me Assim" é Disco de Prata, e José Alberto Reis classifica-se em 4º lugar no XXV Festival RTP da Canção, com "Palavras Cruzadas", de Carlos Paião.
Em 1990 vê editado o seu primeiro álbum - "Encanto" -, já com a editora Vidisco.
O álbum "Alma Rebelde" (de 1994) virá a ser Disco de Ouro em 1996.
Em 1998 é eleito "Rei da Canção Popular".
Em 2001 lança os discos "Mágoa" (em que metade dos temas são da sua autoria), e "Dois Amigos" (dueto com o cantor brasileiro Vinícius).
Em 2006 comemora 20 anos de carreira com a gravação ao vivo de um CD duplo e de um DVD, com os seus maiores êxitos.
A sua filha Helena Isabel já o acompanhou num dos seus espectáculos (no Coliseu dos Recreios), integrando um Coro Infantil, na canção "Vieste ao Mundo para ser Feliz", no ano de 2007.
Em 2009 edita o álbum "Espero Por Ti", em 2011, o CD "Destino" e, em 2014, o disco "Eterno".
O seu filho Luís Gonçalo também seguiu as pisadas do pai, mas num género completamente diferente - é guitarrista no grupo de Heavy Metal "Junkywax".
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
José Salgado da Silva Perdigão nasce em Guimarães, a 22 de Janeiro de 1971.
Zé Perdigão, como é conhecido no meio artístico, inicia a formação musical na sua freguesia-natal (Fermentões), no Centro Cultural e Recreativo e no Orfeão Litúrgico Coral.
Na década de 90 vence por várias vezes o Festival “Guimarães a Cantar” e passa a integrar várias bandas Pop/Rock.
Em 2008 é convidado por José Cid para gravar o seu primeiro disco – “Os Fados do Rock” –, que se transforma num enorme sucesso.
É convidado por Francisco Ribeiro (dos Madredeus), para gravar “A Junção do Bem”, com Tanya Tagaq, Filipa Pais e Natália Casanova, acompanhado pela Orquestra Nacional do Porto
Em 2009, Zé Perdigão é convidado para abrir o espectáculo de José Cid no Campo Pequeno (Lisboa).
Em 2010, faz a 1ª parte do espectáculo de Michael Bolton, no Coliseu dos Recreios de Lisboa, entrando depois em digressão nacional, com o concerto “Zé Perdigão & Outros Fados”.
Em 2011, dá início à gravação do disco “Sons Ibéricos”, produzido por José Cid.
Em 2012, faz a estreia deste trabalho discográfico na Capital Europeia da Cultura, Guimarães ‘2012, participa no espectáculo de homenagem a António Variações, entra em digressão nacional com André Varandas, cantando temas de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira e, em Outubro, parte para o Chile, a convite do Maestro Júlio Ortiz e da Embaixada de Portugal naquele país da América do Sul. Até ao final deste ano, Zé Perdigão faz uma série de 17 espectáculos (com lotações esgotadas e com um enorme sucesso) no Chile, na Argentina e ainda no Uruguai.
Zé Perdigão tem uma formação musical variada, com influência de músicos portugueses e sul-americanos, como André Varandas, os chilenos Jorge Prado e Jorge Coulon, o uruguaio Andres Stagnaro, e o equatoriano Max Berrú.
Ainda durante o anos de 2013, edita o álbum "Sons Ibéricos" e também a sua versão espanhola ("Sonidos Ibéricos"), com poemas de Pablo Neruda, Federico Garcia Lorca e Gabriela Mistral.
Em 2014, é agraciado com o título de “Cidadão Honorário” da cidade de Buenos Aires (Argentina), distinção atribuída pela primeira vez a um artista português.
Em 2016, e a convite da Embaixada de Portugal em Cabo Verde, Zé Perdigão canta a bordo do Navio-Escola Sagres. O veleiro deixa Portugal em direcção ao Rio de Janeiro, para levar a bandeira portuguesa até aos Jogos Olímpicos, naquela cidade brasileira. Fazendo escala na Cidade da Praia, em Cabo Verde, actua para a Delegação do Comité Olímpico de Portugal.
Desde Abril de 2016, Zé Perdigão passa a residir em Cabo Verde, preparando o seu próximo disco, num registo de Mornas, Coladeiras e Batuko.
Em 2018 dá a conhecer a música "Nha Terra", uma lindíssima morna. Está ainda previsto para 2018, o lançamento do seu novo disco "EnCanto".
Fernão Rinada
Gaspar Roriz,
o padre-artista
O Padre Gaspar da Costa Roriz é uma das figuras incontornáveis das primeiras décadas do século XX em Guimarães. Nascido na rua de D. João I no dia 30 de Agosto de 1865, filho de um mestre barbeiro, nunca esqueceu a sua origem humilde nem deixou de amar a terra que o viu nascer. Sacerdote e eminente orador sagrado, era frequentemente requisitado para abrilhantar solenidades religiosas nos lugares mais diversos. Mas os seus dotes oratórios não se limitavam a actos sagrados, sendo senhor de uma verve prodigiosa com que animava todo o género de eventos, públicos ou privados. Foi jornalista (em 1899 era redactor principal do Eco de Guimarães; em 1908 fundou o Regenerador, de que era director e proprietário), professor do Liceu, poeta, dramaturgo, encenador, conferencista, político, comissário da Ordem Terceira de S. Francisco de Guimarães. Grande conversador, era presença imprescindível nas tertúlias do seu tempo, onde se destacava pela cultura, pela devoção patriótica à sua cidade e pela finura da sua ironia. Padre-artista lhe chamou um dia um colega de ofício.
Gaspar Roriz foi um dos grandes animadores das festas dos estudantes de Guimarães a S. Nicolau, desde o seu ressurgimento em 1895. Escreveu pregões, compôs e ensaiou os textos das danças, dedicou diversas composições poéticas às festas. Dedicou-lhes também o Auto da Saudade, que compôs em 1920. Não foi por acaso que foi a Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães, então dirigida por António Faria Martins, a tomar a iniciativa de comemorar o centenário do seu nascimento, em 1965.
O seu nome é também indissociável das festas Gualterianas, ou não fosse ele o autor da letra do Hino da Cidade de Guimarães, composto por Aníbal Vasco Leão para as festas de 1906, e o inventor da Marcha Gualteriana, que saiu à rua pela primeira vez nas festas de 1907.
Mas o que mais distinguia o Padre Roriz era a sua dedicação a Guimarães, a sua paixão pela terra natal. Por aqui, todos sabiam que a porta da sua casa nunca deixava de se franquear alegremente a quem a ela batia e dizia a senha: Por Guimarães!
A última grande cerimónia em que discursou em público foi aquando da celebração do oitavo centenário da Batalha de S. Mamede, em 1928. Nesse dia, quando soaram os clarins de um pelotão de cavalaria, vestidos como os soldados de Afonso Henriques, acompanhando o içar da bandeira na torre de menagem do castelo, e a multidão explodia em vivas e aplausos, pelo rosto do Padre Roriz corriam lágrimas de que A. L. de Carvalho foi testemunha.
A notícia da sua morte cobriu Guimarães de luto no dia 7 de Março de 1932.
António Amaro das Neves
(publicado na revista Mais Guimarães - pág.51)
"Mais quero um asno que me carregue do que um cavalo que me derrube"
Gil Vicente, em Farsa de Inês Pereira
Gil Vicente nasceu em Guimarães, por volta do ano de 1465.
Há quem defenda a possibilidade de o seu local de nascimento ter sido outro, mas essas hipóteses são menos prováveis. Gil Vicente foi um afamado Mestre Ourives e Joalheiro e uma das suas obras-primas foi a Custódia de Belém. O facto de se ter dedicado a estas artes é um dos argumentos mais fortes que tem levado os historiadores a considerá-lo como tendo origem vimaranense uma vez que, nessa altura, Guimarães era um dos centros mais importantes da Ourivesaria e da Joalharia em Portugal.
Gil Vicente celebrizou-se essencialmente como dramaturgo, embora também tivesse sido poeta. Foi o Pai do Teatro Português, e até do Ibérico. Apesar de existirem registos de vários outros nomes que o precederam, a verdade é que é inegável a sua crucial importância na História da dramaturgia portuguesa. Para além de autor, foi também músico, actor e encenador.
A obra de Gil Vicente no seu todo é essencialmente um retrato satírico da sociedade portuguesa do século XVI. Foi autor de mais de quatro dezenas de peças de teatro, de entre as quais se destacam o Auto da Barca do Inferno e a Farsa de Inês Pereira.
Gil Vicente morreu por volta do ano de 1536.
A Câmara Municipal de Guimarães decidiu honrar o seu mais ilustre dramaturgo, atribuindo o nome de Gil Vicente à rua que liga a Avenida Conde de Margaride ao Largo Navarro de Andrade, e ainda à Escola Básica 2/3, localizada na freguesia de Urgezes.
O seu nome foi também atribuído ao principal festival de teatro da cidade (Festivais Gil Vicente), que se realiza ininterruptamente desde o ano de 1987.
A mais famosa estátua de Gil Vicente, da autoria de Francisco Assis Rodrigues (1842), coroa o frontão da fachada do Teatro Nacional Dona Maria II, dominando toda a Praça do Rossio, em Lisboa.
Fernão Rinada
Fontes de Pesquisa:
Estátua de Gil Vicente, em Lisboa (blogue Terra dos Espantos)
A caricatura de Salvador Ribeiro de Sousa é obviamente uma criação livre, uma vez que não existe qualquer registo das suas verdadeiras feições.
No entanto, a sua caracterização respeita escrupulosamente a descrição feita pelo Padre Manuel de Abreu Mouzinho.
No pouco espaço livre que restou para a minha imaginação, procurei simbolizar o enquadramento histórico da figura deste herói vimaranense.
A coloração das plumas do seu morrião e o brocado da casaca e dos calções, simbolizam as cores de Leão e Castela, a quem nessa altura estávamos subjugados.
Mas é no interior da sua casaca que reside a verdadeira essência do povo português: enquanto a face exterior representa o domínio estrangeiro, a interior pretende simbolizar a indomabilidade do nosso Povo, através do brasão da Realeza portuguesa, bordado a vermelho, como é característico dos bordados de Guimarães.
Ao pescoço, a Comenda da Ordem de Cristo que mais tarde viria a receber.
E no seu braço esquerdo, um “escudo fino” com a mesma decoração do escudo do Guimarães das “duas caras”, escultura que encima a antiga Casa da Câmara e que domina a Praça da Oliveira.
Neste baixo-relevo está assim representada mais uma vez a nossa ânsia pela restauração da independência, em que as raízes de uma oliveira (outro símbolo vimaranense) dominam e derrotam o leão espanhol.
Miguel Salazar
O outro rei de Guimarães
A história extraordinária do vimaranense Salvador Ribeiro de Sousa
Hoje quase esquecido, Salvador Ribeiro de Sousa é uma das figuras mais extraordinárias da epopeia dos portugueses na Ásia. Nasceu em Guimarães e foi rei na Birmânia. Para a história ficou conhecido como Massinga, o rei do Pegu.
Quase tudo o que sabemos sobre Salvador Ribeiro de Sousa é o que nos conta o padre Manuel de Abreu Mouzinho: veio ao mundo no lugar de Quintães, do antigo Couto de Ronfe, no termo de Guimarães. Era filho de Frutuoso Gonçalves de Sousa, sendo “de limpo e nobre sangue”. Provavelmente por não ser o primogénito, seguiu o destino de muitos filhos segundos da nobreza do seu tempo: em Março de 1587 fez-se ao mar e partiu para a Índia, em busca de riqueza e glória. Com ele embarcaram dois dos seus irmãos, que nas paragens do Índico em vez da fortuna que procuravam, encontraram a sepultura. Como tantos outros, morreram “gloriosamente em serviço de Deus e de El-Rei”.
Ao longo dos treze anos que se seguiram à sua partida de Lisboa, Salvador levou uma vida aventurosa, envolvendo-se em expedições militares em que se destacou pela bravura de soldado e pela prudência de capitão. No Ceilão chegou a capitão duma companhia. Aí permaneceu seis anos, até ao dia em que decidiu que era tempo de regressar a Portugal, para demandar do rei a retribuição que lhe era devida pelos seus serviços e pelos dos seus desafortunados irmãos. A viagem para Goa, onde iria embarcar para Lisboa, foi interrompida pelo mau tempo, que forçou o barco em que seguia a fundear no porto de Sirião, na foz do rio Pegu. Corria o mês de Junho de 1600 e a terra a que aportava vivia tempos conturbados. Havia poucos dias que, após longos anos de guerras sangrentas, o cruel rei do Pegu se rendera ao seu vizinho de Tangut, ficando o seu reino exposto à cobiça dos príncipes reinantes nas terras vizinhas, entre os quais se destacava o rei de Arracão, que por esses dias estava em Sirião, à frente de uma armada composta por uma centena de baixéis.
Foi em Sirião que Salvador Ribeiro conheceu Filipe de Brito de Nicote, mercador de Lisboa que há duas décadas tentava a fortuna na Ásia, e que então andava no séquito do rei de Arracão, exercendo o ofício de changá (vedor da fazenda). Discorrendo ambos sobre “o miserável estado a que estava reduzida esta monarquia tão opulenta”, e percebendo Salvador que seria vantajoso para a presença portuguesa na Ásia o estabelecimento duma feitoria naquelas paragens, obteve licença do rei de Arracão para edificar uma casa de mercador em Sirião. Todavia, em vez de uma casa, Salvador começou a erguer secretamente uma fortaleza.
O rei de Arracão não demorou a perceber que Salvador Ribeiro não era mercador, mas sim capitão de guerra, e que o que estava a ser construído não era a casa de comércio que tinha autorizado. Logo se arrependeu do consentimento que dera de boa fé, decidindo livrar-se da ameaça que via erguer-se em terras do reino que acabava de fazer seu. Juntou uma numerosa armada, que fez descer o rio, convencido de que lhe seria fácil desbaratar os portugueses. Porém, Salvador Ribeiro, tendo notícia do que se preparava, saiu ao encontro dos atacantes, subindo o rio com “três batéis velhos de umas naus de mercadores, que ali tinham ficado, e com trinta soldados portugueses que tinha, providos de escopetas, alcanzias de pólvora e lanças de fogo (porque não tinha artilharia)”. Ao maior número e à maior força do inimigo, respondeu o capitão vimaranense com as vantagens da surpresa e da ciência militar, atacando onde não era esperado. Assim que chegou à vista da armada do rei de Arracão, “investiu com tal braveza e esforço, que por mais que os inimigos se procuraram defender, como foram apanhados de repente, e as balas e alcanzias começaram a chover com morte de muitos dos inimigos, obrigou-os a porem-se em infame fugida, lançando-se uns à água, outros saltando em terra, e os que se achavam mais apartados, pondo a esperança de sua salvação na força dos remos, tornaram com diferente velocidade por onde tinham vindo”.
Corriam os primeiros dias do ano de 1601 quando o nome de Salvador Ribeiro de Sousa começou a ser pronunciado com respeito e temor pelos príncipes das terras vizinhas. Porém, não tardaria até que os portugueses de Sirião voltassem a estar sob o fogo inimigo. O banhá (título atribuído no Pegu à principal autoridade, a seguir ao rei) Lao assentou arraial junto à fortaleza, à frente de um exército composto por mais de seis mil homens, com o propósito de a destruir e de eliminar os que a defendiam. Porém, o perigo aguçava a argúcia e o destemor de Salvador Ribeiro. No silêncio da noite, investiu no acampamento dos sitiantes, “entrando com grande silêncio pelas barracas, achando os inimigos sepultados no sono e descuidados, não parou até chegar à do banhá Lao, ao qual, conhecendo-o pelo aparato e insígnias, levou nos braços com tanta força e esforço, que em pouco espaço o privou da vida”. Os portugueses chegaram fogo às tendas dos sitiantes que, tomados pela confusão e pelo pânico, dispersaram na maior desordem.
Mas as provações de Salvador Ribeiro de Sousa ainda estavam longe de terminadas. Logo em seguida, foi atacado pelo muito poderoso banhá Dalá, que jurara vingar a morte do banhá Lao, de quem era sogro. Durante mais de meio ano, a fortaleza portuguesa de Sirião ficou sob cerco, sujeita a terríveis assaltos. Por todo aquele tempo, Salvador Ribeiro enfrentou as maiores adversidades, os combates desiguais, a fome, o desânimo e a insubordinação e deserção dos seus soldados, de que apenas sobrariam dezoito para enfrentar um formidável exército. A tudo resistiu, até ao dia em que, com o socorro de algumas naus de mercadores que aportaram em Sirião, conseguiu romper o cerco inimigo. Daqueles dias lhe ficou uma cicatriz de uma ferida que lhe rasgou a face desde a orelha esquerda até à boca. Bem maiores foram as perdas infligidas ao inimigo.
Entretanto, correndo a notícia de que o rei do Pegu tinha sido morto às mãos do seu cunhado, o rei de Tangut, os banhás e xemins (capitães) daquelas terras, reconhecendo que o sentido de justiça e a rectidão de Salvador Ribeiro de Sousa igualavam a bravura com que alcançara as suas assombrosas vitórias, decidiram proclamá-lo rei. Com a aprovação do rei de Tangut, o português foi aclamado rei Massinga do Pegu, entregando-lhe a lâmina de ouro que simbolizava o poder real. Assim se cumpria uma antiga profecia, há muitos anos inscrita pelos sacerdotes nos livros sagrados, segundo a qual o senhorio daquele reino, depois de muitas provações, seria entregue a “homens estrangeiros de rostos e dentes alvos, e cabelo cortado”. E foi assim que Salvador Ribeiro de Sousa, vimaranense de Ronfe, se fez rei na Birmânia e foi adorado quase como uma divindade pelos seus súbditos, que lhe chamavam Quiay Massinga, que significa “deus da terra”.
Mas, se os naturais reconheceram o mérito de Salvador Ribeiro nas vitórias e nos sucessos dos portugueses naquelas paragens da Ásia, o mesmo não fizeram os seus. Enquanto Salvador Ribeiro trazia, a duras penas, o reino do Pegu para os domínios portugueses, Filipe de Brito e Nicote insinuara-se junto vice-rei da Índia portuguesa, Aires de Saldanha, de quem recebeu honras de capitão e uma sobrinha para desposar, para além de carta de patente de Capitão-mor e Conquistador de Pegu, para cuja conquista em nada contribuíra.
À ingratidão, Salvador Ribeiro de Sousa responderia, contra a vontade dos seus soldados e dos peguanos, com “um dos mais subidos toques de lealdade e grandeza de ânimo, que tem sucedido em muitos séculos”, afirmando-se vassalo do rei de Portugal, pelo que “com ânimo sossegado e obediente entregava a quem seu vice-rei lhe mandava, ainda que contra razão, e justiça”, sujeitando-se a “honrar com o sangue, que ele derramara, a Filipe de Brito, que seguro, e regulado, estava dali mais de duzentas léguas sem entrar em Pegu todo o tempo da guerra, e agora que estava um paz, vir gozar do proveito, e honra alheia”.
Entregue o reino do Pegu a Nicote, Salvador Ribeiro decidiu que era tempo de terminar a viagem que iniciara três anos antes, e que a inclemência do tempo interrompera, fazendo- o aportar em Sirião. Mas o vimaranense ainda teria novo ensejo para demonstrar a sua lealdade à coroa portuguesa e aos que o um dia o aclamaram rei. Enquanto aguardava a partida para a Índia, recebeu a notícia de que um tal Banca Capitão reunira grande número de homens e se entrincheirara na cidade de Pegu, impedindo que as mercadorias chegassem a Sirião. Vendo que Filipe de Brito nada fazia, “quis Salvador Ribeiro compor aquele motim e apagar aquelas faíscas”, embarcando com uma força de duzentos portugueses e alguns ximins, ao encontro dos amotinados. E, “como aquela gente era de pouca importância, e seu Capitão com os demais trazia sempre representado na memória o nome de Massinga Rei, foi tal o temor, que entrou neles, que com facilidade desamparam a Cidade, não a tão pouca custa sua, que os nossos deixassem de levar alguns navios carregados de cabeças de inimigos em sinal do que tinham trabalhado”.
Por uma última vez, “entrou como costumava Salvador Ribeiro vitorioso na fortaleza”.
Algum tempo depois, em Março de 1603, Salvador Ribeiro partiu rumo a Portugal, “deixando aquele Reino, em que Deus o levantara ao alto da humana felicidade, regado com seu sangue, possuído de outro, com ânimo mais generoso do que se pode encarecer, em Março de mil e seiscentos e três anos deu as velas ao vento de largas esperanças, que de ordinário se desfazem naquilo de que se sustentam”.
Do mais da vida deste herói vimaranense pouco sabemos de certo, a não ser que, no ano de 1608, foi inscrito no Livro de Matrícula dos Cavaleiros da Ordem de Cristo. Alguns autores dizem que se recolheu à terra que o viu nascer, onde teria terminado os seus dias mergulhado na mais triste pobreza. No entanto, é muito provável que tenha vivido os seus últimos anos em Alenquer, numa situação económica que andaria longe da pobreza. Terá contribuído com um avultado donativo para o restauro do oratório do pequeno convento de franciscano de Santa Catarina daquela vila, em cuja capela seriam depositados os seus restos mortais. Numa das paredes das ruínas da Casa do Capítulo daquele recolhimento, ainda subsiste uma lápide onde se lê:
Salvador Ribeiro de Sousa, Comendador de Cristo,
natural de Guimarães, a que os naturais do reino de Pegu
elegeram por seu rei.
Quanto a Nicote, que tinha tanto de ambição como Salvador Ribeiro acumulava de bravura e de desprendimento acabaria os seus dias em 1613, pendurado na forca de Sirião. E, suprema ironia, a sua cabeça lá ficou, espetada num pau num dos adarves da fortaleza que Salvador Ribeiro de Sousa erguera e que ele não soubera conservar.
Nota: os fragmentos deste texto colocados entre aspas são citações do ““Breve discurso em que se conta a conquista do reino de Pegu”, de Manuel de Abreu Mouzinho.
António Amaro das Neves
NOTAS ADICIONAIS
O Pegu
Pegu, a que os locais chamam Bago, é o nome de um rio e de um antigo reino da Birmânia, actual Myanmar. No início do século XVII, Sirião, hoje Thanlyin, a povoação onde o vimaranense Salvador Ribeiro de Sousa fez erguer a sua fortaleza, era o mais importante entreposto comercial do Sul da Birmânia, situando-se na confluência do rio Pegu com um dos braços do delta do rio Irauádi.
Salvador Ribeiro de Sousa na literatura
O breve reinado de Salvador Ribeiro de Sousa no Pegu, os seus feitos militares e a sua lealdade transformaram-no num herói quase lendário, cuja história preencheu muitas páginas de escritores portugueses.
O primeiro autor a tratar desta figura foi escrito por Manuel de Abreu Mouzinho, em castelhano, com o título “Breve discurso en que se cuenta la conquista del reyno de Pegu en la India de Oriente, hecha por los Portuguezes desde el año de mil y seiscientos hasta el de 603, siendo capitan Salvador Ribero de Soza, natural de Guimarães, a quien los naturales de Pegu elegieron por su Rey”, publicada em Lisboa em 1617. A tradução em língua portuguesa, obra de autor desconhecido, aparecia no final da “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, a partir da edição de 1711. Esta obra é a fonte de quase tudo o que se escreveu sobre Salvador Ribeiro de Sousa, havendo diversos argumentos que depõem a favor da sua credibilidade: o autor foi, durante quase uma década, Ouvidor das Apelações, em Goa, escreveu sobre acontecimentos que haviam sucedido poucos anos antes da publicação da obra e, muito provavelmente, conheceu Salvador Ribeiro.
Ainda no século XVII, Manuel de Faria e Sousa, no 3.º Volume da sua “Ásia Portuguesa” (publicado a título póstumo em 1675), dá uma perspectiva diferente da de Mouzinho, sustentando que o título de Rei de Pegu não foi dado a Salvador Ribeiro, mas sim a Nicote. No entanto, não temos razões para dar, nesta matéria, mais credibilidade a Faria e Sousa do que ao padre Mouzinho, uma vez que escreve muito mais tarde, invocando “informações de pessoas de crédito”, que não identifica.
António Diniz da Cruz e Silva, o Elpino Nonacriense da Arcádia de Lisboa, dedicou a Salvador Ribeiro uma das suas Odes Pindáricas, publicada pela primeira vez em 1801, dois anos após a sua morte.
Inácio Pizarro de M. Sarmento, no seu “O Romanceiro Português, ou colecção dos romances de História Portuguesa”, editado em 1845, dedicou um romance ao Massinga.
António Francisco Barata, incluiu um poema dedicado a Salvador Ribeiro de Sousa, no seu Cancioneiro Português, publicado em 1866.
No capítulo XII no seu romance “O senhor do Paço de Ninães”, publicado pela primeira vez em 1867, Camilo Castelo Branco refere-se à figura de Salvador Ribeiro, pela qual não nutria grande simpatia. Numa nota de rodapé, afirma que “o maior obséquio que podemos fazer às cinzas de Salvador Ribeiro é não as remexer”, por o seu título de Massinga se fundar “na covardíssima degolação do rei daquele reino”.
Embora não se conheça qualquer descendência do nosso Massinga, o protagonista da peça de teatro O Rajah de Bounsuló, de Licínio F. C. de Carvalho, editada em livro em 1854, é filho de Salvador Ribeiro de Sousa. É ele Dom Vasco, aliás Dom Jaime, aliás, o rajá que dá título à obra.
Salvador Ribeiro de Sousa
Como sucede com tantas outras figuras da nossa história, a começar pelo rei fundador, não conhecemos nenhum retrato do Massinga vimaranense. No entanto, o padre Mouzinho descreve-o com suficiente detalhe: “vestido de gala à espanhola e posto sobre o colete de Anta peito espaldar, deitado à ilharga um largo, e outro alfange com as guarnições de ouro maciço, pendurado por uma liga de tafetá cor de ouro, no braço direito outra liga verde, insígnia de esperança, a qual movida do vento parecia uma formosa asa, na cabeça resplandecente morrião ornado com vistosas plumas, embraçado um escudo de fino aço com outra espada larga, que tomara ao pajem, casaca e calções de brocado, meias e ligas amarelas, e sapatos brancos; e como era mancebo, a barba de cor castanha, o rosto corado e bem proporcionado corpo, levou atrás de si os olhos dos próprios Soldados e inimigos”.
A esta descrição, Mouzinho acrescenta uma cicatriz no rosto desde a orelha esquerda até a boca, que lhe ficou do episódio do cerco do banhá Dalá à fortaleza de Sirião.
As ruas do Rei do Pegu
A toponímia vimaranense regista a memória do vimaranense que chegou a rei em terras da Birmânia em duas artérias, uma na freguesia onde nasceu, Ronfe, a rua Salvador Ribeiro de Sousa (Rei do Pegu), outra na cidade de Guimarães, a rua Rei do Pegu. Esta última é aquela por onde se entra no parque das Hortas, indo da rua Dr. José Sampaio. No entanto, se se perguntar a um vimaranense onde fica a rua com tal nome, é possível que a resposta aponte em direcção bem diferente.
Tanto quanto se sabe, já no século XIX teria havido uma sugestão para introduzir Salvador Ribeiro de Sousa na toponímia da cidade de Guimarães. No entanto, só muito mais tarde se consumaria essa consagração. Em sessão da Câmara Municipal realizada no dia 17 de Abril de 1950, o vereador Manuel Alves de Oliveira viu aprovada por unanimidade uma proposta para que se registassem na toponímia vimaranense alguns “nomes dignos de perpetuação” (S. Gonçalo, Salvador Ribeiro de Sousa, os Navarros de Andrade, o Conde de Arnoso, Guilherme de Castilho) e para que se desse ao caminho que termina no portão do cemitério da Atouguia o nome de rua da Saudade. Na justificação dessa proposta, pode ler-se:
“Outro nome “de alma lavada, coração nobre, peito esforçado e braço valente”
Na frase de Vilhena Barbosa – é o de Salvador Ribeiro de Sousa, que tendo partido para a Índia, na armada que saiu do Tejo em Março de mil quinhentos e oitenta e sete foi, por seus feitos arrojados, aclamado pelo gentio, Rei do Pegu. Este “herói de assinaladas vitórias, o símbolo de abnegação e o exemplo vivo do mais vivo amor da Pátria” como escreveu o nosso Padre António Caldas, no volume primeiro do “Guimarães” -, obedecendo às ordens de Aires Saldanha, então Vice-Rei da Índia, desceu com heróica abnegação do trono “a que o elevara o seu valor e a vontade de um povo, com dignidade verdadeiramente soberana”, para acabar seus dias em Alenquer, onde ficou sepultado no extinto convento de Santa Catarina.”
E assim Guimarães passou a ter uma “rua de Salvador Ribeiro de Sousa, Rei do Pegu”, situada entre a rua Francisco Agra e a actual Alameda Alfredo Pimenta e dando acesso à antiga ponte de Santa Luzia. Mas não por muito tempo: essa designação cairia depois do 25 de Abril, passando aquela rua a ostentar a sua designação actual (rua dos Bombeiros Voluntários). Porém, o apagamento do nome do Massinga da toponímia vimaranense esteve na origem de uma polémica que se prolongou pelos anos fora, até ao dia em que a Câmara Municipal aproveitou a requalificação da zona das Hortas para reparar uma injustiça, baptizando uma das novas artérias com o nome que estava em falta. Ficou a chamar-se, simplesmente, rua Rei do Pegu.
(caricatura publicada no blogue Memórias de Araduca)
"Primeiro cavaleiro do seu tempo, José Martins de Queirós Minotes, arranca palmas entusiasmadas do próprio Rei, entrando a galope na história desta Casa, à desfilada, nos seus maravilhosos cavalos, magnìficamente ensinados.
Dizia o Rei D. Luís que como ele não tinha havido outro depois do Marquês de Marialva.
Laços e taças cobrem os armários da Casa.”
Maria Adelaide Pereira de Moraes, em "Velhas Casas de Guimarães"
José Martins de Queirós Montenegro nasceu em Guimarães no dia 14 de Março de 1841. Foi Fidalgo da Casa Real e Senhor da Casa de Minotes. Por essa razão ficou conhecido por José Minotes.
Foi uma das personalidades mais notáveis de Guimarães no século XIX, a par dos seus parentes Martins Sarmento, Francisco Agra e Luís Martins da Costa Macedo (Conde de Margaride).
Desempenhou vários cargos políticos, entre os quais o de Procurador (por Guimarães) à Junta Geral do Distrito de Braga. Foi no desempenho dessas funções que, juntamente com o Conde de Margaride e o Dr Joaquim de Meira, tomou parte no célebre Conflito Brácaro-Vimaranense.
José Minotes foi também criador de cavalos e um apaixonado pela arte de bem-cavalgar. Organizou inúmeras corridas de cavalos, tendo ficado famosos os carrocéis da sua Quinta do Salgueiral. Foi premiado por várias vezes nas corridas em que participou.
Na Revista de Guimarães publicou, entre 1886 e 1895, uma série de “Estudos sobre o Turf” (corridas de cavalos).
Foi fundador da Associação dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, e seu primeiro Comandante (1877-1886).
José Minotes faleceu a 15 de Setembro de 1906.
Postumamente, Damião Vellozo Ferreira publicou um livro sobre José Minotes, com o título “José Martins de Queiroz Montenegro (Minotes), o Último Cavaleiro Português. Estudos sobre o Turf”, em que trata da origem dos Minotes, das suas ligações matrimoniais à nobreza do Norte de Portugal, e do ambiente social de Guimarães nos séculos XVIII e XIX.
O Vitória Sport Clube decidiu atribuir o nome de José Minotes ao seu primeiro campo de futebol, inaugurado no dia 27 de Janeiro de 1924, nos terrenos onde se encontra hoje a sede da AMAVE, junto ao local onde confluem a Avenida General Humberto Delgado, a Rua Joaquim de Meira e a Rua Capitão Alfredo Guimarães.
Fernão Rinada
FONTES DE PESQUISA:
“O conflito brácaro-vimaranense” (no blogue "Memórias de Araduca")
"Velhas Casas de Guimarães", de Maria Adelaide Pereira de Moraes
Bombeiros Voluntários de Guimarães (no sítio da internet dos BVG)
“José Martins de Queiroz Montenegro (Minotes), o Último Cavaleiro Português”
Rodrigo Navarro de Andrade nasceu em Guimarães, a 2 de Julho de 1765.
Rodrigo fazia parte de uma família tradicional vimaranense - os Navarro de Andrade. Segundo o Padre António Caldas, os Navarro de Andrade eram uma “ilustre família, que contava no seu grémio sete doutores de capelo!”. Quatro deles foram militares condecorados durante a Guerra Peninsular, contra Napoleão Bonaparte. Um desses heróis foi Rodrigo. Oficial de Caçadores, sofreu ferimentos em vários combates e foi condecorado com a Cruz de Ouro da Guerra Peninsular. É descrito pelo Padre António Caldas como um dos vimaranenses Notáveis em Armas. Passou à reserva como Tenente-Coronel, na Convenção de Évora-Monte (1834).
O seu irmão Vicente (Barão de Inhomirim), foi médico do Rei Dom Pedro I e, mais tarde, Professor da Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.
Rodrigo Navarro de Andrade foi Governador do Castelo de Vila do Conde. Mais tarde viria a ser o Enviado-Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Império do Brasil na Corte de Viena de Áustria, Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, Senhor do Castelo de Raabs an der Thaya (Áustria), Comendador da Ordem de Santo Estevão (Itália), Cavaleiro da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro (Itália), e ainda Comendador e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi o 1º Barão de Vila Seca.
Rodrigo Navarro de Andrade morreu em Viena, a 22 de Fevereiro de 1839.
A cidade de Guimarães deu o nome desta família ao largo de onde saem três artérias - a Rua de Santo António , a Rua de Gil Vicente e a Avenida General Humberto Delgado (mais comummente conhecida por "Palheiros").
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
As Gravuras de O Tempo Tão Suspirado - Rodrigo Navarro de Andrade
"Esse José Sampaio, de olhar melancólico, testa alva e altíssima, donde saíam abundantes cabelos de ébano, com o rosto ornado de fina e formosa barba negra, (…) era dotado de uma clara inteligência e de um espírito muito ponderado."
Augusto Pinto Osório (Pedro Eurico)
José da Cunha Sampaio nasceu em Guimarães, a 5 de Fevereiro de 1841.
Nove meses depois nasceu o seu único irmão - Alberto (Sampaio).
José e Alberto foram contemporâneos em Coimbra, onde estudaram Direito. José esteve suspenso durante dois anos, por ter participado na agressão a um caloiro. Cumprido o castigo, em 1861 retomou os seus estudos universitários. Juntamente com outras figuras da altura (nomeadamente Antero de Quental e Eça de Queirós), os dois irmãos integraram uma sociedade secreta que tinha o intuito de derrubar o então Reitor. O regime disciplinar austero e implacável a que ele obrigava toda a Academia, e que já remontava aos tempos do Marquês do Pombal, não podia ser mais tolerado, e a Sociedade do Raio tinha sido criada exactamente para lhe pôr um fim. Com alguns sucessos relativos (embora nunca tivessem chegado a conseguir a destituição do Reitor), esta sociedade acabou por se reorganizar numa outra de cariz maçónico - a Loja Reforma -, da qual José Sampaio foi o seu primeiro Venerável Mestre. Foi membro do Conselho e Secretário-Geral da Academia Dramática. Ainda antes de concluir a sua licenciatura em 1865, José Sampaio participou no movimento de contestação académica que ficou conhecida pela Rolinada.
Regressou a Guimarães onde veio a desenvolver toda a sua actividade de Advogado.
Em 1868 casou com Maria José de Carvalho Leal e Sousa, de quem veio a ter dois filhos - António Vicente e Maria Henriqueta.
José Sampaio dedicou-se também à vitivinicultura com apreciável sucesso, a avaliar pelo grande quantidade de distinções e medalhas conquistadas pelo seu vinho (Casa Boamense), e também pela carta que na altura o seu amigo Antero de Quental lhe escreveu...
"Já libei os teus néctares minhotos. Como originalidade ponho o clarete acima de tudo : criaste nele um tipo. Ao seco acho-o seco de mais e, no género fino, prefiro-lhe o bastardo. O outro, que não traz nome, também me agrada. Em conclusão : como tipo ponho o clarete em 1º lugar e ponho em último o seco - que ainda se bebe com gosto. De tudo vou libando e degustando, mas não segundo o teu programa, que parecia feito para uma mesa de epicurista ! Ora a minha é monacal."
Sobre a sua actividade profissional, destaca-se o papel relevante que desempenhou no caso do Juíz Seco. Já a título póstumo, Domingos Leite Castro escreveu assim na Revista de Guimarães (em 1900)...
"A grande glória do artista, do profissional, é ser exímio na sua arte, na sua profissão; essa glória teve-a José Sampaio, dizem os entendidos, dizem todos aqueles que uma vez lhe entregaram os seus interesses ou a sua honra."
José Sampaio foi um dos fundadores da Sociedade Martins Sarmento e seu primeiro Presidente (1881-1883). Foi reeleito por mais duas vezes (1885-1887 e 1896-1898).
Foi instituído irmão da Ordem Terceira de S. Francisco, por serviços prestados (1885), irmão da Ordem de S. Torquato (1894) e nomeado membro do Definitório da Santa Casa da Misericórdia (1899).
José da Cunha Sampaio morreu no dia 15 de Setembro de 1899.
"... na muita agitada e já longa vida desta sociedade quer nos dias calmos e felizes quer nos momentos excitados de atribuladoras dificuldades, era a palavra quente e amiga do Dr. José Sampaio que sempre em primeiro lugar se fazia ouvir nesta casa ou a festejar-lhe os triumphos e as alegrias ou a encorajá-la nas horas tristes dos desalentos."
excerto da Acta da sessão extraordinária da Sociedade Martins Sarmento (15 Setembro 1899)
O nome de José Sampaio foi atribuído a uma das três ruas que ligam entre si as Avenidas Alberto Sampaio e Cónego Gaspar Estaço. A Rua Doutor José Sampaio é a que fica mais a Sul, e a maior dessas três (as outras duas são a Rua Abade de Tagilde e a Rua Palácio da Justiça).
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
UM OLHAR SOBRE JOSÉ SAMPAIO, Exposição Bio-biblo-iconográfica
José Sampaio, da Sociedade do Raio à Loja Reforma (Memórias de Araduca)
A Questão do Seco (Memórias de Araduca)
"Artista, professor e homem, foi um carácter monolítico a circular por caminhos deste mundo, com o seu gigantismo e seu chapeirão braguês. A altura ocultou-lhe as baixezas da vida e a aba do chapeirão defendeu-lhe os olhos de fáceis deslumbramentos."
Fidelino Figueiredo (1964)
Abel de Vasconcelos Cardozo nasceu em Guimarães, a 10 de Fevereiro de 1877.
Notabilizou-se na pintura, sendo autor dos mais belos retratos a óleo das personalidades vimaranenses do seu tempo.
Grande parte deste espólio pode ser visto na Sociedade Martins Sarmento.
Fez o curso de Pintura, Escultura e Arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto, onde foi discípulo de Marques de Oliveira, João Correia, Marques Guimarães e António Sardinha.
Em 1896 foi estudar para Paris, tendo sido admitido, por concurso, na École Nationale de Beaux Arts. Aí se veio a tornar discípulo de Jean-Léon Gérôme, depois de um estágio na Académie Julien, onde teve como Mestres os pintores Benjamin Costant e Jean-Paul Laurens. Foi colega de outro notável pintor português - António Carneiro.
A falta de meios para se poder manter no meio parisiense levou-o, em 1898, a tentar a sua sorte no Brasil. A sua aventura em terras de Vera Cruz terminou de forma abrupta, no final desse mesmo ano, vítima que foi de uma grave doença. Regressou a Guimarães, onde abriu um curso particular de Desenho e Pintura, e onde continuou a trabalhar como retratista e paisagista.
Em 1904 foi admitido como Professor provisório da Escola Industrial da cidade, onde se viria a efectivar no ano de 1908. Mais tarde, viria a ser seu Director durante 16 anos.
Entre 1900 e 1926 acumulou, por várias vezes, o lugar de Professor da Cadeira de Desenho do Liceu de “Martins Sarmento”, em Guimarães.
Em 1931 transitou, a seu pedido, para a Escola de “Afonso Domingues” (Lisboa), onde se manteve até a sua aposentação, em 1947.
Passou os últimos anos da sua vida na casa que possuía na aldeia de S. Martinho de Gondomar, próxima do Rio Ave.
Abel Cardozo conquistou vários prémios ao longo da sua vida. Recebeu a 1.ª Menção Honrosa na Cadeira de Desenho Histórico da Escola de Belas Artes do Porto, foi o vencedor do Concurso da mesma Escola ao Prémio "Soares dos Reis" (prémio pecuniário de Arquitectura Civil), e foi galardoado com uma Menção Honrosa e uma Medalha de Bronze, pela Sociedade Nacional de Belas Artes, de Lisboa.
Abel Cardozo expôs as suas obras no Átrio da Misericórdia (Porto, 1923), no Salão Bobone (Lisboa, 1924), no Porto (1925), na Sociedade Martins Sarmento (Guimarães, 1926) e na Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa, 1932).
Tem a sua obra espalhada pelo país, quer em colecções particulares, quer em museus como o Museu Malhoa (Caldas da Raínha), o Museu Municipal da Figueira da Foz, o Museu da Sociedade Martins Sarmento (Guimarães), ou o Museu de Arte Contemporânea (Chiado, Lisboa). Existem ainda obras suas nas principais instituições de solidariedade da cidade de Guimarães (Santa Casa da Misericórdia, Real Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, e Venerável Ordem Terceira de São Francisco).
Foi sócio efectivo da Sociedade Martins Sarmento desde o ano de 1905, e Sócio Honorário a partir de 1957, como reconhecimento pelos valiosos serviços prestados até então, contribuindo para o enriquecimento da Secção de Arte Moderna e Contemporânea, fundada em 1936 no Museu desta instituição cultural.
Abel Cardozo morreu no dia 16 de Maio de 1964, quando estava internado num quarto particular do Hospital da Misericórdia de Guimarães.
O seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério da Atouguia.
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
“Era José de Meyra filho de um distinto médico vimaranense, o Dr. Joaquim de Meira. (…)
José revelara desde muito jovem, quando ainda aluno do liceu, marcada tendência para o desenho, chegando mais tarde a colaborar em vários periódicos, como na Nova Silva (1907) e n’ A Farsa (1909-10). Nascido em 1 de Novembro de 1887, faleceu em 30 de Outubro de 1911, apenas com 24 anos. Frequentava então o 3.º ano do curso de Medicina na Universidade de Coimbra, e só durante as férias o víamos por Guimarães. Era um rapaz de baixa estatura e ombros largos, muito aprumado, trajando correctamente, como um verdadeiro dandy, cara impecàvelmente escanhoada, um sorriso irónico a aflorar-lhe sempre aos lábios, feições expressivas e monoclo que atrevidamente assestava, tinha sempre um comentário espirituoso a fazer, uma anedota a contar, uma chalaça a propósito.
Com 18 anos de idade reunia já, num volumoso álbum, uma interessantíssima colecção de caricaturas de que era autor, retratando uma série de pessoas bem conhecidas no meio vimaranense: - artistas, fidalgos, capitalistas, médicos, jornalistas, militares, polícias, professores, clérigos, juristas, mercadores, letrados, estudantes, etc., em suma, aqueles indivíduos, de configuração e aspecto mais ou menos caricaturáveis, com quem diàriamente nos cruzávamos nas ruas da cidade, a passearem despreocupadamente, ou indo à sua vida de trabalho, atendendo fregueses ao balcão das suas casas de comércio, predicando nas igrejas ou ensinando nas aulas do local, cavaqueando à mesa dos cafés ou reunidos nas tertúlias da Tabacaria Havaneza, da Farmácia do Rodrigo Dias, da Relojoaria do Jácome, ou da loja do João Gualdino.
Essa curiosa e alegre colectânea de retratos caricaturais de figuras provincianas fizera sucesso, andava então na boca de toda a gente e todos manifestavam vivo interesse e curiosidade em a ver e apreciar, para estímulo de gargalhadas de bom humor; mas poucos a conheciam, porque o Meyra apenas mostrava o seu Álbum das Glórias aos amigos, ou a pessoas compreensivas e de certa cultura, que não se escandalizassem ao depararem com a imagem da sua vera efígie mais ou menos deformada, còmicamente exagerada nas suas linhas e características fisionómicas pelo lápis irónico e as aguarelas do irreverente caricaturista.
As imagens contidas no famoso álbum eram, na sua maior parte, comentadas e ilustradas com versos a propósito, ali lançados pelo irmão do artista, historiador, escritor e poeta Dr. João de Meira, homem de invulgaríssimo talento. (…)
Falecido o autor da interessante colectânea de desenhos humorísticos representando figuras populares de Guimarães, e morto igualmente o poeta seu colaborador, entrou na posse do curioso Álbum das Glórias o único irmão que restava vivo, o Dr. Gonçalo Meira. Finalmente, pelo falecimento recente deste último, em 13 de Abril de 1967, os seus descendentes tomaram a benemérita resolução de oferecer o valioso álbum de caricatura e poesia à Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, o qual deu entrada na Secção de Reservados nesse mesmo ano.”
Mário Cardozo
Fontes de pesquisa:
"O Dr Joaquim é uma organização completa e harmónica, psíquica e fisicamente forte: honra Guimarães como honraria terra bem maior se nela tivesse nascido."
Cónego Moreira
Joaquim José de Meira nasceu em Guimarães no dia 19 de Março de 1858.
Licenciou-se em Medicina e foi um Cirurgião de reconhecido mérito.
Foi um destacado vulto da política local, tendo sido Procurador à Junta Distrital de Braga e Presidente do Município de Guimarães. Fez parte do grupo dos entusiastas na célebre questão política de 1885, entre Guimarães e Braga (ler aqui o que foi o Conflito Brácaro-Vimaranense).
Orador e escritor, Joaquim de Meira escreveu, com Alberto Sampaio, o Relatório da Exposição Industrial de Guimarães, de 1884. Exerceu o cargo de Director da Escola Industrial Francisco de Holanda e serviu várias vezes a Sociedade Martins Sarmento, como Presidente da Direcção, tornando-se posteriormente seu Sócio-Honorário.
Joaquim de Meira foi pai do Prof João de Meira (médico e escritor) e do caricaturista José de Meyra (que morreu prematuramente, aos 24 anos, quando também ele se licenciava em Medicina). José de Meyra foi, juntamente com João de Meira, autor de uma curiosíssima colecção de caricaturas e textos humorísticos sobre figuras típicas de Guimarães, que fazem parte do espólio da Sociedade Martins Sarmento.
Joaquim de Meira morreu no dia 25 de Junho de 1931.
A cidade imortalizou o seu nome ao dá-lo à rua que vai da Avenida General Humberto Delgado à Rua Dona Teresa, junto à Colina Sagrada.
No dia seguinte ao da sua morte, o Cónego Moreira escreveu assim a seu respeito...
"Médico, tem, na sua terra larga clínica, consideração e estima, que lhe consagram os colegas a prova do seu grande valor. Político, nunca virou de bordo nem jamais se pôs à capa quando é necessário ir avante. E é tanta a confiança que nela deposita toda a família da nau que, vendo-o ao temão nunca receou submergir-se em desonroso naufrágio. Presidindo à Câmara ou interferindo na Administração Concelhia aliou sempre a uma honestidade inconcusa o maior respeito pelo interesse geral, direitos e liberdade de todos. Fala? A frase corre-lhe fácil e só vai até onde ele quer, sem entusiasmo impróprio do temperamento que possui, sem rasgos de imaginação que se não irmanam com feitios tão positivos. Escreve? É sóbria a linguagem, mas clara e incisiva, de períodos perfeitos, ideias sãs, dedução segura. O Dr Joaquim é uma organização completa e harmónica, psíquica e fisicamente forte: honra Guimarães como honraria terra bem maior se nela tivesse nascido."
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
"João de Meira (1881-1913) nasceu em Guimarães a 31 de Julho de 1881. Era filho de Joaquim José de Meira e de D. Adelaide Monteiro de Meira. O seu pai era um prestigiado médico e cirurgião, que se destacou pela sua intervenção cívica na política e na cultura locais. Seguiria as pisadas do progenitor, concluindo o curso de medicina no Porto, em 1907, com uma tese intitulada O concelho de Guimarães (Estudo de demografia e nosografia). Em 1908, concorreu a professor substituto na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde se formara, com um trabalho sobre O Parto Cesáreo. Dedicar-se-ia à docência naquela escola até à sua morte prematura, em 25 de Setembro de 1913. Ocupou a cátedra do seu mestre Maximiano de Lemos.
Luís Cardoso Martins da Costa Macedo nasceu em Guimarães, a 8 de Janeiro de 1836.
O 1º Conde de Margaride foi Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, Membro do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e Par do Reino (por Carta-Régia, de 1881).
Luís da Costa Macedo foi Governador Civil do Distrito de Braga (1871-1877) e do do Porto (1878-1879), Procurador de Guimarães na Junta Geral do Distrito de Braga (1883-1885) e Presidente do Município (1870-1878 e 1887-1892).
Bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra, foi o 9º Senhor da Casa de Margaride (S.Romão de Mesão-Frio) Foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães e Provedor da Real Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos.
Foram visita da sua Casa do Carmo, 3 Reis (Dom Luís I, Dom Carlos I e Dom Manuel II), 2 Raínhas (Dona Maria Pia e Dona Amélia), 1 Príncipe (Dom Carlos, antes de ser Rei) e 2 Infantes (Dom Augusto e Dom Afonso).
A sumptuosidade das suas recepções e a opulência das suas mesas eram tais, que tanto Ramalho Ortigão como Camilo Castelo Branco as descreveram nas suas obras (respectivamente nas "Farpas" e nas “Noites de Insónia").
Fez várias intervenções na Câmara dos Pares.
O Conde de Margaride foi um dos envolvidos nos incidentes de Braga, a 28 de Novembro de 1885, como Procurador de Guimarães à Junta Geral do Distrito, ao lado de Joaquim José de Meira e de José Minotes. Devido a uma proposta para a criação dum curso complementar de Ciências em Braga, alguns Procuradores tiveram dúvidas sobre a oportunidade da sua criação, mas principalmente sobre os seus custos, preocupados que estavam com a conjuntura económica de então. Depois de uma tentativa fracassada de fazer passar a proposta à revelia dos três representantes de Guimarães, o Procurador de Vila Verde aproveitou para manipular o povo de Braga de maneira a quase levar ao linchamento público dos vimaranenses. A turba estava de tal modo cega pelo ódio com que tinham sido tão maliciosamente envenenados, que a desgraça só não aconteceu por mero acaso.
Depois deste conflito, que ficou conhecido por "Conflito Brácaro-Vimaranense" (ler aqui), o Conde de Margaride recusou-se a voltar àquela cidade. E desde então, os bracarenses passaram a cultivar mais um ódio sem sentido (se é que há algum que o possa ter). Anualmente, durante os festejos do Carnaval, conseguiram encontrar divertimento no acto de lançar um boneco ao rio que, segundo eles, representa... o Conde de Margaride.
A respeito do Conde, escreveu-se assim no jornal “Enthusiasta”…
“O Conde de Margaride é o primeiro cidadão nas proeminências nobiliárquicas. Mas impõe-se às considerações de simpatia e de respeito dos seus patrícios, não pelo gozo das regalias da sua graduação social, mas porque foi Sua Excelência quem as conquistou pelo mérito e trabalho próprios, e esta circunstância nunca pode ser indiferente numa terra, como a nossa, em que o trabalho se considera um dos maiores títulos de glorificação social (…) Como cidadão de Guimarães, todos conhecemos que o ilustre tem prestado ao progresso e crédito da sua terra a maior dedicação.”
É ao Conde de Margaride que Guimarães deve a manutenção da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira (1887-1890).
Luís da Costa Macedo, o 1º Conde de Margaride, morreu no ano de 1919.
O seu nome foi atribuído à avenida que sempre foi a principal entrada da cidade...
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
"Não, não sou português, sou mais do que isso, sou de Guimarães! Com efeito, sou de uma pátria pequenina e sólida chamada Guimarães (...) O resto, meus velhos amigos, é a fronteira de um outro mundo.”
Novais Teixeira
Joaquim Novais Teixeira nasceu em Guimarães, a 21 de Abril de 1899.
Foi literalmente um "homem dos sete ofícios": escritor, jornalista, activista político, crítico literário e cinéfilo, programador cultural, comentador de política internacional e administrador.
Emigrou para Espanha aos 20 anos, onde frequentou o meio literário e artístico, tendo-se relacionado com grandes vultos da cultura espanhola daquela época, como eram Unamuno, Garcia Llorca, Pio Baroja, Diez Canedo, Valle-Inclán ou Luís Buñuel. Colaborou com o Presidente Manuel Azaña, e chefiou o Serviço de Imprensa Espanhola. Viveu intensamente a Guerra Civil e os textos que então publicou, constituem um dos mais notáveis contributos para o conhecimento daquele período intenso e conturbado da História de Espanha. Depois da Guerra, refugiou-se em França, impedido que foi de regressar a Portugal pelo regime Salazarista.
A invasão da França pelas tropas alemãs, acabou por o conduzir ao exílio no Brasil, onde viria a dirigir a Interamericana, serviço que apoiava a causa dos Aliados. Colaborou na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, da qual foi seu Secretário-Geral. Dedicou-se à tradução, numa actividade muito intensa durante o ano de 1927, que teve particular ressonância na edição que preparou sobre as cartas do Padre António Vieira, em 1948.
Como jornalista, Novais Teixeira foi considerado um dos maiores especialistas mundiais sobre política internacional do seu tempo. Em França, foi o representante de jornais brasileiros prestigiados, como O Globo e O Estado da São Paulo. Ficaram famosas as suas reportagens na Itália e na Suíça, e os trabalhos que publicou sobre a questão franco-árabe com reportagens na Tunísia, na Argélia e em Marrocos.
Desde cedo ligado ao cinema, Novais Teixeira foi um dos mais respeitados críticos do seu tempo. Integrou os júris de prestigiados festivais internacionais de cinema, como eram os de Cannes, Locarno e Berlim, chegando mesmo a ser Presidente da Direcção da Fédération Internationale de la Presse Cinématographique. Em 1972, colaborou na organização do Festival de Cinema de Nice, que nesse ano foi dedicado ao então jovem cinema português. Em sua homenagem, o Syndicat Français de la Critique de Cinéma instituiu o Prémio Novais Teixeira, atribuído anualmente à melhor curta-metragem.
Em 1956, quando regressava a Guimarães, depois de décadas a viver no exílio, os amigos fizeram-lhe uma sentida homenagem. Durante esse jantar, realizado no Restaurante Jordão, Novais Teixeira agradeceu-lhes, num discurso que mostrava bem a maneira muito própria como sentia a sua condição de vimaranense:
“Guimarães tem sido sempre também uma das constantes da minha vida.
Em toda a parte me dou a conhecer como homem de Guimarães e, em toda a parte, me conhecem como tal.
Quando alguém me pergunta se sou português, é do meu hábito – e da minha verdade – responder:
‘Não, não sou português, sou mais do que isso, sou de Guimarães! Com efeito, sou de uma pátria pequenina e sólida chamada Guimarães (...) O resto, meus velhos amigos, é a fronteira de um outro mundo.’
No amor pelos homens, e na defesa dos seus direitos e dignidade, não reconheço fronteiras.
Mas a minha Pátria, a Pátria que me fez vibrar, a minha Pátria autêntica e forte é a Pátria da minha infância, é Guimarães!”
Joaquim Novais Teixeira morreu em Paris, em Dezembro de 1972.
40 anos mais tarde, a Capital Europeia da Cultura, Guimarães'2012, prestou a sua homenagem a Novais Teixeira, com a realização de um documentário de Margarida Gil, intitulado "O Fantasma do Novais", sobre o legado do crítico de cinema, "num cruzamento entre o passado e o presente, entre a realidade e a ficção". A CEC'2012, prestou-lhe ainda um outro tributo, com a realização de um concurso para os novos talentos portugueses. Com as "Curtas Novais Teixeira" foi possível "aumentar o património cinematográfico referente a Guimarães e incentivar o trabalho de novos realizadores, através do estímulo da visão crítica, ficcional ou política de uma cidade na Europa contemporânea".
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
Dona Teresa nasceu em Leão, em 1080.
Filha ilegítima do Rei Afonso VI de Leão e Castela, e de Ximena Moniz, uma nobre castelhana, Dona Teresa era meia-irmã de Dona Urraca, herdeira do trono Leonês.
Em 1093, quando contava apenas 13 anos, a sua mão foi dada em casamento a um cavaleiro franco – Henrique de Borgonha. De Afonso VI recebeu, como dote de casamento, o Condado Portucalense.
Com a morte do Conde Dom Henrique, em 1112, Dona Teresa passou a governar o Condado na condição de Raínha, tendo sido reconhecida como tal por Dona Urraca de Leão e Castela, e até pelo próprio Papa. Em 1117 já assinava "Ego regina Taresia de Portugal regis Ildefonssis filia".
Em 1121 foi atacada por sua meia-irmã, conseguindo salvar o Condado Portucalense com a assinatura do Tratado de Lanhoso. Mas este ataque pôs em evidência a fragilidade do seu exército, motivo que a obrigou a procurar uma aliança estratégica, que Dona Teresa foi encontrar numa família poderosa da Galiza – os Trava.
Mera opção estratégica militar? Simples necessidade de satisfazer os seus devaneios amorosos com Fernão Peres de Trava? Ou a conjugação de ambas?
A verdade é que nunca se saberá qual terá sido ao certo o motivo que a levou a procurar abrigo debaixo da protecção da nobreza galega (simbolicamente representada na caricatura através do cálice do colar e do azul e dourado das cores da Galiza, no lenço e na capa: a Coroa apoiada num lenço galego e a Condessa sob a protecção da capa da Galiza).
Fosse qual fosse a sua verdadeira motivação, o facto é que essa aliança acabaria por lhe vir a ser fatal, pois os nobres do Condado jamais haveriam de lhe perdoar tal afronta.
A ambição desmedida do Infante Dom Afonso Henriques, entretanto armado Cavaleiro, e o descontentamento da nobreza, rapidamente se materializaram num movimento de revolta.
A 24 de Junho de 1128, travou-se a Batalha de São Mamede, onde Dom Afonso Henriques venceu Dona Teresa e Fernão Peres de Trava. Era a Primeira Tarde Portuguesa, como mais recentemente lhe veio a chamar o pintor Acácio Lino.
Depois da derrota, Dona Teresa foi confinada ao Castelo de Lanhoso, onde se acredita tenha vindo a morrer, a 11 de Novembro de 1130.
Na altura em que teve de escolher entre a vassalagem ao Reino de Leão e Castela, e a aliança ao Reino da Galiza, Dona Teresa terá seguramente optado pelo lado que melhor servia os interesses do Condado Portucalense. Mas nos 7 anos que se seguiram, Dona Teresa haveria de se perder nas suas opções estratégicas, provavelmente com o discernimento turvado pela paixão. Dona Teresa deixou de ser uma solução, para se transformar num problema que apenas se viria a resolver no Campo de batalha, em São Mamede...
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
Fotografia de estátua de Dona Teresa (em Ponte de Lima)
José Maria Fernandes Marques nasceu em Guimarães, no dia 25 de Novembro de 1939.
O orgulho de ser vimaranense levou-o a adoptar o nome artístico de "José de Guimarães".
Formou-se em Engenharia, na Academia Militar.
Estudou pintura e desenho com Teresa de Sousa e Gil Teixeira Lopes, e frequentou o curso de gravura da SCGP.
Viajou pela Europa, e em 1967 o Exército colocou-o em Angola.
Durante os 7 anos que viveu em Angola, José de Guimarães estudou etnografia e arte negra.
José de Guimarães sofreu uma grande influência dos discursos e das práticas estéticas dos anos 60, como a Pop Art.
Marcado pela arte vernácula africana, mas potenciando-a numa dimensão simultaneamente erudita e ocidental, o artista adoptou uma subtil aliança entre o humor e o drama da vida humana, desdramatizando progressivamente as suas composições para assumir, nos "motivos-séries" (Reis, Os Amantes, O Pintor e o Modelo, O Circo, Os Desportos ou Paisagens Portuguesas) a matriz cultural da pintura europeia.
Após a sua passagem por Antuérpia (em 1976), a sua obra ganhou visibilidade internacional com a série de trabalhos em que homenageou Rubens (D’Après Rubens).
Em 1978, elaborou o Alfabeto de Símbolos, que estiveram na base de muitos dos seus trabalhos seguintes.
A obra de José de Guimarães inspirou-se na tendência essencialista do espiritualismo oriental, passando a incluir estereótipos formais de outras civilizações, como a Azteca e a Japonesa, cruzando-os sempre com o contexto artístico ocidental, desde a arte primitiva ao modernismo de Pablo Picasso.
Nos anos 90, José de Guimarães viu reconhecido finalmente o seu trabalho entre nós, após as retrospectivas da Casa de Serralves (Porto) e da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa).
A partir desta altura, recebeu uma série de convites para intervir em espaços públicos, em Portugal e no estrangeiro, que culminou na exposição apresentada em 2004, na Cordoaria Nacional (Lisboa).
A partir de 1960, participou em exposições individuais e colectivas, em Portugal, Espanha, França, Bélgica e Itália.
Foi o autor da escultura "Adamastor" (1999), encomendada para celebrar o Festival dos Oceanos, no Parque das Nações.
Foi distinguido duas vezes com a medalha de bronze do Prémio Europeu de Pintura da cidade de Ostende (1978 e 1980), com o Prémio da Fundação Calouste Gulbenkian (1984) e com o 1º Prémio da 9ª Bienal de Artes Plásticas de Barcelona (1986).
José de Guimarães recebeu a medalha de Mérito Artístico da Cidade de Guimarães (1989) e foi condecorado pelo Presidente da República com a Ordem do Infante D.Henrique (1990).
Em 1994, o canal cultural de televisão ARTE, realizou um documentário da sua obra – “Je vis cette vie magnifique dans mon atelier”.
Realizou a sua primeira exposição individual, em Guimarães, na Galeria do Convívio, em 1964.
Depois de expor em todo o país (Lisboa, Porto, Coimbra, Amadora, Almansil e Açores), José de Guimarães levou o nome da sua cidade até Espanha ( La Rioja, Madrid e Barcelona), França (Paris e Rouen), Itália (Milão e Veneza), Bélgica (Antuérpia, Bruxelas, Ghent e Kruishoutem), Holanda (Amesterdão), Alemanha (Estugarda e Manheim), Suíça (Grenchen, Zurique e Basileia), Áustria (Salzburgo), Suécia (Estocolmo), Brasil (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo), Estados Unidos (Los Angeles e Chicago) e Japão (Tóquio).
As suas obras integram o espólio de todos os principais Museus de Arte Contemporânea em Portugal, e o de inúmeros museus e colecções públicas dos quatro cantos do Mundo, como são os casos de Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Angola, Israel, Macau, Coreia do Sul e Japão.
A partir do passado dia 24 de Junho, o seu nome fica fisicamente gravado na cidade, com a inauguração do Centro Internacional das Artes José de Guimarães...
Fernão Rinada
Fontes de Pesquisa
Biografia no sítio do Instituto Camões Portugal
Fim
Alma, enfim descansa
Na desesperança.
Alma, esquece e passa:
Dorme, enfim segura
Dessa última graça
Que é toda a ventura.
E à Saudade em flor
Que o teu sonho lindo
Perfumou de amor,
Diz-lhe adeus, sorrindo…
Que Ela há-de escutar-te,
Pálida, a entender-te!
E, no espanto enorme,
Sonhando envolver-te,
Triste, há-de embalar-te
– «Dorme… dorme… dorme…» –
Como a adormecer-te.
Guilherme de Faria, em "Manhã de Nevoeiro" (1927)
Guilherme de Faria nasceu no dia 6 de Outubro de 1907, em Guimarães. Em 1919 mudou-se, com a família, para Lisboa. Suicidou-se na Boca do Inferno (Cascais), com apenas 21 anos, no dia 4 de Janeiro de 1929.
Publicou sete livros de poesia: "Poemas" e "Mais Poemas" (1922), "Sombra" (1924), "Saudade Minha" (1926), "Destino" e "Manhã de Nevoeiro" (1927) e, editado postumamente, "Desencanto" (1929); também póstuma, mas organizada de acordo com as suas indicações, foi a edição da antologia "Saudade Minha (poesias escolhidas)" (1929). Publicou ainda "Oração a Santo António de Lisboa" (1926) e organizou uma "Antologia de Poesias Religiosas" (que só seria publicada em 1947).
Guilherme de Faria foi poeta e editor, correspondeu-se e relacionou-se com os mais importantes poetas e artistas portugueses da década de 20 do século passado. A sua poesia compreende-se no contexto do Neorromantismo lusitanista e habita o âmago da tradição lírica portuguesa. Poeta de um passadismo noturno, elegíaco e doce que só se realiza em diálogo com a morte redentora, Guilherme de Faria acabou por ser esquecido, devido à sua morte tão prematura, às especificidades quase anacrónicas da sua poesia e à proximidade ideológica ao Integralismo Lusitano.
José Rui Teixeira
Em 2012 será publicada a obra "Os versos de luz por escrever – Vida e Obra de Guilherme de Faria", de José Rui Teixeira, coordenador do projeto Post-scriptum, que tem como principal objetivo restituir Guilherme de Faria à história da literatura portuguesa. Nesse sentido, desde 2006, recupera documentos do espólio do poeta, reedita a sua poesia, organiza, promove e participa em iniciativas académicas e literárias que possibilitam uma reflexão consequente sobre a vida e obra de Guilherme de Faria.
José Rui Teixeira é licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, Mestre em Filosofia e Doutorado em Literatura pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Investigador do Centro de Estudos do Pensamento Português da Universidade Católica e do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É professor na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa e Director da Universidade Católica Editora – Porto.
A vida e a obra de Guilherme de Faria, foram alvo da tese de Doutoramento de José Rui Teixeira, que inclusivamente criou um blogue e um sítio sobre este poeta vimaranense.
Referências na Internet:
Guilherme de Faria (sítio oficial)
Dom Afonso Henriques terá sido, muito provavelmente, o mais ilustre de todos os ilustres vimaranenses e, quiçá, de todos os portugueses.
Não fora ele, e a determinação que teve durante toda a sua vida, e hoje estaríamos reduzidos a uma mera província espanhola, provavelmente mais pobre e atrasada do que a própria Andaluzia.
Contra tudo e contra todos, mesmo contra os do seu próprio sangue, Afonso Henriques haveria de lograr os seus intentos.
E o seu pensamento era só um - conseguir a independência do Reino de Leão.
Na sua cabeça, uma miríade de imagens onde proliferavam as de castelos e escudos, mas principalmente a imagem do território que haveria de conquistar pelo fio da espada.
Não obstante todos estes pensamentos, era a fundação de uma nova nacionalidade, a verdadeira menina dos seus olhos.
Por isso, e para isso, nunca Afonso Henriques enjeitou uma batalha durante toda a sua vida, ainda que todas as circunstâncias pudessem estar contra si.
Nunca Afonso Henriques virou a cara à luta.
Não virou quando teve de enfrentar os cinco reis mouros na batalha de Ourique, nem mesmo quando Geraldo Sem Pavor o convenceu a enfrentar uma batalha impossível – a da conquista de Badajoz.
É esta coragem e esta tenacidade que ainda hoje conseguimos encontrar nas gentes de Guimarães, orgulhosas das suas tradições e do seu passado, nunca descurando contudo a construção do seu futuro.
Conquistamos o direito de ser, durante 1 ano, uma das duas Capitais Europeias da Cultura, desiderato apenas alcançado antes, por Lisboa e Porto.
Contra todas as circunstâncias e probabilidades, contra tudo e contra todos, Guimarães, como outrora Afonso Henriques, conseguiu vencer uma batalha em que tão poucos acreditavam.
E é aqui que se encontra a prova de que foi a Guimarães e aos vimaranenses que Afonso Henriques deixou o seu legado.
Enquanto outros se entretêm a discutir o local onde nasceu, os vimaranenses demonstram diariamente serem eles os verdadeiros herdeiros do espírito guerreiro e conquistador d’El-Rei D.Afonso Henriques.
Mas não foi apenas isso que a cidade conseguiu.
Querendo ir sempre mais além, os vimaranenses fazem agora questão de mostrar aos Velhos do Restelo, aos cépticos e aos invejosos, que não foi por mero acaso que conquistamos esse direito.
Conquistamo-lo porque acima de tudo o merecemos.
A verdade é que, com um orçamento infinitamente mais pequeno do que o das outras CEC portuguesas, já estamos a dar uma verdadeira lição sobre o modo como deve ser vivida uma Capital Europeia da Cultura. Não pela força do dinheiro, mas antes pela força e pelo entusiasmo de quem quer participar activamente nesta manifestação cultural.
Guimarães não se limita a assistir. Guimarães faz questão de participar.
Fosse El-Rei ainda vivo, e estaria com toda a certeza orgulhoso do seu povo - o povo de Guimarães...
José Rialto
(caricatura publicada no blogue Humorgrafe)
Fontes de pesquisa:
Fotografia de estátua de Dom Afonso Henriques (em Guimarães)
Eduardo Manuel de Almeida Júnior nasceu em Guimarães, no dia 3 de Fevereiro de 1884.
Estudou no Colégio de S. Dâmaso (actual Convento da Costa) e licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
Eduardo de Almeida foi sempre um inconformado, o que o levou a escrever, ainda em Coimbra e em parceria com Alfredo Pimenta, um polémico folheto intitulado “Burgo Podre” (1902).
Por esta altura, Eduardo de Almeida era já um republicano convicto. Foi-o sempre.
Depois de regressar a Guimarães, veio a revelar-se um causídico extremamente competente. Um dos casos mais famosos que defendeu, e venceu, foi o de Antónia de Macedo. “Tiça” (como era mais popularmente conhecida) era acusada de triplo infanticídio, mas a brilhante defesa de Eduardo de Almeida foi tão eloquente que acabou por ser absolvida de todos os crimes de que era acusada.
Em 1909 foi para o Porto, onde abriu um escritório de advocacia com Alfredo Pimenta.
Com a instauração da República, regressou a Guimarães, onde veio a ser o primeiro Administrador do Concelho, do novo regime.
Foi Deputado por Guimarães e, mais tarde, Chefe de Gabinete do Ministro das Finanças do Governo de Bernardino Machado.
Após se ter retirado da política activa, em 1915, foi redactor-principal do jornal O Republicano e Director d’ O Povo de Guimarães (1931).
Depois de 1910, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) atravessou um longo período de crise gerado, não só pelos graves conflitos ocorridos entre a sua Direcção e a Câmara Municipal, mas essencialmente motivado por uma postura retrógrada, e ostensivamente anti-Republicana.
Só em 1921, com a nomeação de Eduardo de Almeida como Presidente da Direcção, a SMS foi capaz de recuperar o seu fulgor, reassumindo o seu papel fundamental na dinamização cultural da cidade, na defesa do património histórico, arqueológico e artístico, e de voltar a ser o principal promotor de instrução popular.
Com Eduardo de Almeida, a SMS recuperou finalmente o seu enorme prestígio, dando início a um novo ciclo que permitiu que a sociedade seja aquilo que é hoje.
Foi também nesta altura que se retomou a publicação da Revista de Guimarães.
Em 1926 terminou o seu mandato, e foi proclamado Sócio Honorário, pelos “relevantes serviços prestados”.
Voltou a ser Presidente da Direcção entre 1929 e 1931, e ainda em 1945 e 46.
Eduardo de Almeida foi um notável orador. O discurso que proferiu aquando das comemorações do centenário do nascimento de Martins Sarmento (hiperligação no final do artigo), é disso um claro exemplo.
Eduardo de Almeida foi também um escritor, tendo sido autor de algumas obras de ficção (entre elas, “A Lama”, em 1905). Colaborou com várias publicações periódicas e escreveu o seu primeiro artigo na Revista de Guimarães, em 1906. Dedicou-se aos estudos jurídicos e sociológicos. Fez investigação histórica, e publicou uma notável série de estudos dedicados à história de Guimarães.
Eduardo de Almeida morreu em 1958, estando sepultado no cemitério da Atouguia, ao lado de dois outros grandes escritores portugueses – Carlos Malheiro Dias e Raul Brandão.
Fernão Rinada
(caricatura publicada no blogue Humorgrafe)
Fontes de pesquisa:
No cinquentenário da morte de Eduardo de Almeida
Eduardo de Almeida no centenário de Martins Sarmento
“O médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe”
Abel Salazar
Abel de Lima Salazar nasceu em Guimarães, no dia 19 de Julho de 1889.
O seu pai trabalhava como secretário e bibliotecário na Sociedade Martins Sarmento, era professor de Francês na Escola Industrial Francisco de Holanda e escrevia na "Revista de Guimarães".
Abel Salazar completou a escola primária e fez parte dos estudos liceais no Seminário-Liceu, onde foi colega de Manuel Gonçalves Cerejeira, futuro Cardeal Patriarca.
Com a exclusão do Francês dos curricula escolares, a família teve de se mudar para o Porto.
Abel Salazar foi sempre um contestatário – republicano em tempo de monarquia, e democrata em tempo de ditadura. Inspirado pelo momento político, publicou com outros estudantes, um jornal escolar de pendor republicano ("O Arquivo"), que reflectia, não só os seus interesses pelos ideais revolucionários, mas também as suas aptidões artísticas, uma vez que aí desenhou caricaturas de colegas e professores.
Em 1909, matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, provavelmente por influência familiar, pois mais tarde confessaria que o seu desejo era mesmo a Engenharia Civil. Com o facto, perdeu a Engenharia e ganhou a Medicina. Obteve o seu diploma em 1915, com a apresentação da tese "Ensaio de Psicologia Filosófica", com a classificação final de vinte valores.
Com 30 anos, Abel Salazar foi nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Fundou o Instituto de Histologia e Embriologia desta Universidade. Como investigador, foi autor de vários trabalhos, criando ainda um inovador método de coloração – o método tano-férrico de Salazar.
Em 1935, foi afastado da sua cátedra e do seu laboratório, impedido de frequentar a biblioteca e proibido de ausentar-se do país (por Portaria publicada em Diário da República). A acção pedagógica de Abel Salazar sobre a mocidade universitária, tinha sido considerada uma "influência deletéria". A esse respeito, Abel Salazar escreveu...
“Além dos trabalhos científicos fiz na Universidade cursos sobre a Filosofia da Arte, conferências sobre a Filosofia, onde desenvolvi um sistema de Filosofia que acabo de constatar com satisfação ser bastante próximo da Escola de Viena. Foi o desenvolvimento deste sistema filosófico que, tendo desagradado à Ditadura e ao Catolicismo, foram a causa principal da minha revogação. Mas, como a ditadura não se podia basear nesta questão, ela torneou a questão, fazendo através da sua imprensa uma campanha de difamação, etc., após a qual me demitiu sem processo nem julgamento (…). Esclareço que nunca fui político, toda a minha vida me ocupei unicamente da actividade intelectual.”
Este afastamento da Universidade, deu mais tempo a Abel Salazar para que pudesse então iniciar uma produção artística variada, que incluiu gravura, pintura (mural, a óleo de paisagens e retratos), ilustração (da vida da mulher trabalhadora e da mulher parisiense), aguarelas, desenhos, caricaturas, escultura e cobres martelados. Grande parte da sua obra artística encontra-se hoje exposta na sua Casa-Museu, em São Mamede de Infesta.
Abel Salazar morreu em Lisboa, em 1946.
O seu elogio fúnebre foi proferido pelo Dr Eduardo dos Santos Silva…
"Inteligência deslumbradora, tudo abrangendo e tudo compreendendo; sempre numa atitude de firme tolerância, que é a única arma capaz de romper os diques que a intolerância opõe à libertação do espírito; alma de generosidade espontânea, dissipando às mãos cheias os primores da Ciência e da Arte para que todos os colham e considerem seu património; Abel Salazar é figura dum transcendente humanismo, ultrapassando o tempo e o meio em que viveu."
Fernão Rinada
(caricatura publicada no blogue Humorgrafe)
Fontes de pesquisa:
Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto
Biografia de Abel Salazar (sítio da Casa-Museu Abel Salazar)
Foi por estes dias, há 159 anos atrás, que a Raínha Dona Maria II visitou a vila de Guimarães. Uma visita que deixou a Raínha de tal maneira deslumbrada que, mais tarde, escreveu assim sobre a nossa terra e a sua gente...
“Querendo eu também dar, aos habitantes de tão nobre povoação, um testemunho autêntico do distinto apreço em que tenho a sua honrada e habitual dedicação à cultura das artes e trabalhos úteis, por mim presenciados na ocasião da minha visita às províncias do norte: hei por bem elevar a Vila de Guimarães à categoria de Cidade com a denominação de Cidade de Guimarães, e me praz que nesta qualidade goze de todas as prerrogativas, liberdades e franquezas que direitamente lhe pertencerem.”
E foi assim que no mês seguinte a esta visita, a 22 de Junho de 1853, a Raínha Dona Maria II assinou a carta régia que mandava cumprir o decreto de elevação de Guimarães a cidade.
Para comemorar o aniversário da visita que tanto impressionou Dona Maria II, nada melhor do que publicar a caricatura daquela que foi a fundadora de Guimarães - a Condessa Mumadona Dias.
Mumadona Dias era filha do Conde Diogo Fernandes e da Condessa Onega Dulcides, bisneta de Vimara Peres e tia do Rei Ramiro II de Leão.
Esta galega governou o primeiro Condado Portucalense, inicialmente com o seu marido – o Conde Hermenigildo Gonçalves –, e sozinha, após a sua morte em 928.
Dos seus 6 filhos, foi a Gonçalo I Mendes que coube a honra de herdar o Condado das mãos de sua mãe.
Mumadona Dias foi a fundadora da vila de Guimarães, ao sediar na sua herdade de Vimaranes, um mosteiro em honra a Santa Maria.
Para defender o Mosteiro de Santa Maria dos ataques dos Normandos, a Condessa Mumadona ordenou então a construção de um castelo, à volta do qual foi crescendo a Vila de Cima (ou Vila do Castelo).
“laboravimus castellum quod vocitant sanetum mames in locum predictum alpe latito quod est super huius monasterio constructum et post defensaculo huius sancto cenobio concedimus cum fratribus et sororibus in ipso monasterio persistentibus…”
A referência é clara, e dá conta da necessidade de defender o mosteiro recém-edificado.
O castelo por sua vez erguia-se no local previsto – “alpe latito”, o Monte Latito.
Foi aqui que então se instalou a sede da corte dos Condes de Portucale.
Mumadona Dias morreu em 968, com 68 anos de idade…
Fernão Rinada
Fontes de pesquisa:
Nos 150 anos da elevação a cidade, em Memórias de Araduca
Mumadona Dias, no sítio do Paço dos Duques de Bragança
Fotografia de estátua da Condessa Mumadona Dias (em Guimarães)
Joaquim António dos Santos Simões nasceu em Penela, em 12 de Agosto de 1923.
Foi, durante toda a sua vida, um grande dinamizador cultural.
Por volta dos seus vinte anos, iniciou-se no teatro e no associativismo académico. Colaborou na reconstituição da Filarmónica de Espinhal.
Foi também nesta altura que iniciou a sua intervenção política, participando no movimento estudantil de então, e escrevendo no Diário de Coimbra sob o pseudónimo de Argos.
Licenciou-se em Ciências Matemáticas e Engenharia Geográfica.
Foi Director, encenador, ensaiador e actor, no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra.
Em 1948, apoiou a candidatura do General Norton de Matos, à Presidência da República.
Aos 34 anos, Santos Simões veio para Guimarães, para leccionar Matemática.
Foi fundador e dinamizador do Círculo de Arte e Recreio, do Cineclube de Guimarães, do Teatro de Ensaio Raul Brandão, da Cercigui e do Infantário Nuno Simões.
A sua intervenção política de esquerda fez com que acabasse por ser preso, em 1968, pela PIDE. Desde então, e até ao 25 de Abril, não mais o Estado Novo lhe permitiu que voltasse a leccionar.
Foi candidato pelo CDE à Assembleia Nacional, pelo círculo de Braga.
Após a revolução, participou na fundação de um novo partido de esquerda – o MDP/CDE –, integrando os seus órgãos directivos nacionais. O seu nome chegou mesmo a ser proposto para Governador Civil e para a pasta de Ministro da Educação, mas António Spínola recusou-o pelo facto de ser comunista.
Escreveu livros de intervenção política, mas também escreveu algumas peças de teatro.
Integrou a Comissão instaladora da Universidade do Minho e, em 1986, foi nomeado para o seu Senado.
Foi Presidente da Sociedade Martins Sarmento (a partir de 1990), tendo sido responsável pela instalação do Museu de Cultura Castreja (em Briteiros) e pela concretização da Casa de Sarmento (Centro de Estudos do Património).
Joaquim António dos Santos Simões faleceu em 2004, alguns dias depois de o seu nome ter sido atribuído à Escola Secundária de Veiga.
Embora não fosse natural de Guimarães, muito a cidade ficou a dever a Santos Simões. O panorama cultural da nossa cidade seria bem diferente sem a sua intervenção.
E nenhum outro dia poderia ser mais apropriado do que o 25 de Abril, para evocar a memória deste ilustre vimaranense…
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Depois Falamos, Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Alfredo Augusto Lopes Pimenta nasceu em Guimarães, no dia 3 de Dezembro do ano de 1882.
Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
Foi conservador do Arquivo Nacional da Torre do Tombo e, a partir de 1931, Director do Arquivo Municipal de Guimarães. Foi sócio fundador do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, e da Academia Portuguesa da História.
Alfredo Pimenta foi um político activo e muito polémico. Inicialmente anarquista, foi depois republicano, e mais tarde monárquico convicto… e “doutrinador”.
Tornou-se um acérrimo defensor do salazarismo, do fascismo e do nazismo.
Apesar da sua relação muito próxima com Salazar, nunca Alfredo Pimenta perdeu o seu sentido crítico, o que fica bem demonstrado pelas frequentes críticas que tecia ao Estado Novo, extremamente incisivas e, por vezes, até violentas.
Foi um político teórico extremamente polémico, mas foi essencialmente um notável historiador. O seu trabalho mais importante foi desenvolvido na investigação da História do período Medieval.
Alfredo Pimenta era um apaixonado pela sua cidade. Escreveu assim, acerca da nossa terra…
“Quando o pequenino, liliputiano comboio chega ao Cavalinho, desdobra-se, quase de improviso, diante dos nossos olhos, em anfiteatro, a paisagem sintética de Guimarães, - a minha querida, a minha adorada terra. Lá em cima, enegrecido do Tempo e da Saudade, o Castelo, altaneiro, vigilante, sentinela robusta e leal, é a página do Passado heróico, combativo, audaz. Cá em baixo, perto de nós, chaminés fumegantes de fábricas ruidosas são a página do futuro progressivo, transformador, e misterioso. Espalhadas na paisagem citadina, rompendo do amontoado das casas, as torres das igrejas são a página da Fé eterna. E para a esquerda, aquela mancha acinzentada, e para a direita certo convento solitário, ou, melhor, para a esquerda, a Sociedade de Martins Sarmento, e para a direita o Convento da Costa são os indicativos das preocupações intelectuais da minha terra.”
Este ilustre vimaranense era também um poeta, tendo sido autor de dois livros de poesia.
Alfredo Pimenta faleceu em 1950.
Dois anos depois da sua morte, o Arquivo Municipal passou a designar-se Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, em virtude da sua longa ligação a esta instituição, mas principalmente como reconhecimento pela sua notoriedade, enquanto historiador, político e poeta.
Foi afinal a homenagem que se impunha…
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Fernando Luís Cardoso de Meneses de Tavares e Távora nasceu no Porto, a 25 de Agosto de 1923.
Licenciou-se em Arquitectura, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1952.
Durante mais de 40 anos, Fernando Távora dedicou-se ao ensino e à formação de novos arquitectos.
Foi Presidente da Comissão Instaladora da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e membro da Comissão Instaladora da da Universidade de Coimbra e da da Universidade do Minho (em Guimarães). Deu aulas de Arquitectura na Universidade de Coimbra. Esta universidade, tal como a de Veneza, concederam-lhe o título de Doutor “Honoris causa”. Foi Comendador da Ordem de Santiago de Espada.
As obras mais importantes de Fernando Távora foram realizadas na cidade de Guimarães, que ele considerava como sendo sua. O primeiro projecto foi realizado em Creixomil – o Bairro da Santa Catarina –, quando ainda era estudante. Seguiram-se a Posto de Abastecimento do Castanheiro, o edifício da Assembleia de Guimarães, a recuperação da Pousada de Santa Marinha da Costa (que lhe deu o Prémio Nacional de Arquitectura), o Plano Geral de Urbanização de Guimarães (em conjunto com Alfredo Matos Ferreira), o restauro e reabilitação da sua Casa da Covilhã (em Fermentões), o restauro da Casa da Rua Nova (actual sede do GTL, com o qual conquistou o Prémio Europa Nostra), a reabilitação do Centro Histórico de Guimarães (Prémio Real Fundación de Toledo), a reabilitação e restauro de habitação rural em Santo Estêvão de Briteiros, o edifício da PSP e o edifício da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Minho (na cidade de Guimarães). Para além de todos os prémios já referidos, Fernando Távora foi ainda distinguido com o primeiro prémio de Arquitectura da Fundação Calouste Gulbenkian e o Prémio Turismo e Património 85.
Foi por esta ligação afectiva à nossa cidade, que se tornou sócio da Sociedade Martins Sarmento e da Muralha (Associação de Guimarães para a Defesa do Património).
O trabalho desenvolvido por Fernando Távora, principalmente aquele que esteve relacionado com a recuperação do Centro Histórico, foi da mais crucial importância para o reconhecimento da UNESCO e para a sua classificação como Património Mundial.
Em boa verdade, se hoje estamos a celebrar a Capital Europeia da Cultura, em Guimarães, foi em grande parte graças à acção de Fernando Távora.
A importância dos serviços por si prestados, foi reconhecida pela autarquia em 2003, altura em que, muito justamente, lhe foi concedida a Medalha de Ouro da Cidade de Guimarães.
O seu amor pela cidade levou-o a passar muito do seu tempo na Casa da Covilhã, em Fermentões, onde de resto viria a estar em câmara ardente.
Fernando Távora faleceu em Setembro de 2005.
Em sua honra, a Ordem dos Arquitectos instituiu um Prémio anual com o seu nome, para a melhor proposta de viagem de investigação.
Foi um dos maiores vultos da Arquitectura Contemporânea Portuguesa, fundador e Mestre da chamada "Escola do Porto", que soube fazer, como ninguém, a síntese entre a arquitectura tradicional nacional (marcante na sua obra dos anos 50 e 60) e a arquitectura moderna internacional (bem presente nos seus projectos dos anos 80 e 90). Avesso a roturas, Távora foi o autor da continuidade, para quem uma obra arquitectónica tem de ser entendida no contexto do ambiente envolvente.
Como o próprio dizia…
"eu sou a arquitectura portuguesa"
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto
O Patrono do Agrupamento de Escolas de Fermentões Fernando Távora
Guimarães, entre a história e o futuro (em Memórias de Araduca)
Bernardo Valentim Moreira de Sá nasceu em Guimarães, no dia 14 de Fevereiro de 1853.
Este ilustre vimaranense notabilizou-se como músico, concertista, maestro, professor, mas principalmente como violinista.
Ao longo da sua carreira musical, participou em variadíssimas “tournées”, tanto no continente europeu como no americano, na companhia de amigos como Viana da Motta, Pablo Casals ou Harold Bauer.
Moreira de Sá foi discípulo do eminente violinista alemão Joseph Joachim. Joachim era, nessa altura, Director da Escola Superior de Música de Berlim, e foi discípulo de Schumann e de Mendelssohn.
Bernardo Moreira de Sá foi professor na Escola Normal do Porto, leccionando as disciplinas de Português, Francês, Inglês, Alemão, Matemática e Música. Chegou a Director da Escola Normal, cargo que ocupou até à data da sua morte.
Fundou sucessivamente a Sociedade de Concertos, a Sociedade de Música de Câmara, a Sociedade de Concertos "Orpheon Portuense" (a mais antiga sociedade de concertos da península Ibérica) e o Quarteto Moreira de Sá.
Fundou o Conservatório de Música do Porto, que também acabou por dirigir.
Do seu espólio literário, constam várias publicações sobre a história da Música, bem como sobre temas a ela associados. Desse espólio, destacam-se a "História da Música", a "História da Evolução Musical", e a "Teoria Matemática da Música". Esta última obra foi escrita em francês, tendo sido estudada e amplamente comentada no Congresso Internacional de Música de Paris, em finais do século XIX. Publicou ainda inúmeros manuais para o ensino, como Selectas e Dicionários de Francês, Português, Inglês e Alemão, ficando célebres as suas "Palestras Musicais".
O Rei Dom Luís pretendeu agraciá-lo com a comenda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, mas Moreira de Sá acabou por declinar esse título honorífico.
Do seu círculo de amizades, faziam parte outras eminentes personalidades do meio cultural português e mundial, como eram os casos de Charles Vidor, Leon Sachs, Claude Debussy, Maurice Ravel, Pablo Casals, Harold Bauer, Pablo Sarasate, Guilhermina Suggia, Arthur Rubinstein, Antero de Quental e D. Tomaz de Mello Breyner (Conde de Mafra).
Foi membro honorário de inúmeras sociedades culturais, como a Academia das Ciências de Portugal, a Academia Real de Málaga e a Sociedade Martins Sarmento.
Bernardo Moreira de Sá deu ainda início a uma dinastia de ilustres músicos, como foram os casos das suas netas, a pianista Helena Sá e Costa e a violoncelista Madalena Sá e Costa.
Moreira de Sá faleceu no Porto, no dia 2 de Abril de 1924.
A cidade de Guimarães prestou-lhe o seu tributo, ao dar o seu nome ao largo que liga a alameda de São Dâmaso à avenida Dom Afonso Henriques.
Em honra a este ilustre vimaranense, a Sociedade Musical de Guimarães criou a Academia de Música Valentim Moreira de Sá.
A cidade do Porto também prestou a sua homenagem a Moreira de Sá. A 20 de Maio de 1937, o vereador Dr Almeida Costa apresentou a seguinte proposta à Comissão Administrativa do Porto, que foi aprovada por unanimidade…
“O falecido Professor Bernardo Valentim Moreira de Sá, como violinista e concertista insigne, pedagogo admirável, musicólogo e publicista, erudito e sábio, e ainda pelas suas distintas e notabilíssimas qualidades de carácter e de coração, conquistou, através da sua longa vida de trabalho indefeso, entusiástico e fecundo, a simpatia respeitosa e a admiração sincera de quantos em Portugal conheceram a actividade multímoda, inquebrantável e brilhante desse homem que foi ao mesmo tempo um Artista e um Erudito, a quem a cultura nacional, e sobretudo o meio musical português ficaram devendo reconhecimento indelével, pelos serviços verdadeiramente extraordinários que lhe prestou. Nestas condições tenho a honra de submeter à apreciação de Vossas Excelências a seguinte proposta: - Que, à rua de sentido sudoeste-nordeste perpendicular às ruas de Augusto Gil e Cinco de Outubro, seja dado o nome de Moreira de Sá.”
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Ribas, uma Dinastia de músicos no Porto do século XIX
Bernardo Valentim Moreira de Sá - Biografia e Obra
“Um dia, sem sabermos bem porquê, vemo-nos impelidos por uma corrente que determina o nosso percurso.”
Alberto Sampaio
Alberto da Cunha Sampaio nasceu em Guimarães, no dia 15 de Novembro de 1841.
Estudou em Vila Nova de Famalicão, em Braga e licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra.
Em 1869, integrou a filial de Guimarães da Associação Arqueológica de Lisboa. Em 1873, foi um dos fundadores da Companhia dos Banhos de Vizela, subscrevendo, no ano seguinte, o contrato para o aproveitamento das nascentes das águas medicinais de Vizela e para a construção do estabelecimento de banhos.
Esteve intimamente ligado à fundação da Sociedade Martins Sarmento, tendo sido proclamado seu sócio honorário, em 1891.
Alberto Sampaio foi a alma mater da Grande Exposição Industrial de Guimarães (1884), promovida pela mesma Sociedade Martins Sarmento.
Tentou então enveredar por uma carreira política, apresentando-se como candidato a deputado pelo Círculo de Guimarães. No entanto, perdeu essa eleição para João Franco, com apenas 3% dos votos. Em 1892, recusou o lugar de deputado, dizendo…
"Céptico, excêntrico, cada vez mais separado do mundo, nada tenho que fazer em Lisboa, como representante de quaisquer eleitores"
Em 1887, colaborou com Oliveira Martins no Projecto de Lei de Fomento Rural.
Mas foi como historiador que Alberto Sampaio mais se notabilizou.
Foi pioneiro da história económica e social, sendo autor dos primeiros estudos de história agrária em Portugal, com a publicação do primeiro artigo da série “A propriedade e a cultura do Minho” (na Revista de Guimarães, em 1885) a que deu continuidade, mais tarde, com obras como “As vilas do Norte de Portugal”. Alberto Sampaio deu ainda um forte impulso aos estudos sobre o desenvolvimento marítimo, ao escrever textos como “O Norte marítimo” e “As Póvoas Marítimas do Norte de Portugal”.
No início de 1900, após as mortes de Martins Sarmento e do seu irmão (José Sampaio), retirou-se para a sua casa de Famalicão, onde viria a falecer em 1908, com 67 anos de idade.
Em 1923, Luís de Magalhães publicou o essencial da sua obra científica, numa colectânea em dois volumes – “Estudos Históricos e Económicos”.
A importância do trabalho desenvolvido por Alberto Sampaio foi reconhecida pela sua cidade, que resolveu atribuir o seu nome a uma das suas principais avenidas, e também ao Museu que inaugurou no ano de 1928. Alberto Sampaio tem um monumento, erigido em sua honra e memória, no largo dos Laranjais.
Braga resolveu também prestar-lhe homenagem, dando o nome de Alberto Sampaio a uma das suas escolas secundárias, e Vila Nova de Famalicão fez o mesmo em relação ao seu Arquivo Municipal.
O etnógrafo Luís Chaves disse a seu respeito que…
“foi um historiador completo. Escreveu a História com arte e imaginação”
Alberto Sampaio deu uma nova perspectiva ao modo de escrever a História. A esse respeito, escreveu Jaime de Magalhães Lima…
“Grandes individualidades puderam formar e reger grandes governos, mas só a grandeza dos povos significará e alimentará a grandeza das nações. O primeiro acto de uma nova e mais justa concepção da história nacional será libertar-nos do fetichismo das individualidades e contemplarmos as energias da grei, tal qual aprendemos na lição magnífica que Alberto Sampaio nos legou”…
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Alberto Sampaio, notas biográficas
João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco nasceu no Fundão, a 14 de Fevereiro de 1855.
João Franco foi um dos principais protagonistas da política nacional, na fase final da monarquia constitucional.
Licenciado em Direito, ocupou vários cargos na magistratura judicial (delegado do procurador régio), nas alfândegas e no Tribunal Fiscal e Aduaneiro.
Em 1884, foi eleito deputado às Cortes, pelo Círculo Eleitoral de Guimarães.
Logo após a sua chegada às Cortes, João Franco teve um papel preponderante na defesa de Guimarães, no chamado “conflito brácaro-vimaranense”.
A propósito deste conflito, deu voz às pretensões vimaranenses, propondo a desanexação de Guimarães do distrito de Braga, e sua inclusão no do Porto…
“Senhores, a rivalidade tradicional e existente entre os concelhos de Braga e de Guimarães é um facto geralmente sabido por todos ou quase todos os membros desta câmara. Essa rivalidade agravou-se, chegando ao seu maior grau de intensidade, com os acontecimentos ocorridos na cidade de Braga, no dia 28 de Novembro último (NDR: 1885), que não é preciso relatar, por sobejamente conhecidos e geralmente lamentados. Urge, pois, a adopção de um mediar, que, pondo fim ao mal-estar recíproco dos dois concelhos rivais, favoreça a indispensável harmonia entre os mesmos concelhos e os seus respectivos distritos. A desanexação do concelho de Guimarães do distrito administrativo de Braga, para de futuro ficar pertencendo ao do Porto, parece-me ser a única aconselhada como satisfazendo plenamente àquele intuito.”
Embora esta pretensão nunca tenha chegado a ser satisfeita, João Franco conseguiu pelo menos garantir que fosse concedida, a Guimarães, a autonomia administrativa.
Ocupou várias pastas ministeriais, como a da Fazenda, a das Obras Públicas, a da Instrução Pública e Belas Artes, e finalmente a pasta do Reino.
Foi João Franco quem concedeu a autonomia administrativa aos ex-distritos do arquipélago dos Açores.
Por discordâncias insanáveis com Hintze Ribeiro, abandonou o Partido Regenerador, e formou o Regenerador Liberal.
Em 1906, foi eleito por este novo partido, e chegou à Presidência do Conselho de Ministros, cargo que ocupou até Fevereiro de 1908 (três dias depois do regicídio de D.Carlos e do Príncipe Herdeiro Luís Filipe).
João Franco foi agraciado com a Grã-Cruz e a Comenda da Ordem da Torre e Espada, por serviços distintos e relevantes.
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Raul Germano Brandão nasceu no Porto, a 12 Março 1867.
Com 24 anos de idade, entrou para a Escola do Exército, dando início a uma carreira militar, aparentemente mais imposta do que propriamente desejada.
Nas suas Memórias, Raul Brandão escreveu...
“Na Escola do Exército ensinavam, no meu tempo, coisas inúteis que me deram mais trabalho a esquecer que a aprender”
Na realidade, a carreira militar não se adequava à sua natureza pacífica e contemplativa, mas a vontade do pai e o desejo de sua mãe de o ver garbosamente uniformizado, prevaleceram.
No registo das provas que prestou em 1893, no Regimento de Infantaria nº 6 (no Porto), figuram as seguintes elucidativas classificações...
“Tiro: atirador de 2ª classe; ginástica: medíocre; esgrima: medíocre”
A verdade é que foi graças ao serviço militar que conheceu a sua futura mulher quando, em 1896, Raul Brandão foi colocado no Regimento de Infantaria nº 20, em Guimarães.
A sua paixão por Maria Angelina foi de tal maneira arrebatadora que no ano seguinte já estava casado.
Durante a sua vida, manteve duas carreiras paralelas – a de militar e a de jornalista –, mas foi como escritor que o seu nome ficou conhecido para a posteridade.
A sua carreira militar levou-o a Lisboa, até que em 1912, com 45 anos de idade, se reformou no posto de Major, dando início à fase mais profícua da sua actividade literária.
Foi na Casa do Alto, em Nespereira (Guimarães), que Raul Brandão conseguiu a inspiração necessária para escrever a maior parte da sua obra.
Em 1917, escreveu aquela que é considerada a sua obra-prima – "Húmus" –, dedicada ao seu amigo Columbano Bordallo Pinheiro.
Em 1923, escreveu “Os Pescadores”, que deveria ser o primeiro de quatro volumes de uma série a que pretendia dar o nome de "A História Humilde do Povo Português". Os outros três volumes, porém ("Os Lavradores", "Os Pastores", "Os Operários"), nunca chegaram a ser escritos.
Em 1926, escreveu “As ilhas desconhecidas”, obra que na altura deu uma enorme visibilidade ao arquipélago dos Açores.
Raul Brandão faleceu em 1930, com 63 anos de idade.
Em homenagem a este escritor, a Biblioteca Municipal de Guimarães tem o seu nome…
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Humorgrafe e Memórias de Araduca)
Fontes de pesquisa:
Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento, arqueólogo e escritor, nasceu em Guimarães, no dia 9 de Março de 1833.
Estudou latim no Colégio da Lapa (no Porto) e, com apenas quinze anos, foi para Coimbra onde veio a concluir o bacharelato em Direito, tinha então 20 anos.
Das obras literárias que escreveu, salientam-se Os Lusitanos (1880), Ora Marítima (1880) e Os Argonautas (1887).
Em 1854, como Velho Nicolino que também foi, escreveu o Pregão desse ano (ver aqui).
Martins Sarmento foi o responsável pelo estudo de vários castros e citânias do Norte de Portugal, sendo o seu estudo mais relevante aquele que efectuou sobre a citânia de Briteiros e o castro de Sabroso.
Francisco Martins Sarmento tinha o sonho de fazer a descrição arqueológica de toda a região de Entre Douro e Minho, mas esse foi, no entanto, um projecto que nunca conseguiu concretizar, muito embora tenha deixado um vasto espólio constituído por milhares de páginas de notas manuscritas, onde estão registados os materiais recolhidos nas suas inúmeras expedições.
Foi igualmente importante a sua actividade como fotógrafo, iniciada em 1868. Pioneiro da fotografia de carácter científico, deixou centenas de negativos em vidro, na sua maior parte e como não podia deixar de ser, sobre arqueologia.
Em 1882, um grupo de vimaranenses ilustres, em homenagem ao sábio arqueólogo, criou a Sociedade Martins Sarmento, que estabeleceu como seu principal propósito o fomento da instrução popular, desenvolvendo desde logo uma importante acção de dinamização cultural.
Alberto Sampaio, outro ilustre vimaranense, descrevia assim o seu amigo…
“Alto, magro, de cabelos pretos retintos, a tez morena, o passo apressado, destacava-se em qualquer grupo, à primeira vista. Fisiologicamente um nervoso, falando por meias palavras, rápido e breve no discurso, como um homem que não pode desperdiçar o tempo, às vezes custava a perceber. A sua conversação usual, tocando aqui e ali a fugir, entrecortada de ditos alegres ou picantes, se carecia de atracção enlevadora, transbordava de típica graça portuguesa”
Quando, em 1875, Martins Sarmento iniciou o estudo da Citânia de Briteiros, o universo dos castros era uma incógnita e a arqueologia portuguesa dava os seus primeiros passos.
O povo é que muitas vezes não conseguia compreender a importância do seu trabalho e, na sua simplicidade, dizia (comentário registado no seu diário)…
“Em vez de gastar tanto dinheiro a tombar pedras e a revolver montes, maior proveito tiraria o Sr. Sarmento se legasse o que aqui desperdiça para que lhe fossem rezadas missas pela sua alma, quando morrer”
Martins Sarmento foi um dos pioneiros na utilização da fotografia como novo método de registo dos achados arqueológicos, substituindo assim o desenho.
As fotografias que tirou estiveram na origem da arqueologia científica em Portugal.
Aliás, a divulgação da Citânia de Briteiros está intimamente associada à fotografia. Na verdade, será através de dois álbuns fotográficos, que o arqueólogo vimaranense vai divulgar os resultados das suas pesquisas.
Correspondeu-se o sábio vimaranense com muitas das figuras mais ilustres do seu tempo, e o seu nome figura hoje em muitos tratados de arqueologia clássica.
Escrevia Alberto Sampaio a esse respeito…
“Homens distintos e vulgares, especialistas superiores ou simples amadores de arqueologia e folclore, recebia-os com urbanidade e agrado. Raro seria o forasteiro qualificado que viesse a Guimarães e o não procurasse”
É exactamente na sequência desta relação privilegiada com os seus pares que, em 1887, se realiza em Guimarães a primeira reunião científica de arqueologia, em Portugal.
Antes de morrer, em 1899, legou à Sociedade Martins Sarmento os milhares de livros da sua biblioteca, bem como todo o seu espólio científico, constituído em grande parte por peças arqueológicas.
Alberto Sampaio, que assistiu à sua morte, descreve assim os últimos momentos de Martins Sarmento…
“Regressando de Briteiros em 19 de Junho de 1899 quase saiu da carruagem para a cama. Cortado de dores que o imobilizavam numa única posição, sem palavras de lamentação ou de amargura, viu a doença aumentar dia a dia com a impassibilidade estóica dos fortes, até que em 9 de Agosto sucumbiu à hora e meia da tarde. Mas pouco antes, quando a morte se debruçava sobre a fronte a dar-lhe o beijo da eterna paz, estendendo o braço emagrecido sobre a dobra do lençol, e dispondo a mão, como se tivesse uma pena, fazia o jeito de escrever, de quem escrevia freneticamente. Que pensamentos que tanto quis e não pôde exprimir lhe revolveriam o cérebro agonizante? E assim acabou, agitado num turbilhão de ideias, sem conhecer a velhice intelectual, quem passara um quarto de século a procurar raios de luz, que iluminassem as trevas do passado”
Fernão Rinada
(caricatura publicada nos blogues Memórias de Araduca e Humorgrafe)
Fontes de pesquisa:
Francisco de Gouveia Martins Sarmento. Em Arqueo.org.
Francisco Martins Sarmento, Esboço da sua Vida e Obra científica. Mário Cardozo.
Francisco Martins Sarmento. Em Infopédia.
Escola Secundária Martins Sarmento. História e Patrono.
O pregão de 1854, pelo nicolino Francisco Martins Sarmento, em Memórias de Araduca.
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