No Grande Salão de Audiências do Senhor das Terras Mouras de Beira-Tejo – o Xeique Khadafi –, uma voz anunciava o visitante seguinte:
- Al-Míldio Çilba, antes conhecido por Milo, Senhor Regente da Cidade de Guimarães, e vassalo do Grande Xeique Khadafi.
Al-Míldio vinha reiterar a sua vassalagem, coisa que gostava de fazer com alguma frequência. Mantinha a esperança de um dia acabar por cair nas graças do Xeique e, dessa forma, conseguir finalmente fazer com ele algumas negociatas.
AMÇ – Ó Grande Xeique, Senhor absoluto de todas as Terras Mouras de Beira-Tejo e arrabaldes, venho aqui hoje, portanto prostrar-me mais uma vez a vossos pés, para vos dar conta do sucesso das nossas últimas campanhas.
XK – Só vitórias, espero eu, Milú, hum, hum – disse, meio enfadado.
AMÇ – Sim, meu Amo e Senhor. Até agora ganhamos todos os jogos que efectivamente fizemos contra o Vitória. No futebol, naquele desporto estúpido em que andam portanto todos aos saltos a atirar a bola por cima da rede, e noutro ainda mais estúpido em que passam a vida a tentar enfiar efectivamente uma bola num cesto, que ainda por cima está pendurado. Se estivesse no chão, sempre era mais fácil. Enfim... Ao todo, portanto, ganhamos cinco vezes.
XK – "Ganhamos"? Mas você não era vitoriano, ó Ilídio, hum, hum?
AMÇ – Digamos que isso é o que eu quero que os gaijos pensem...
XK – E como é que você consegue fazê-los perder os jogos, Emídio? O povo não percebe que você não está do lado deles, hum, hum?
AMÇ – Não, mas olhe que não é fácil. É que eu agora tenho uma técnica nova que efectivamente dá muito menos nas vistas. Não pago aos jogadores e assim digamos que os consigo desmotivar ainda mais, percebe? Já nem preciso de falar com eles portanto antes dos jogos. Mais acção e menos cumbersa, percebe? E assim, portanto nem a melga daquele gaijo me pode chatear.
XK – Qual gaijo, Hermínio, hum, hum?
AMÇ – Foi um gaijo que soube do que efectivamente se passou há 3 anos, quando eu disse aos jogadores que portanto o melhor para eles era virem todos para o nosso Glorioso, lembra-se?
XK – Claro que me lembro. Foi antes dum jogo da Taça, em voleibol.
AMÇ – Pois foi. Mas o pior é que efectivamente depois o gaijo foi contar isso tudo numa Assembleia Popular. Quase me entalou.
XK – E então?
AMÇ – Então, eu estava mesmo à rasca, mas depois portanto lá me consegui safar. Disse que era tudo efectivamente mentira e que o ia processar. Até jurei pela saúde dos meus filhos, eh eh eh.
XK – E o povo engoliu essa, Lucílio?
AMÇ – Com pele, caroço e tudo.
XK – Grande Ilídio!
AMÇ – Em Outubro, o gaijo ainda tentou efectivamente achingalhar-me noutra Assembleia Popular. Mas nós efectivamente soubemos que o gaijo tinha arranjado as declarações dos jogadores, que diziam que era tudo verdade, e como o Chefe da Assembleia também é dos nossos, só o deixou falar às 3 da manhã, quando já não estava quase ninguém.
XK – Grande Hercílio. Você tem tudo controlado, homem, hum, hum…
AMÇ – Aqueles gaijos são piores que uma praga. Agora querem pôr-nos a todos efectivamente na rua. Mas o Chefe da Assembleia Popular, o tal que é dos nossos, tem estado a controlar bem as coisas. Parece-me é que ele efectivamente também me quer fazer a cama. Mas já conseguiu atrasar as coisas 2 ou 3 meses. Já só faltam umas semanitas para que nós efectivamente póssamos entalá-los com a história da SAD. Vamos conseguir, e a breve precha...
XK – Você é o maior, Lucídio. Como prova do reconhecimento desta grande instituição nacional que é o Benfica, vou emprestar-lhe outra vez o Marreta-Biscaia, mas atenção, hum, hum, porque vão ter de o pôr a jogar. Contra nós é que ele nunca poderá jogar. E se tiver algum problema de saúde, nem que seja uma constipação, você manda-o logo para cá, para o nosso médico o ver. Percebeu, Almerindo, hum, hum? Você livre-se de tentar tratálo outra vez. Livre-se!...
José Rialto
(cartoon publicado no blogue Dom Afonso Henriques)
Foi mais um sonho feliz que eu tive. Começava assim...
Era o primeiro dia de casting para substituir a águia Vitória. Luís Filipe Vieira entrevistava as aves candidatas no seu próprio gabinete.
Luís Filipe Vieira – Como é que vocè se chama, hum, hum?
Emílio Macedo da Silva – Emílio… Macedo da Silva – respondeu, titubeante, de tão surpreendido que estava pelo facto de LFV não o ter reconhecido – Então, não me está a reconhecer?
LFV – Não. Não estou a ver…
EMdS – O Milo, portanto, de Guimarães…
LFV – Ah sim, claro. Milú, o gaijo de Guimarães, o homem dos “protocóis”. Sabe que você, Hercílio, hum, hum, foi o único gaijo a quem eu consegui impingir aquele protocolo. E então o que é que lhe aconteceu, homem, hum, hum? Você está todo amassado, parece que lhe passou um camião por cima…
EMdS – É dos treinos. Voar é muito difícil, sabe? Efectivamente, eu atiro-me da muralha do castelo todos os dias, e o chão tem sido demasiado duro… portanto, para a minha técnica de aterragem, e principalmente para a minha cabeça…
LFV – Pois, não deve ser fácil planar com essas asas de madeira.
EMdS – Planar não consigo. Só faço portanto o voo picado. Agora mandei pôr uns colchões cá em baixo, para que nós estêjamos mais protegidos, e a coisa tem andado melhor. Agora, aqui na Catedral, se efectivamente o meu amigo…
LFV – “Amigo”? Eh pá, o gaijo está mesmo convencido que temos uma grande amizade – pensou o Presidente do Benfica.
E EMdS continuou…
EMdS – … mandasse esticar um cabo desde a cobertura do estádio até ao relvado, então eu poderia efectivamente descer de slide. Portanto, era mais seguro para mim, percebe? E sempre me safava, digamos, de mais uma porrada de nódoas negras…
LFV – Pois, pode-se pensar nisso… mas diga-me lá, Hermínio, hum, hum, porque é que você acha que pode ser a águia certa para o lugar certo?
EMdS – Então, porque efectivamente sou benfiquista desde pequenino, e portanto porque os meus amigos sempre disseram que o meu voar tem graça.
LFV – Muito bem. E que serviços relevantes é que o Lucílio, hum, hum, já prestou a esta grande instituição nacional que é o Benfica, hum, hum?
EMdS – Ora, eu sempre teve essa preocupação, digamos, na minha cabeça. Efectivamente, o que eu mais tenho feito desde que estou em Guimarães, é prestar portanto esses serviços relevantes ao Glorioso. Aliás, essa é portanto uma das razões porque me querem pôr de lá para fora.
LFV – E cartas de recomendação, tem, hum, hum?
EMdS – Isso é que já é pior. Tenho uma, do Sandinenses, mas é pequenina. Eu portanto também queria ter uma do Vitória, mas penso que efectivamente não ma vão dar. O que eu penso que efectivamente vou ter é, digamos, a marca duma bota nos fundilhos das minhas calças. Mas portanto penso que o meu passado fala efectivamente por mim: os protocóis, a oferta digamos de grandes promessas do Vitória ao Benfica, a compra de coxos, as portas do Castelo abertas para estagiários benfiquistas, portanto as vendas de lugares cativos no D.Afonso Henriques para os adeptos do Glorioso, e a vassalagem prestada à Gloriosa Nação Benfiquista. O que é que eu efectivamente poderia fazer mais?
LFV – Bem, lá isso é verdade, Emídio. Então, e se você fosse o escolhido, hum, hum, quando é que poderia começar?
EMdS – Da maneira que as coisas estão portanto lá por cima, penso que portanto poderei começar muito muito brevemente.
LFV – E quando vier, você vem sozinho, ó Lucídio?
EMdS – Não, não. Vou trazer portanto o meu amigo Baltar porque efectivamente já lhe prometeram o lugar de Governador do Banco de Portugal. O Baltar é um contabilista no qual percebe muito da problemática da gestão de passivos, e portanto agora é efectivamente muito pretendido. E depois, portanto, também vem o senhor Paulo Pereira, que parece que já tem quase assegurada a compra dos direitos de comercialização dos pasteis de Belém, das queijadas de Sintra e das tortas de Azeitão.
LFV – Muito bem. Ficamos então com este assunto da águia Vitória resolvido…
E era assim que, de uma penada apenas, não só nos tínhamos desembaraçado do nosso problema mais complicado, como também conseguíamos liquidar todas as contas que Milo & companhia ainda pudessem ter com o Benfica.
Ele há sonhos felizes, não há?...
José Rialto
Era uma vez uma cidade chamada Guimarães, onde vivia um Regente muito vaidoso.
El-Rei Dom Afonso Henriques tinha partido com as Cruzadas para combater os infieis, e Milo tinha sido aclamado pelo Povo da cidade como o seu novo Regente.
Milo gostava de se vestir bem, mas gostava mais ainda que o admirassem e elogiassem por esse facto.
Vivia tão obcecado pela sua imagem, que facilmente caiu na lábia de um aldrabão de orelhas muito grandes, que tinha vingado na vida, vendendo rodas de carroça - um mouro conhecido por Khadafi, Mestre de Rodas de Carroça...
– Vossa Regência, hum hum, eu sei que vós gostais de andar sempre muito bem vestido. Bem vestido como ninguém, e bem o mereceis. Lá no meio das minhas rodas, descobri um tecido fantástico. O tecido é tão fantástico, hum hum, que só os mais inteligentes o conseguem ver. Com umas vestes assim, ireis poder distinguir, na vossa Corte, os mais inteligentes dos mais estúpidos.
Surpreendido pelas palavras do homem das orelhas grandes, disse:
– Mas isso é efectivamente maravilhoso. Traz-nos já, portanto, esse tecido e faz-nos as nossas roupas, para que nós póssamos ver a inteligência das pessoas que efectivamente estão ao nosso serviço.
O aldrabão das orelhas grandes tirou-lhe as medidas e, passadas umas semanas, voltou à presença do Regente Milo, dizendo-lhe:
– Aqui está, Vossa Regência, hum hum…
Milo não via nada, absolutamente nada, mas como não queria passar por estúpido, disse, como se estivesse verdadeiramente deslumbrado:
– Alá seja... Perdão, Deus seja louvado. É efectivamente maravilhoso. Eu nunca esteve… queremos dizer… nós nunca estivemos tão felizes. O brilho... E, portanto, o toque…
E então, o homem das orelhas grandes fez de conta que vestia o Regente, com gestos largos e cerimoniosos, e sempre com observações muito elogiosas.
–Que elegância, Vossa Regência, hum hum. Que inveja vão ter de vós. E a única coisa que vos peço em troca é que assineis este acordo em que vós…
Milo estava tão entusiasmado, que nem quis saber o que dizia o tal acordo. Interrompeu o aldrabão das orelhas grandes e disse:
– Sim, sim. Nós assinamos, claro que assinamos. E nem queremos, portanto, saber o que para aí escreveste. Por certo não nos irias bojardar com coisas que não fossem razoáveis. De certeza que efectivamente não terias a ousadia de nos achingalhar…
E foi assim que o Regente Milo assinou um acordo que ainda hoje ninguém sabe ao certo o que dizia, à excepção do seu novo amigo – o aldrabão das orelhas grandes.
Nos dias seguintes, na Corte, como ninguém queria passar por tolo, todos diziam que sim, que eram umas vestes deslumbrantes, e que nunca antes tinham visto algo assim.
As notícias correram céleres como o vento: o Regente tinha umas vestes que apenas os mais inteligentes eram capazes de ver.
Milo estava tão orgulhoso de si e das suas vestes, que ainda nessa mesma semana resolveu sair para se pavonear perante o seu povo.
Toda a gente fazia expressões de grande surpresa e admiração, pois embora ninguém conseguisse vislumbrar qualquer peça de roupa, a verdade é que também ninguém queria passar por estúpido, tal como havia sido largamente anunciado.
Mas, de repente, as crianças e os mais jovens, que não se preocupavam com aquilo que os outros pudessem pensar, gritaram bem alto:
– O Milo vai nu !...
O alarido parou repentinamente, cortado por um silêncio sepulcral.
Mas, ao contrário daquilo que reza o conto de Hans Christian Andersen, o povo não rebentou em gargalhadas ao perceber que tudo aquilo não passava de um enorme embuste.
Apesar de todas as evidências, ninguém quis ver a realidade.
O povo gostava mais das migalhas que o Regente lhe dava de quando em vez, e das feiras e romarias com que frequentemente lhe toldava o sentido crítico.
O povo preferia a certeza das migalhas e as falsas promessas de um futuro melhor.
Aquilo que o povo não era capaz de compreender, era que o Reino lhe podia proporcionar maior riqueza e ainda maior felicidade.
E foi por isso que, ao contrário daquilo que se passou no conto tradicional, o Regente Milo não se sentiu nem enganado pelo aldrabão das orelhas grandes, nem envergonhado pelo facto de andar nu.
As crianças foram castigadas, aos jovens foram-lhes prometidos julgamentos em praça pública, e todos continuaram a fazer de conta que eram verdadeiramente deslumbrantes as vestes que usava o Regente.
E foi assim que a vida continuou, no Reino de Guimarães, com o povo a viver "feliz" no seio da mediocridade…
José Rialto
Paulo Cunha irradiava felicidade, fazendo malabarismos com um emblema do Benfica, mantendo-o a girar continuamente na ponta do seu dedo indicador, como se de uma bola de basquetebol se tratasse. O momento justificava a felicidade, pois o Vitória tinha eliminado o Benfica, da Taça de Portugal, no seu próprio reduto. Este momento de puro deleite, foi então bruscamente interrompido pelo estrondo da porta do pavilhão que se fechava violentamente atrás do vulto que agora corria na sua direcção. Era Emílio Macedo que seguramente fugia de alguém. Esbaforido e apavorado, escondeu-se atrás de Paulo Cunha.
Paulo Cunha – Então, Presidente? Parece que viu o diabo.
Emílio Macedo – É pá, são estes gajos. Estão furiosos. Querem, portanto, obrigar-me a falar. A queixar-me das arbitragens, dos presidentes adversários, de tudo e mais alguma coisa – disse o Presidente do Vitória, ainda a tremer.
PC – E não têm razão?
EM – Ter, efectivamente até têm, mas o problema não é esse. O problema é que eu não posso, percebes? Eu tenho portanto um negócio para gerir…
PC – Não percebi!...
Foi nesta altura que Milo se apercebeu que a camisola que o Paulo trazia vestida era do Vitória. Não o reconhecendo como atleta do clube, e pensando tratar-se de mais um sócio em fúria, a sua voz que voltava a ficar trémula já quase nem se ouvia…
EM – Mas, ó senhor associado, eu já disse aos senhores que não posso falar…
PC – Calma, Presidente. Sou eu, o Paulo Cunha. Sou jogador do Vitória de…
Desconfiado, Milo disse…
EM – Jogador? Mas eu conheço todos os jogadores de futebol, e tu não…
PC – Pois, mas eu sou do basquetebol…
EM – Do basquetebol? – perguntou ainda desconfiado – Ah pois, já nem me lembrava, mas nós efectivamente também temos uma equipa de basquetebol. Portanto tu então deves ser mais um gajo daquela tropa do Fernando Sá que efectivamente tem a mania de me lixar a vida, sempre a ganhar ao Benfica…
PC – É verdade! Somos um espectáculo, não somos?
EM – Espectáculo? – Milo estava agora visivelmente irritado – Portanto, vocês dão-me é efectivamente cabo do negócio. Eu tenho portanto um negócio para gerir, sabes? E os clientes do meu hotel não és tu, nem o Fernando Sá, e muito menos os sócios do Vitória. Eu já fêz muita coisa na vida, e a vida ensinou-me que para que nós tênhamos sucesso, temos de efectivamente dar-nos bem com toda a gente, e aguentar calados mesmo que sêjamos bojardados, nós ou o Vitória. E depois, portanto, ainda temos os protocóis, e o Vitória é um clube no qual sempre soube respeitar portanto esses protocóis…
PC – Não estou a perceber. Mas então o senhor não se dói pelo Vitória? O seu lema, nas últimas eleições, não era “Sentimos Vitória”?
EM – Claro!... E efectivamente, sentimos mesmo… mas em silêncio. Em pura reflexão. Numa atitude, portanto, muito Chen…
PC – Não é Chen, Presidente. É Zen. Chen é o circo…
EM – Eu dou-te o circo. Não sou eu que efectivamente ando para aqui armado, portanto, em malabarista…
Só nesta altura é que Milo reparou que aquilo que rodava em cima do dedo de Paulo Cunha não era uma bola…
EM – Ouve lá, mas o que é que é isso? – perguntou, com a voz novamente trémula.
PC – São despojos de guerra. Conquistei este emblema no pavilhão da Luz, ao eliminar o Benfica da Taça de Portugal – completou, orgulhoso.
EM – O quê??? Outra vez??? É pá, é o que eu digo: vocês passam a vida efectivamente a lixar-me a vida. E agora? O que é que vou dizer ao meu amigo Luís Filipe? Logo agora que estávamos tão bem. Tínhamos ficado portanto tão amigos desde que lhe fiquei com aquele emplastro do Jorge Ribeiro. Até já me deixava tratá-lo por tu…
O lamento de Milo foi nesta altura interrompido pelo toque do seu telemóvel. Era Luís Filipe Vieira, que vociferava irritadíssimo…
Luís Filipe Vieira – Ó Hercílio, vocês andam a brincar comigo? Hum, hum?...
EM – O meu nome é Emílio, senhor Vieira. Mas os amigos tratam-me por Milo…
LFV – Eu quero lá saber disso! O que eu quero saber é que pouca vergonha é esta, Hercílio? Então vocês vêm aqui eliminar-nos da Taça? Hum, hum? Tu estás a brincar com esta grande instituição nacional que é o Benfica? Hum, hum? É assim que tu respeitas os protocolos? Hum, hum?
EM – Pois foi, senhor Vieira. Lamentavelmente aconteceu, mas eu já estou a tratar de apurar responsabilidades. O pior vão ser os sócios…
LFV – Eu quero lá saber de ti ou dos teus sócios. Eu quero-te é a ti, aqui, amanhã de manhã à porta do meu escritório…
EM – Mas…
LFV – Às nove em ponto, sem falta! Vais ter de me compensar disto dalguma maneira, e eu até já estive a pensar que tenho para aqui o Balboa e o Zoro encalhados, e o Jesus também já me disse que não desgosta do Nilson e do Bruno Teles…
José Rialto
(cartoon publicado no Depois Falamos)
"É pois de saber que este fidalgo, nos intervalos que tinha de ócio (que eram os mais do ano), se dava a ler livros de cavalaria, com tanta afeição e gosto, que se esqueceu quase de todo o exercício da caça, e até da administração dos seus bens (...) tanto naquelas leituras se enfrascou, que as noites se lhe passavam a ler desde o sol-posto até à alvorada, e os dias, desde o amanhecer até ao fim da tarde. E assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo"
em D.Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra
Muito se tem discutido sobre as causas que levaram ao intrigante comportamento de Luís Filipe Vieira.
A teoria mais recente, defende a tese de que as causas que lhe estão subjacentes são muito mais antigas do que aquelas que foram explicadas num artigo anterior (ver Dom Quixote de la Mancha…).
Segundo esta nova teoria, a história de presidente do Benfica também é muito semelhante à de Dom Quixote, mas de um modo diferente. A Luís Filipe Vieira, aquilo que lhe terá tirado o pouco tino que ainda tinha, terão sido outras leituras que não as de livros de cavalaria. O que o terá feito perder de vez o seu já parco juízo terá sido a leitura compulsiva dos pasquins desportivos, míopes, subservientes e sabujos, que intoxicam a nossa praça. A isto, acrescerão ainda as longas e penosas horas de autêntica lavagem ao cérebro, perpetradas pelo canal do clube.
Em boa verdade, não seria fácil sobreviver com sanidade a tanta intoxicação, pelo que outra coisa não se poderia esperar que não fosse a mais completa perda de ligação à realidade…
Depois de anos seguidos a vender autêntica banha da cobra aos sócios, prometendo-lhes equipas de sonho, capazes de limpar campeonatos nacionais e de arrasar ligas dos campeões, iludindo-os com a ideia de que a nação benfiquista era quase maior do que a própria nação portuguesa, e de que o clube iria crescer rapidamente até uns inigualáveis 300 mil sócios (em 2006 !!!), este Cavaleiro das Figuras Tristes perdeu a noção da sua real dimensão e até da importância relativa do futebol.
Os delírios megalómanos desta cópia barata de Dom Quixote de la Mancha, já lhe permitiu arrogar-se ao direito de exigir audiências a Ministros, demissões de Secretários de Estado, retractações públicas de Presidentes de Comissões de Arbitragem, e execuções sumárias de todos os árbitros que ousarem não lhe prestar pública e notória vassalagem. Chegou ao cúmulo de instruir sócios e simpatizantes a não apoiar a equipa nos jogos fora do seu estádio !!!...
Mas muito pior do que todos estes delírios de grandeza, é a importância que lhe tem sido atribuída por instituições das quais se espera outra responsabilidade e isenção, e que têm a obrigação de se dar mais ao respeito.
É uma subserviência que se constata e, acima de tudo, se lamenta…
Ao contrário da versão original, esta cópia barata de Dom Quixote não se satisfaz em declarar guerra a moinhos de vento e a rebanhos de cabras.
Este Dom Quixote, cujo desatino faz o do cavaleiro original parecer apenas uma pequena excentricidade, é bem capaz de um dia declarar guerra ao Mundo, se este tiver a ousadia de se recusar a prostrar-se a seus pés…
Povos do Mundo inteiro, tende cuidado !
Dom Quixote de la Mancha – o intrépido Cavaleiro das Figuras Tristes – renasceu e está completamente fora de si…
José Rialto
(cartoon publicado no Depois Falamos)
No início do século XVII, o castelhano Miguel de Cervantes Saavedra escreveu aquela que é hoje considerada como sendo a sua obra mais emblemática, com o título original de El ingenioso hidalgo don Quixote de la Mancha.
Don Quijote de la Mancha, como se tornou mais célebre, era ainda conhecido pelo Cavaleiro da Triste Figura.
O protagonista desta história é Dom Quixote, um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a sua sanidade mental depois de ter lido demasiados romances de cavalaria.
A partir de determinada altura, a sua insanidade acabou por o levar a convencer-se de que seria mesmo um dos heróis desses romances épicos de que tanto gostava.
Dom Quixote, tinha como seu fiel amigo e companheiro, Sancho Panza, que é definido por Miguel de Cervantes como sendo um “homem de bem, mas de pouco sal na moleirinha”.
Dom Quixote, sempre acompanhado pelo seu escudeiro, resolveu então partir à aventura, enfrentando inimigos que apenas existiam na sua imaginação perturbada.
Apesar de se tratar de meros moinhos de vento, Dom Quixote conseguia ver em cada um os seus rivais e inimigos, numa enorme e permanente alucinação.
Desde então, e até aos dias de hoje, muitas representações já foram feitas a partir da história de Dom Quixote e Sancho Pança.
As mais recentes, em Portugal, tiveram as suas estreias em Guimarães, no estádio Dom Afonso Henriques.
A primeira esteve a cargo de uma companhia de teatro de Lisboa, e teve como principais protagonistas dois artistas muito engraçados – Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus.
Neste último fim-de-semana, foi a vez de uma outra companhia (esta do Porto) apresentar nos principais papéis, Jorge Nuno Pinto da Costa e André Villas-Boas, o primeiro já há muito reconhecido como sendo um dos maiores talentos da “stand-up comedy” nacional, e o segundo que surge agora como uma enorme revelação – um verdadeiro talento emergente.
Uma característica comum a estes quatro artistas é o empenho e a dedicação que cada um tem posto nas suas representações. Uma outra, é a predilecção de todos pelo papel de Dom Quixote, o que tem feito com que se tenham revezado na interpretação do Cavaleiro da Triste Figura.
As apresentações das duas companhias de teatro foram de elevadíssima qualidade, o que não tem permitido que haja um verdadeiro consenso sobre qual das duas terá sido a melhor e mais bem conseguida.
Não há consenso sobre a melhor apresentação, nem tão pouco sobre o melhor artista.
Sendo a alucinação e o afastamento da realidade, a principal característica da personagem de Dom Quixote, não é possível apontar qual dos quatro tem sido o melhor actor, dada a excelência do desempenho de cada um.
O problema mais preocupante é que, em todos os casos, os artistas nunca mais conseguiram deixar de representar o papel de Dom Quixote, desde que o mesmo lhes coube em cena.
Aquilo que hoje mais se teme é que a experiência da interiorização da personagem tenha sido tão intensa que, tal como Dom Quixote, já não sejam capazes de distinguir mais aquilo que é a realidade daquilo que é apenas ficção…
E depois, no meio de todo este cenário quixotesco, continua impávido e sereno o nosso Manuel Machado que, ignorando os quatro Cavaleiros das Tristes Figuras, lá vai levando a água ao seu moinho...
José Rialto
post scriptum
Moinho que, sendo o nosso, cada vez assusta mais estes Cavaleiros das Tristes Figuras !
(cartoon publicado no Dom Afonso Henriques e no Depois Falamos)
(sem legendas)
(cartoon publicado no Depois Falamos, Vitória Grande, Sic Gloria Transit Mundi, Assoc Vitória Sempre, Jornal Vitória, O Último Clandestino, VIP França e TV Tuga Fórum)
(participei com este cartoon no Prémio Stuart de Desenho de Imprensa, de 2010)
Ontem, estava a olhar para o camarote presidencial e fiz uma curiosa associação de ideias, ao lembrar-me dos “cristãos-novos” do século XV.
Quando Dom Manuel I decretou a obrigatoriedade da conversão dos judeus ao cristianismo, muitos deles apenas a simularam, conseguindo desse modo ludibriar o Rei, evitando a expulsão do país e não deixando de se manter fiéis à sua religião.
Uma das formas mais simples de confirmar a efectiva conversão destes “cristãos-novos”, consistia em averiguar se os chouriços tinham passado a fazer parte da sua alimentação, uma vez que estes eram feitos com carne de porco, cujo consumo estava vedado aos judeus.
“Cristão-novo” que comesse chouriços, com certeza teria renegado o judaísmo!
O sistema era simples e parecia eficaz, não tivessem os judeus inventado as alheiras, que eram semelhantes aos chouriços, mas eram feitas com carnes de aves.
É assim, desde o início dos tempos que a necessidade aguça o engenho.
À semelhança dos “cristãos-novos”, este “amigo-novo” do senhor Presidente, também criou a sua “alheira”… sob a forma d’O Protocolo.
E o senhor Presidente, claro, continua convencido que se trata de um belo… “chouriço”.
contexto histórico
Durante a "preparação" da época 2008/2009 (se é que se lhe pode chamar isso), a Direcção do Vitória resolveu estabelecer um protocolo com o Benfica, com contornos que continuam a ser apenas do conhecimento restrito dos seus Directores.
Ao abrigo desse protocolo, o Vitória já terá perdido, pelo menos, uma das maiores promessas, oriundas das nossas escolas...
(cartoon publicado no Dom Afonso Henriques)
Antes de chegar ao Benfica, Luís Filipe Vieira foi Presidente do Alverca.
Em 2003, foi eleito como 34º Presidente da Direcção do Benfica, sucedendo a Manuel Vilarinho.
Desde então, já foi reeleito por duas vezes, encontrando-se portanto a cumprir, em 2011, o seu 3º mandato...
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